Nesta nova entrevista conduzida por Brendow H. Godoi, um advogado e escritor se depara com outro que tem parecidas atuações: Fred, um advogado criminalista que também é literato. O papo, que você confere a seguir, combina esses dois elementos: direito e literatura. Veja:
Brendow H. Godoi – Fred, antes de tudo, adianto para nossos leitores, que você é um advogado criminalista. Liberdade, culpa e violações legais. Como é isso para você?
Fred – Olá, como vai?
Sim, sou advogado criminalista e atuo há pelo menos 7 anos nesta área tão cativante e complexa do Direito.
Liberdade, culpa e violações – tudo isto integra a essência humana e estão entrelaçados de certa forma. Como advogado, luto pela liberdade das pessoas, o que não significa que se deve conquista-la a qualquer preço. As pessoas em geral criticam a atuação do advogado criminalista – até precisarem de um.
Brendow H. Godoi – Agora, fale um pouco do Fred sem terno e gravata. Sua idade, ocupações, lazeres e afins.
Fred – Bom, o Fred sem terno e gravata é um homem modesto e de hábitos comuns. Como todo adulto, faço terapia, pago minhas contas, me exercito, enfim, dou o melhor de mim todos os dias.
Tenho 33 anos, sou advogado e empresário. Gosto de ler, andar a cavalo, assistir filmes de 2ª Guerra, passar o dia com minha sobrinha (Ana Flor), andar pelo centro de BH sem rumo, boteco copo sujo, músicas dos anos 00 e etc.
Brendow H. Godoi – Como é sua relação com a escrita? Como concilia a literatura com a vida jurídica?
Fred – A escrita literalmente me deu tudo. Os livros são fontes inesgotáveis de conhecimento. Não é difícil conciliar a literatura à vida jurídica. Durante o expediente normal, leio coisas relacionadas ao Direito. Após às 19:00 abstraio o lado jurídico e me ocupo de leituras mais ‘’leves’’, geralmente poesias.
Brendow H. Godoi – Em que idade começou a escrever? E por que?
Fred – Comecei a escrever regularmente entre 13 – 14 anos.
Bom, sempre tive um lado digamos ‘’sensível’’ para as dores do mundo. Minha finada madrinha foi uma grande apoiadora deste hábito. Escrever é uma excelente forma de extravasar angústias e sentimentos ruins – ainda bem que descobri isto cedo.
Brendow H. Godoi – Cite três artistas que te influenciam a viver.
Fred –
Nelson Rodrigues
Belchior
Meu Pai – artista desconhecido
Brendow H. Godoi – Cite três livros que te marcaram.
Fred – “L’étranger” (Albert Camus) / “Ensaio Sobre a Cegueira” (Jose Saramago) / “Caderno H” (Mario Quintana)
Brendow H. Godoi – Todo mundo é culpado até que se prove o contrário?
Fred – Olha, a Constituição e os Manuais de Direito dizem o contrário, mas, infelizmente, na prática, o raciocínio é este. Depois de algum tempo, percebe-se que pouco importam os meios contanto que se atinja uma condenação justificável. Nisto vamos ignorando direitos e garantias fundamentais na busca incessante por uma Justiça que, muitas das vezes, presta-se apenas às estatísticas. As pessoas se tornaram “coisas” há muito e a maioria de nós têm encarado isto com uma naturalidade absurda.
Brendow H. Godoi – O que prefere: um bom livro ou um bom caso criminal?
Fred – Um bom caso criminal sempre acaba se tornando um livro não publicado.
Brendow H. Godoi – Como você classifica sua forma de escrever?
Fred – Classifico como lírico e dramático.
Brendow H. Godoi – Se a literatura salva, o que mais além dela possui este poder?
Fred – O perdão próprio.
Brendow H. Godoi – Cite um personagem literário que te marcou.
Fred – Mersault (Livro “L’etranger”)
Brendow H. Godoi – O que seria o mundo sem arte?
Fred – Imagine a Capela Sistina sem a fé em Cristo, ou o sorriso de Monalisa sem as teorias que a cercam. Seria um mundo repleto de seres movidos apenas pelo instinto.
Brendow H. Godoi – O que seria o mundo sem advogados criminalistas? Por fim, envie uma foto sua e disponibilize suas redes sociais.
Fred – Muitos questionam o caráter de um advogado criminalista e o seu ‘’dever’’ para com a verdade. Em minha defesa, posso dizer seguramente que quando ocorre alguma ilegalidade, não será o Promotor ou o Juiz quem o atenderá às tantas da noite, senão o advogado criminalista. As pessoas costumam associar o crime à conduta do advogado que, na maioria dos casos, busca apenas o justo dentro de uma acusação desproporcional. A título de exemplo, experimente ser preso injustamente, amargar meses de prisão preventiva sem motivos, e, ao final, ser absolvido graças a atuação profícua de um advogado que rebateu todas as ilegalidades processuais e acreditou piamente em sua verdade. Vou além. Imagine Jesus sendo defendido por um advogado criminalista; o quanto poderia ser feito pelo Salvador? Pilatos, que detinha jurisdição, haveria de ser responsabilizado? Seria o advogado criminalista herege? Enfim, o mundo sem advogados seria um o mesmo que negar a existência da Constituição.