12 de setembro de 2024
Álbum Entrevista Entrevistas Marcantes

[ENTREVISTA] Em novo álbum, Socorro Lira da vida musical as obras da poeta Maria Firmina dos Reis

(Capa do álbum)

 

A compositora paraibana Socorro Lira lança “Cantos à Beira-Mar”, décimo segundo álbum de carreira, com dez composições suas sobre poemas da escritora e poeta maranhense Maria Firmina dos Reis cujo centenário de morte se deu em 2017 (11/03/1822 – 11/11/1917). Nascida em São Luis, Firmina viveu e morreu em Guimarães, Maranhão, aos 95 anos.

O álbum ganha o nome do livro de poesia “Cantos à Beira-mar”, de Maria Firmina, lançado em 1871 pela própria autora que é considerada a primeira romancista brasileira, tendo antecedido Castro Alves em seu “Navio Negreiro” (1869) em dez anos, com o romance antiescravista “Úrsula” (1859) sobre a temática abolicionista. Era negra e foi também professora. Sua obra ganha cada vez mais força e visibilidade, agora, no Brasil.

O lançamento de “Cantos à Beira-mar” na forma de canção integra o primeiro ciclo do projeto “AvivaVoz” dedicado à Maria Firmina dos Reis, de autoria das escritoras paulistas Maria Valéria Rezende e Susana Ventura que assinam a pesquisa em torno das poetas brasileiras que viveram e publicaram nos séculos XVIII a XX no  Brasil e em alguns periódicos de Portugal.

No entanto, esses autores em questão não foram reconhecidas pela crítica literária da época ou ficaram esquecidas ao longo da História; e de Socorro Lira que selecionou e musicou 102 poemas de dez autoras dentre as mais de quarenta levantadas. O conteúdo será publicado em CDs, Songbook, palestras e shows. 

Norepertório, dez composições de autoria de Lira sobre poemas de Maria Firmina dos Reis, mais um poema recitado: “Ela”, “Seu Nome” e “O Meu Desejo” são alguns deles. Jorge Ribbas assina os arranjos e a direção musical e a própria Socorro assina a produção artística do álbum. A arte da capa é de Bernardita Uhart.

 

BOM SABER

Com tiragem especial de 500 exemplares físicos para colecionadores, colecionadoras e imprensa e venda exclusiva pelo sítio www.socorrolira.com.br/loja, e o CD Cantos à Beira-mar está disponível nas principais plataformas digitais.

 

SOBRE SOCORRO LIRA

(Crédito: Patricia Ribeiro)

Socorro Lira é compositora, cantora, poeta-escritora e produtora cultural. Foi premiada em 2012 e indicada em 2016 e 2017 ao Prêmio da Música Brasileira de Melhor Cantora na categoria regional. Ganhou o Troféu Cata-vento de melhor música (Pata humana pata) de 2013, da Rádio Cultura FM São Paulo. Em 1998 foi contemplada com o Prêmio Europa 98 da Associazione Senza Frontiere, de Lentate Sul – Seveso, Milão – Itália.

Em dezenove anos de carreira na música lançou treze CDs, dois EPs e um DVD. Já se apresentou em países da Europa, África, América Latina e Ásia. 

Lançou os livros “Aquarelar” (poesia, 2007) e “A Pena Secreta da Asa” (poesia, Uka Editorial, 2015), “Da perspectiva das Orquídeas” (poesia, Ed. Patuá, 2018) e “A Língua Que a Gente Fala” (infantil, Ed. IMEPH, 2018)                                         

É formada em Psicologia Social pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Estudou introdução ao violão clássico e técnica violonística no Departamento de Artes – DART da UFCG.

É idealizadora e diretora artística do Prêmio Grão de Música.

Paraibana, reside em São Paulo desde 2004.

 

Sem as obras poéticas da maranhense Maria Firmina dos Reis esse CD não existiria. Seria muito bom você falar qual e a sua relação com a literatura dessa escritora.

Até 2017 eu não sabia da existência de Maria Firmina dos Reis. Assim como não sei quem são as primeiras cineastas da História do cinema, por exemplo. Firmina existiu, elas existem, nós existimos… Mas há uma borracha que, estranhamente, apaga nossa passagem por aqui, às vezes sem deixar vestígio. Sim, não existiria esse CD sem o livro “Cantos à Beira-mar”, este lançado em 1871, por essa que é pioneira nas letras no Brasil.

 

A ideia do CD seria fruto do centenário da morte de Maria Firmina?

Foi pelo encontro que se deu por ocasião da efeméride. Maria Valéria Rezende perguntou se eu musicaria alguns poemas para cantar no Mulherio das Letras, evento que aconteceu em outubro de 2017, em João Pessoa, quando a autora foi lembrada pelo centenário de sua morte. Quando fiz as primeiras quatro canções e publiquei o EP “Seu Nome” naquele ano, vimos que era bom e que poderíamos seguir musicando também outras autoras igualmente esquecidas ou silenciadas.

 

(Ilustração de Maria Firmina dos Reis – Imagem/Internet)

 

E por que o CD tem o nome do livro “Cantos a Beira-mar”?
Acho tão bonito! Firmina foi também compositora. É o livro musicado e cantado, acho que ganha força e nossa intenção e favorecer que Firmina finalmente seja vista como precisamos vê-la e, com ela, outras que ficaram para trás mesmo tendo dado sua contribuição ao país e à humanidade.  

 

Quais são as temáticas dos poemas que fazem parte deste CD?
Firmina viveu a fase do romantismo brasileiro. O livro “Cantos à Beira-mar” é de 1871, portanto, publicado já para o final desse período literário. Ela fala de amor, de saudade, da mãe dela, da pátria, da vida e sempre de maneira muito apaixonada. Apaixonada no sentido da entrega mesmo.


Como foi musicar os poemas da autora?
Simples como se eu os tivesse escrito. Como mulher das artes me identifico com ela. Mais de um século depois, os motivos e desafios são praticamente os mesmos.

 

(Crédito: Patricia Ribeiro)

 

O que você acha que, se a autora estivesse viva, diria sobre este CD, e qual reação você imaginaria imergir dos olhos dela, caso isso acontecesse?
Queria mesmo saber. Ela deve estar numa dimensão (em termos energéticos) superior a esta, olhando e, embora não seja algo tão extraordinário, espero que ela aprove a incursão que fizemos sobre seus poemas.


Você tem alguma(s) história(s) ou curiosidades(s) interessantes(s) para nos contar?
Sobre esse tema Maria Firmina dos Reis?

Outro dia eu estava em um sarau onde os organizadores falavam do Romantismo, de Gonçalves Dias entre outros contemporâneos de Firmina. Em toda a exposição e conversa de uma hora e meia não apareceu um só nome de mulher. Perguntei se nas pesquisas deles teriam encontrado alguma autora. Disseram que não. Aí, apresentei Maria Firmina e a reunião nunca mais foi a mesma. Falei de outras autoras elencadas no projeto AvivaVOZ, a ideia que elaboramos a partir desse nosso encontro com a primeira romancista brasileira, a saber, Maria Firmina dos Reis. Se não nos contam não temos como saber, não é mesmo?

 

Fique à vontade para falar algo que eu não perguntei  e que você gostaria de ter dito.

Gostaria de acrescentar que num período de quatorze meses (de setembro de 2017 em diante) musiquei 102 poemas de dez poetas que viveram, escreveram e publicaram entre os séculos XVII a XX, no Brasil, sem que tenham tido o justo reconhecimento pelas obras, nem permanecessem na historiografia literária brasileira. A ideia é que virem CDs, livros de música (Songbooks) e afins.

 

 

 

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.