(Capa do álbum)
Direto de Valparaíso (SP), a banda Igual a Ninguém está lançando seu álbum de estreia, depois de três singles e um clipe. Homônimo, o disco apresenta doze canções, algumas novas e outras um pouco mais antigas.
O álbum é o primeiro lançado pelo disco Curva, importante projeto musical que valoriza a música independente, e acima de grandes interesses comerciais. A distribuição é da Tratore.
Entre tantos gêneros que permeiam a sonoridade da banda, o Indie e o Pop Rock são mais intensos e presentes. A temática que a banda leva ao público é para “fazer a cabeça pensar”. A ideia é refletir sobre as dores que atormentam a sociedade em que vivemos.
Foi por esse e outros motivos, que o grupo vem apoiando projetos sociais. Com o clipe “Eu Vou Respirar”, os caras ajudaram entidades que prestam auxílio a moradores de rua e famílias em dificuldade de Valparaíso. O clipe ajudou na divulgação da campanha “Dar Esmola Não Ajuda”,
As faixas foram produzidas por Alexandre Soares (Selo Curva) e gravadas no True Peak Studio (Birigui/SP).
Matheus Luzi – O nome da banda é bem sugestivo, em minha opinião. E o apelo crítico ao longo das 12 faixas, reforça mais ainda essa visão.
Eduardo Vicente – O nome “Igual a Ninguém” reflete todas as nossas diferenças e ao mesmo tempo uma unidade de banda buscando algo novo. Assim como nossas músicas, que buscam uma espécie de reflexão cotidiana, trazendo um conceito de indivíduo versus coletivo com todos os nossos sentimentos e contradições. Existe a ligação entre o nome e as faixas inevitavelmente.
Matheus Luzi – Em pouco mais de dois anos de estrada, o que vocês têm aprendido, e assim, aperfeiçoado na arte que a banda leva?
Eduardo Vicente – Primeiro aprendemos que a arte nos permite evoluir como seres humanos. Utilizar o rock´n roll como canal de mensagem é uma satisfação que vale a pena, pois não há regras definitivas ou um único caminho possível na vida, e a estrada nos mostra através de experiências o quão enriquecedor pode ser nos aventurarmos por aí.
Vinícius Pereira – Penso que cada experiência nos traz uma nova descoberta. Desde um simples ensaio, quando surge alguma ideia para debatermos e colocarmos em prática, até um show em si, cada situação que passamos colabora para uma espécie de transformação que vai além do que poderíamos esperar e acaba influenciando em nossa arte. Nesse tempo de estrada, você se depara com muitas novidades, você aprende a respeitar outras artes que em muitos casos mal conhecia, e consequentemente acaba utilizando aquilo que agregou de alguma forma no seu crescimento.
Matheus Luzi – A cena independente está cada vez mais forte. A popularização e o fácil acesso a internet alinhado a mentalidade dos músicos urdenground são fortes influências desse fenômeno. Nessa reflexão, conte para nós como é ter o apoio e a assessoria do Selo Curva?
Eduardo Vicente – Sem dúvida acreditamos no independente como força motriz contra alguns monopólios de “arte comercial “. Inclusive é perceptível que hoje está havendo um caminho inverso da volta do underground e novas cenas por aí. O selo curva é essencial para o apoio de uma cena regional, pois este tipo de cooperação é o que move o underground.
Vinícius Pereira – O Selo Curva é peça fundamental para que a gente consiga fomentar a nossa cena. Correr em um movimento junto com outras bandas que também buscam mostrar suas próprias artes é motivador e gratificante, porque se estamos fazendo parte disso com outros artistas excelentes é sinal que temos nosso valor e estamos no caminho certo. Percebo uma união muito legal e um desejo de todos que fazem parte do Selo Curva em querer que cada uma das bandas consiga conquistar seu espaço. E acredito que essa união pode sim render bons resultados futuramente.
Matheus Luzi – Também voltada para essa reflexão, acho válido vocês contarem como é trabalhar com a música alternativa em cidades do interior, distantes de grandes centros?
Eduardo Vicente – Sobre o interior, é importante tentar quebrar paradigmas, pois infelizmente nossa cultura ainda é muito restrita a um determinado estilo (apesar de internet) e nossa função é abrir caminhos com mais amplitude e apresentar algo novo. Diferente dos grandes centros que é diverso em sua arte, o interior você se torna refém de algo extremamente saturado. Devemos derrubar os preconceitos e avançar como comunidade cultural.
Vinícius Pereira – Não é tarefa das mais simples trabalhar com música autoral, em especial em nossa região. Se você não faz covers, por exemplo, são poucos os lugares para tocar por aqui, pois a maioria das casas – e também do público – querem escutar aquilo que já conhecem e já gostam (o que alguns podem achar cômodo, ou até mesmo uma zona de conforto, mas a meu ver não é errado, pois todos temos nossas preferências e nossos objetivos, então faz parte). Só acho que temos que saber nos adaptar a isso e entender como podemos nos apresentar a quem ainda não nos conhece.
Ao mesmo tempo, tenho notado que estão cada vez maiores e mais frequentes os eventos voltados ao rock e outros estilos musicais em nossa região (recentemente aconteceu o Festival Pândega em Valparaíso com os Raimundos, temos o Q Festival em Araçatuba que nessa última edição trouxe Paralamas do Sucesso, em abril acontece outra edição do Furgão do Rock em Andradina, que promete ser sensacional, entre outros). Esses eventos abrem portas, trazem novidades, e a meu ver podem auxiliar muitos artistas de nossa região que estão em busca de oportunidades para mostrar trabalho.
(Foto/divulgação)
Matheus Luzi – Vocês são em cincos integrantes. O que cada um traz de sonoridade e ideias para a banda?
Vinícius Pereira – Em geral, o Dudu (Eduardo Vicente) e eu que escrevemos as letras de nossas músicas. Ricardo e Caio (guitarras) e Gabriel (bateria) trabalham mais na parte melódica. E creio que a particularidade de cada um é até um fato que influenciou no nome da banda, pois todos temos influências e estilos de enxergar a música diferentes um do outro.
O Dudu tem uma influência de certo modo contestadora e reflexiva em suas composições no que diz respeito às letras, algo que herdou do punk rock, porém com musicalidade melódica, em geral com uma linha de baixo simples, mas marcante. O Gabriel passeia por todos estilos com muita facilidade, mas notamos muito do jazz, com seus improvisos, sua velocidade e genialidade. Ricardo e Caio são dois excelentes guitarristas, criativos, habilidosos, sendo o primeiro mais influenciado talvez pelo rock clássico e punk rock e o segundo mais pela sonoridade dos anos 90. Por fim, eu (Vinícius) quando escreve busco falar sobre experiências pessoais e minha maneira de ver o mundo.
Matheus Luzi – O álbum de estreia que vocês estão lançando é fantástico. Em síntese, o que vocês diriam sobre este trabalho?
Eduardo Vicente – Foi um trabalho maravilhoso e de muito aprendizado. Nosso produtor Alexandre Soares, responsável pela criação do Selo Curva, foi sensacional com ideias que somaram neste trabalho. Algumas das composições eram antigas e ganharam vida com a participação essencial de todos. Acreditamos ter encontrado uma sonoridade original e ficamos imensamente felizes com o resultado.
Matheus Luzi – É sempre interessante perguntar a todos os artistas o que pensam sobre o novo cenário da música brasileira. O que vocês têm a refletir sobre?
Eduardo Vicente – Acho que no cenário independente há trabalhos magníficos, muito mais interessantes que o cenário comercial. Este último está defasado, infelizmente não há mais mensagem e nada mais com o mínimo de complexidade para se fazer refletir. A grande massa está aceitando qualquer coisa. Acho que a cultura brasileira de massa vem perdendo qualidade intelectual, parece que a música regrediu a uma mera decoração de festas.
Vinícius Pereira – Complementando o que pensa o Dudu, acredito que estamos chegando em um momento de transformação. Vejo que há ciclos na música e talvez seja o momento das novidades, de algo com um pouco mais de conteúdo, em especial levando em conta o cenário atual do nosso país.
(Foto/divulgação)
Matheus Luzi – Sei que é difícil evidenciar uma ou duas histórias e curiosidades apenas. Porém, se quiserem contar algumas, seria muito bom.
Vinícius Pereira – Eu acho que uma história legal é a do nosso primeiro show, que aconteceu em Campo Grande. Fomos para tocar na primeira edição de um festival de música eletrônica chamado Natureza Mística, para um público um tanto quanto peculiar (uma vez que a galera que estava no festival é a galera da rave e não do rock). Tocaríamos no domingo de manhã. No sábado anterior à noite conseguimos agendar para tocar em um pub. O lugar era bacana, mas nosso público era de 5 pessoas (acredito que toda banda já tenha passado por isso). Mas é o que dizem: rock para um ou um milhão. No domingo, tocamos no festival em um palco que eles costumam chamar nesse tipo de festa de “Chill Out”, ou seja, o palco para relaxar a descansar. Quando subimos ao palco, alguns estavam deitados dormindo, outros calminhos, mas quando começamos a tocar não teve jeito, tiveram que acordar.
Outra história curiosa é a do Festival Pândega, em Valparaíso. Estava marcado para a gente tocar antes dos Raimundos, porém por conta de alguns detalhes, a programação acabou atrasando e tivemos que tocar depois dos Raimundos. O caso foi marcante, porque não tínhamos completado 1 ano de banda direito e acabou que uma das maiores bandas da história do rock nacional “abriu” o nosso show.
Matheus Luzi – Sintam-se à vontade para falar algo que eu não perguntei e que vocês gostariam de ter dito.
Vinícius Pereira – Acho que só agradecer a oportunidade de poder falar um pouco sobre nós nessa publicação. Ficamos contentes com veículos que abrem espaço para artistas independentes de nossa região e só temos a parabenizar vocês por essa iniciativa!