12 de maio de 2025

[RESENHA] A literatura brasileira é seca, é úmida, é árida, é caudalosa.

            Desde a civilização mais antiga, a vida humana é orquestrada pelas estações do ano.  No poético livro “bíblico de Eclesiaste”s, o autor sussurra pelos milênios que há tempo para plantar e para colher; para viver e para morrer.

            O bicho humano é selvagem desde a semente. O rasgar e suceder dos ventos, biomas e climas insculpem rachaduras em seus calcanhares. A vida engatinha pela vida.

            O Brasil — país de extensões continentais — é um prato cheio [até a borda] para os personagens literários ambientados do lado de cá do oceano (qual oceano, afinal?).

A literatura brasileira é seca, é úmida, é árida, é caudalosa.

Comecemos por Graciliano Ramos e o imortal “Vidas Secas”. A obra desliza sinuosa feito serpente pelos calcanhares ressecados de uma família sertaneja que luta pela existência no nordeste brasileiro. 

O mormaço enxugado torna a lágrima chorada apenas sal e sujeira. O menino mais velho e o menino mais novo sentem a vida amarga de perto. Infância debaixo de sol. Debaixo de deserto.

Então viajamos para o pantanal sul-mato-grossense de Manoel de Barros. Por lá, Bernardo rega o rio todas as manhãs. Ele é quase árvore. Passarinho faz ninho em sua cabeça. O horizonte úmido é esticado pela Bugrinha a cada brinquedo de palavra.

A literatura brasileira é seca, é úmida, é árida, é caudalosa.

No cerrado, várias árvores só prosperam quando são queimadas. Analogia adequada que desagua no “Grande Sertão: Veredas” do genial Guimarães Rosa. Na aridez do interior central do país, Riobaldo escancara um ambiente pouco convidativo.

Já em “O Tempo e o Vento”, Érico Veríssimo ambienta sua narrativa na geografia do Pampa, o único bioma brasileiro restrito a apenas um Estado (Rio Grande do Sul).

A literatura brasileira é seca, é úmida, é árida, é caudalosa.

A vida do brasileiro é seca, é úmida, é árida, é caudalosa. As secas e as cheias regem e oprimem, ditam o ritmo e norteiam o ciclo das encarnações. É incrível como o lapso temporal de um ser humano é influenciado pelo elemento imaterial (e divino) do tempo em seu aspecto natural.

E em seus calcanhares literários, o que há escrito?

Agradecimentos cordiais ao grande amigo (e também poeta) Deyvid W. Barreto Rosa, Engenheiro Ambiental e Civil, mestre e doutorando na área de Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, que enriqueceu as mal traçadas linhas desta crônica torta com seus saberes e sapiências de professor.

Uma nova oportunidade de conhecer a censura no Brasil

Gilberto Gil e Caetano Veloso em exílio na Europa, entre 1969 e 1972. Foto: Reprodução do site da Folha de.

LEIA MAIS

LIVE BRASILEIRA #6 – O rock underground da banda Seu Juvenal e o indie rock

1º Convidado A banda Seu Juvenal é de rock underground, formada em Minas Gerais, e oficializada em 1997, ao gravar.

LEIA MAIS

Gabriel O Pensador, sempre insatisfeito em “Matei o Presidente”

Reportagem escrita por Nathália Pandeló em outubro de 2018 e editada por Matheus Luzi   Há quem diga que o.

LEIA MAIS

Timothy James: “O Brasil tem sido um grande apoiador das minhas músicas”

Você, amantes do country americano, saiba que há um novo nome na pista: Timothy James. Nascido nos anos 1980, o.

LEIA MAIS

LIVE BRASILEIRA #4 – O dueto folk de Jonavo com Renato Teixeira e o pop

A edição do dia 2 de junho de 2022 recebeu o cantautor sul-mato-grossense Jonavo e a cantora e compositora carioca.

LEIA MAIS

O Ventania e suas ventanias – A irreverência do hippie

(Todas as imagens são reproduções de arquivos da internet) A ventania derruba árvores, derruba telhas, derruba vidas. Mas a verdade.

LEIA MAIS

“Fiz da arte um motivo para viver” – por Pedro Antônio

Quadro “Cinco Girassóis” de Pedro Antônio   Meu nome é Pedro Antônio, tenho 23 anos, e hoje eu posso afirmar que.

LEIA MAIS

Rosana Puccia dá voz a mais dois temas atípicos no mercado musical brasileiro

Em atividade discográfica desde 2016 quando apresentou o álbum “Cadê”, Rosana Puccia é, de verdade, uma colecionadora de canções atípicas,.

LEIA MAIS

[RESENHA] A literatura brasileira é seca, é úmida, é árida, é caudalosa.

            Desde a civilização mais antiga, a vida humana é orquestrada pelas estações do ano.  No poético livro “bíblico de.

LEIA MAIS

CONTO: O Operário Dedicado e O Regozijo do Aposentado (Gil Silva Freires)

Seo Leocádio era o tipo de homem totalmente estável e mantivera o mesmo emprego durante toda a vida. Se haviam.

LEIA MAIS