3 de outubro de 2024
Além da BR

Playlist “Além da BR” #138 – Sons do mundo que chegam até nós

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Somos uma revista de arte nacional, sim! No entanto, em respeito à inúmeras e valiosas sugestões que recebemos de artistas de diversas partes do mundo, criamos uma playlist chamada “Além da BR”.

Como uma forma de estende-la, nasceu essa publicação no site, que agora chega a sua 138ª edição. Neste espaço, iremos abordar alguns dos lançamentos mais interessantes da playlist.

Manuel Polin“Santo y Elegía” – (México) – [MINI ENTREVISTA]

O que diz a letra da música e qual a sua mensagem? “Santo y Elegía” é uma homenagem poética ao amor e à saudade; a música fala de esperança e fé na restauração da vida por meio da intervenção divina. Sua letra se inspira diretamente na narrativa bíblica em que Jesus ressuscita a filha de Jairo, pronunciando as palavras “Talitha Cumi”, que se traduz como “Menina, eu te digo, levanta-te” (Marcos 5:41).

A influência que o escritor mexicano Juan Rulfo teve sobre mim como artista fica evidente aqui, pois a canção propõe um diálogo entre referências bíblicas e o folclore latino-americano. No estilo do Realismo Mágico, a voz narrativa da música mistura elementos do sobrenatural com a vida cotidiana, confundindo a linha entre realidade e fantasia.

Como e por que surgiu essa música? Na época em que escrevi essa música, fiquei profundamente comovido pela necessidade de me reconectar com meu passado, minha terra natal e minha identidade cultural. Tendo me mudado do México para a Europa ainda muito jovem, fui assombrado pelas paisagens rurais em preto e branco retratadas no cinema mexicano e pelo misticismo sombrio característico da literatura mexicana de realismo mágico. Essas imagens vívidas ressurgiram continuamente em meus pensamentos, obrigando-me a criar. Assim, esta música surgiu como uma homenagem espiritual ao México que eu lembrava, um país visto pelos olhos nostálgicos dos meus avós.

Qual a ideia do videoclipe? O videoclipe serve como uma homenagem ao lendário diretor de fotografia Gabriel Figueroa, conhecido por suas sugestivas representações em preto e branco de paisagens e folclore mexicanos. Apresenta um retrato complexo da condição humana, explorando a tensão entre opostos. Este tema é representado visualmente através das imagens contrastantes do personagem principal do vídeo, mascarado e desmascarado. A narrativa é deliberadamente ambígua, confundindo os limites entre realidade e memória, e o que está sendo vivenciado versus o que está sendo lembrado.

À medida que a história se desenrola, o vídeo sugere subtilmente a morte de uma menina e de uma mulher, principalmente através de cenas ambientadas num cemitério e através de imagens generalizadas de ruínas e desolação. Esses visuais sombrios aumentam o peso emocional do vídeo, refletindo a profunda dor do personagem principal. Essa perda pessoal tem paralelo na letra da música, que alude à história bíblica da ressurreição da filha de Jairo, aprofundando ainda mais a exploração temática da vida, morte e renascimento.

O que essa música diz sobre o seu país, o México? Esta canção proporciona uma viagem espiritual, retratada em preto e branco, através dos cenários rurais que inspiraram os movimentos de vanguarda visual e literária do México do século XX.

Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você gostaria de destacar? Esta faixa é o primeiro single do meu EP de estreia “Llanto Santo”. Produzida por Noah Georgeson, cujas colaborações incluem Devendra Banhart, Rodrigo Amarante e Natalia Lafourcade, a música apresenta a profundidade temática do EP. A arte do single e do EP, criada pelo artista alemão David Herbrechter, inspira-se nas ilustrações de Gustave Doré para a “Divina Comédia” de Dante, encapsulando a essência de uma odisséia poética espiritual.

Respostas Manuel Polin

Jungaji – “River Girl” – (Austrália) –[MINI ENTREVISTA]

Como você apresentaria esta música? Acho que a ideia da letra de River Girl era que eu fosse honesto. Tento ser sincero com todas as minhas músicas e com as paisagens que atribuo a elas. Apenas descascando as camadas e não tendo muito medo de cavar as tocas de coelho dos sentimentos, das emoções, da consciência interior. Descobri que River Girl surgiu de forma muito orgânica; adoro a melodia – primeiro foi a melodia e o violão, e depois criei a letra.
É sobre os altos e baixos dos relacionamentos e sair do outro lado inteiro, acho que é uma coisa linda, que deve ser celebrada e iluminada. River Girl é sobre ter uma conversa honesta comigo mesmo e celebrar a pessoa que você ama, com quem você acorda todos os dias, em quem você se apaixona, em quem você confia. Todos esses aspectos que definem seu relacionamento, seu casamento… o que significa matrimônio. Tentei encapsular tudo isso em três minutos e meio/quatro minutos, e acho que entre mim, minha banda e minha equipe, acho que é uma boa indicação das músicas que estão por vir, especialmente quando você está vindo de um lugar de verdade. E é lindo de se cantar também.

Como esta canção surgiu, o que a inspirou? River Girl surgiu de forma extremamente orgânica, em casa, dedilhando o violão e comecei a criar diferentes melodias. Gosto de revisitar melodias historicamente, mas essa música em particular foi uma bela interseção e era exatamente como eu estava me sentindo naquele momento vulnerável – eu estava sentado assistindo à TV e comecei a cantarolar essa bela melodia e achei que soava tão bem, e quando combinamos essa bela melodia com o violão e a letra, é simplesmente mágico. E essa mágica fala muito alto quando você a ouve por qualquer meio, seja no rádio, on-line, pelo telefone, nos fones de ouvido.
Não é preciso ir muito longe para se inspirar, em termos de estar apaixonado, de apreciar o amor. Apreciar as coisas simples, como ir à praia, estar em uma montanha ou sentar-se à beira de um rio e ouvir os belos sons da água corrente é nutritivo, terapêutico, curativo e traz muitos benefícios mentais e emocionais. Particularmente para mim… quando me sento perto da água e me rejuvenesço ou em água corrente fresca – não há nada igual. É assim que essa música fala comigo e espero que fale com todo mundo, como um sopro de ar fresco, um sopro de oxigênio, e é assim que eu queria que ela fosse aceita.

O que esta música diz sobre seu país, a Austrália? Como um homem Bama/Aborígine – e minha conexão íntima com o Country, com os recursos culturais, com o ar, o vento, o oceano e tudo o que está ligado… temos uma relação simbiótica com o Wulburmor/Country, e acho que essa música simplesmente celebra – ela pode levar qualquer pessoa a qualquer momento, seja no carro indo para o trabalho ouvindo o rádio, preso no trânsito – essa música pode levá-lo a outro lugar… é isso que ela faz para mim.
Para mim, ela é rejuvenescedora e reabastecedora, é muitas coisas – para mim, ela simplesmente me tira da minha normalidade. Temos um rio em meu país, ao norte de Cairns, e o chamamos de Dawarra, onde as estrelas beijam a areia e a areia brilha. Essa água da montanha em um dia quente parece recém-saída do freezer, e é por isso que cantei a música dos rios onde as estrelas beijam a areia… Dawarra. É um belo pensamento, um belo sentimento – quando estou preso em uma rotina na selva de concreto, sempre vou até lá espiritualmente, emocionalmente, subconscientemente em minha paisagem mental, e é isso que essa música faz por mim e é nisso que penso – o país e as paisagens desse país – é um belo país antigo e isso é algo que deve ser iluminado e celebrado de alguma forma.
Temos um país lindo e acredito que o Brasil também é um país lindo. Eu adoraria ir até lá e levar a banda para se apresentar para vocês em um futuro não muito distante.

Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você queira destacar? Em termos de trabalho com essa banda, que são músicos e cantores e compositores sensacionais por si só, e você junta tudo isso em uma mistura – um belo ensopado, uma marinada – que surgiu com River Girl e os singles anteriores Wakka Wakka Woman, Pilbara Man e Renaissance Rambler – há uma certa assinatura no som de Jungaji e isso não depende só de mim – tenho que pagar minhas dívidas à minha banda, mas também à minha equipe de soldados, de guerreiros, de pessoas que investem e acreditam no que estou tentando transmitir à sociedade, ao universo;E é uma bela coexistência como criativo, como compositor, como uma pessoa que oferece terapia à comunidade para capacitar, inspirar e se aprofundar emocionalmente dentro de si mesmo.

Houve muitos fatores fundamentais que contribuíram para o nascimento dessa música… Geralmente, eu pego uma música organicamente por meio de uma gravação telefônica e a apresento para a banda, e podemos ficar sentados lá por 8 horas dissecando e retrabalhando diferentes partes, seja a ponte, o refrão, o verso ou um outro – você percebe alguns toques de guitarra ou o trabalho de piano – cada um desses caras tem 20 ou 30 anos de experiência e quando você culmina isso entre todos nós, sem mencionar o nosso baterista de 15 anos, que é filho do nosso tecladista, isso também é passar as lanças e as linhas de música para a próxima geração, e essa é uma bela cerimônia a ser celebrada. É um trabalho de amor, é o que eu chamo de trabalho, é uma coisa linda criar e fazer turnês, conhecer pessoas e viajar para diferentes países e, mesmo dentro do nosso próprio país, ainda há muitos lugares que eu não visitei, mesmo na Austrália.

Respostas Jungaji

TNYEYS – “Lark Lane” – (Noruega) – [MINI ENTREVISTA]

O que é especial sobre esta música? Há várias coisas especiais sobre esta música. Primeiro, tenho trabalhado como músico há 20 anos e tenho feito parte de muitas bandas diferentes na Noruega e na Inglaterra, tocando com muitos artistas renomados. Nos últimos anos, tenho composto minha própria música, e esta é a primeira faixa de TNYEYS. Em segundo lugar, esta é uma música que escrevi há 20 anos, mas nunca terminei. Escrevi-a no meu estúdio em Lark Lane, onde vivi de 2002 a 2005. Agora, finalmente terminei esta música, e ela também é a faixa-título do álbum que será lançado no outono, The Lark Lane Melancholy, que é um álbum inspirado no tempo em Lark Lane e nas minhas antigas demos daquela época.

O que dizem os versos? Os versos contam sobre um período cheio de emoções. Eu tinha sonhos como músico e artista, que trouxeram tanto momentos bons quanto ruins. Fala sobre como eu estava inspirado a viver e compor música onde estava, mas também sobre as dificuldades financeiras e as expectativas. Então, é ao mesmo tempo inspiradora e triste. O refrão fala sobre como vivíamos imersos em música, cantando e dançando durante a noite.

O que inspirou a composição? A música desta faixa foi inspirada no que ouvia no meio dos anos 2000, quando morava em Liverpool. Para mim, essa foi a época em que o indie rock britânico dominou completamente meu gosto musical. O álbum de estreia do Bloc Party, por exemplo, é uma inspiração importante, assim como The Killers, The Wombats, The Kooks, entre outros.

O que inspirou esta música? O indie rock britânico do meio dos anos 2000. Especificamente, “This Modern Love” do Bloc Party. The Kooks, Elliott Smith, Interpol.

O que esta música diz sobre seu país, a Noruega? Esta música fala mais sobre a música que me inspirou quando morava em Liverpool. Mas sinto que a música também pertence ao indie rock norueguês, talvez apenas agora que decidi fazer um álbum com esse estilo.

Qual é a simbologia por trás da capa do single? A capa do single é composta por recortes de fotos da época em que morava em Lark Lane. O jogo de futebol que tínhamos no estúdio. Recortes diversos da casa em que morávamos e alguns elementos ocultos que fazem referência aos artistas que eu ouvia.

Respostas TNYEYS

Bobby Wallisch Jr. & Acid.Prof – “Castello di Sabbia” – (Austria) – [MINI ENTREVISTA]

Como você apresentaria esta música a um amigo? Eu apresentaria essa música como uma peça lírica e reflexiva que explora temas de amor, impermanência e desejo de exploração. É uma canção que utiliza metáforas visuais como um castelo de areia e uma barca a vela para evocar a beleza e a fugacidade das experiências de vida.
O que dizem os seus versos? Os versos falam sobre construir um castelo de areia e uma barca a vela, simbolizando lugares de segurança e meios para aventuras, respectivamente. A música reflete sobre a jornada da vida, destacando que não precisamos de grandiosas invenções como um aeroplano para encontrar o nosso caminho; o que realmente precisamos é de um motivo para partir e um lugar para voltar.
Como e por que esta música surgiu? Escrevi esta canção para minha filha de 5 anos. Ela adora velejar comigo. Mas, na verdade, eu queria prepará-la para o fato de que você pode e eventualmente perderá sua casa, seu dinheiro, sua vida, mas sempre terá o infinito diante dos seus olhos para descobrir.
Musicalmente, como você a descreve? É uma canção em estilo vintage. Pense nos cantautores italianos dos anos 60. Adriano Celentano vem à mente.

Respostas Bobby Wallisch Jr. & Acid.Prof

Haky – “Desquiciado” – (Equador) – [MINI ENTREVISTA]

Em linhas gerais, o que é esta música? Desquiciado é uma música que para muitos é um alívio, soa um pouco obscura mas fresca, nova, precisava ouvir algo diferente por isso fiz isso também, é uma prévia de tudo que vou lançar esse ano.

O que inspirou a criação desta música e como foi este processo? Nasceu de um momento de alívio, e a música é mesmo isso, um alívio, e antes de sair a gente ouvia junto com a equipe com minha família e amigos, todo mundo sentiu o mesmo então, acho que essa música representa muito.

O processo criativo me fez encontrar meu som. Eu fiz a batida e a letra, a partir daí a faixa passou pelas mãos do Killer M (Método Mc) do Equador que produziu e mixou a música, depois o Javier Fracchia da Argentina fez a masterização e na realidade os dois levaram a faixa para outro nível Quando ouvi o resultado final em estúdio, o nível de produção me pareceu incrível, foi uma grande satisfação. A capa foi feita pelo Jorge Poveda da Espanha, o que ele me propôs foi incrível, ele usou inteligência artificial para recriar o personagem Haky na capa, e toda a arte e as pequenas mensagens que estão espalhadas na capa deram um enorme plus a todo o trabalho que estávamos fazendo.

Musicalmente, como você a descreve? Esse single tem influências de RnB, hip hop, soul, eu diria que é hip hop alternativo, mas as músicas novas que vou lançar esse ano vão ter muito RnB.

Quais reflexões você propõe nesta música? Acho que a mensagem principal é esse reencontro que a pessoa tem depois de passar por momentos sombrios, acho que não há nada melhor do que ser capaz de se encontrar e ficar em paz, mas gosto do fato de que pessoas diferentes dão a ela seu próprio conceito, mantendo a essência do que é.

Respostas Haky

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.