5 de novembro de 2024
Além da BR

Gênero musical cubano Guayason e música mundial ambientam sonoridade da nova canção de Tobías Alfonso & Los Monos Lácteos

Artistas: Tobías Alfonso & Los Monos Lácteos (Cuba)

Música: Meteorito

Compositor: Tobías Alfonso Menéndez

Ano de lançamento: 2023

O que é esta música, em resumo? A canção “Meteorito” pertence a um género, criado pelo cantor e compositor cubano Gerardo Alfonso, chamado Guayason. Mistura influências da música rural camponesa cubana com palos afro-cubanos da religião iorubá, uma vez que ambos orbitam em torno de uma célula ternária (três batidas) e têm uma cadência circular. O que o guayason faz é criar um ciclo em seis batidas.

O “Meteorito” é um guayason, mas é mais rápido e usa um acento de backbeat. Devido à sua velocidade, torna-se um aceno à música folclórica dos EUA e também tem influências do gospel, do country, do rock e de elementos latinos, como as tumbadoras que estão a fazer a célula do género.

É uma espécie de caldeirão de muitas coisas numa tela singular, não é um ritmo existente mas um ritmo original, onde muitos elementos estão ligados por conceitos musicais específicos.

Qual sua mensagem, sua letra? A letra desta canção fala da minha relação com o racismo subtil na sociedade cubana. Uma canção que fala da minha identidade como mestiça e de como, a partir daí, se espera que eu ignore a existência do racismo e a sua manifestação em microagressões nas conversas quotidianas, a resistência a falar sobre ele e a enfrentar as circunstâncias que este mal gera.
A canção usa simbologia bíblica e também se refere aos Versos Sencillos do nosso Apóstolo José Martí, e trata alegoricamente do racismo com estas metáforas e fala principalmente de como me sinto em relação a este conflito social e de como tenho sido isolado dos grupos sociais devido à forma como enfrento ativamente esta questão. A maior parte das pessoas que optam por ignorar esta questão não querem ser julgadas ou sentir-se parte do problema, e abordar estas questões pode gerar um momento social de confronto que nem toda a gente está disposta a enfrentar.

Há alguma história ou curiosidade sobre este lançamento? Uma história curiosa sobre o nascimento desta canção é que, como se trata de uma música relativamente nova e desconhecida dos músicos cubanos, que se regem por códigos rígidos, passei muito tempo a tentar perceber como é que a ia orquestrar com os músicos. Quando me sentei com o meu pai e lhe disse que não sabia como o fazer, ele começou a tocar piano com dois dedos muito rapidamente e disse-me: “Se não tens mais nada para pôr aqui, podes pôr isto” e quando o juntei à banda foi fundamental.

Há também um pouco de influência da batucada e do trabalho de Carlinhos Brown, um artista brasileiro, na forma como a música é instrumentada percussivamente. Há também uma ligação cultural porque o meu pai viveu no Brasil durante algum tempo, por isso foi influenciado pelo conceito de síncope na música brasileira, que também está presente na música cubana, mas de uma forma diferente.
Depois foi curioso perceber o que tinha de ser feito e como se reduzia a algo tão simples como bater no piano como semicolcheias. A curiosidade é como às vezes coisas simples resolvem um mundo.

O que este lançamento diz sobre você? Que sou um artista que leva os seus conflitos para a frente sem se incomodar com o desconforto de tocar em assuntos que são importantes e próximos das minhas lutas.

Qual a ligação desta música com a música e cultura cubana? Penso que em todas as perguntas está, de certa forma, resumido. “Meteorito” é uma canção que tem percussão no seu arranjo, ou seja, tumbadoras, cubanas, clave e miscelâneas que são usadas na música cubana e tem códigos sincopados da música cubana, do son, da rumba, de todas essas coisas, mas são utilizados de uma forma diferente da que é habitualmente utilizada na música cubana e penso que o objetivo do meu trabalho como artista é muitas vezes essa subversão e essa mudança de paradigma, e para mim o mais importante nesta canção é que soe cubana sem ter os códigos exactos da música cubana e que as pessoas a apreciem como música cubana sem que seja mais do mesmo.

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.