Somos uma revista de arte nacional, sim! No entanto, em respeito à inúmeras e valiosas sugestões que recebemos de artistas de diversas partes do mundo, criamos uma playlist chamada “Além da BR”.
Como uma forma de estende-la, nasceu essa publicação no site, que agora chega a sua 138ª edição. Neste espaço, iremos abordar alguns dos lançamentos mais interessantes da playlist.
Manuel Polin – “Santo y Elegía” – (México) – [MINI ENTREVISTA]
– O que diz a letra da música e qual a sua mensagem? “Santo y Elegía” é uma homenagem poética ao amor e à saudade; a música fala de esperança e fé na restauração da vida por meio da intervenção divina. Sua letra se inspira diretamente na narrativa bíblica em que Jesus ressuscita a filha de Jairo, pronunciando as palavras “Talitha Cumi”, que se traduz como “Menina, eu te digo, levanta-te” (Marcos 5:41).
A influência que o escritor mexicano Juan Rulfo teve sobre mim como artista fica evidente aqui, pois a canção propõe um diálogo entre referências bíblicas e o folclore latino-americano. No estilo do Realismo Mágico, a voz narrativa da música mistura elementos do sobrenatural com a vida cotidiana, confundindo a linha entre realidade e fantasia.
– Como e por que surgiu essa música? Na época em que escrevi essa música, fiquei profundamente comovido pela necessidade de me reconectar com meu passado, minha terra natal e minha identidade cultural. Tendo me mudado do México para a Europa ainda muito jovem, fui assombrado pelas paisagens rurais em preto e branco retratadas no cinema mexicano e pelo misticismo sombrio característico da literatura mexicana de realismo mágico. Essas imagens vívidas ressurgiram continuamente em meus pensamentos, obrigando-me a criar. Assim, esta música surgiu como uma homenagem espiritual ao México que eu lembrava, um país visto pelos olhos nostálgicos dos meus avós.
– Qual a ideia do videoclipe? O videoclipe serve como uma homenagem ao lendário diretor de fotografia Gabriel Figueroa, conhecido por suas sugestivas representações em preto e branco de paisagens e folclore mexicanos. Apresenta um retrato complexo da condição humana, explorando a tensão entre opostos. Este tema é representado visualmente através das imagens contrastantes do personagem principal do vídeo, mascarado e desmascarado. A narrativa é deliberadamente ambígua, confundindo os limites entre realidade e memória, e o que está sendo vivenciado versus o que está sendo lembrado.
À medida que a história se desenrola, o vídeo sugere subtilmente a morte de uma menina e de uma mulher, principalmente através de cenas ambientadas num cemitério e através de imagens generalizadas de ruínas e desolação. Esses visuais sombrios aumentam o peso emocional do vídeo, refletindo a profunda dor do personagem principal. Essa perda pessoal tem paralelo na letra da música, que alude à história bíblica da ressurreição da filha de Jairo, aprofundando ainda mais a exploração temática da vida, morte e renascimento.
– O que essa música diz sobre o seu país, o México? Esta canção proporciona uma viagem espiritual, retratada em preto e branco, através dos cenários rurais que inspiraram os movimentos de vanguarda visual e literária do México do século XX.
– Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você gostaria de destacar? Esta faixa é o primeiro single do meu EP de estreia “Llanto Santo”. Produzida por Noah Georgeson, cujas colaborações incluem Devendra Banhart, Rodrigo Amarante e Natalia Lafourcade, a música apresenta a profundidade temática do EP. A arte do single e do EP, criada pelo artista alemão David Herbrechter, inspira-se nas ilustrações de Gustave Doré para a “Divina Comédia” de Dante, encapsulando a essência de uma odisséia poética espiritual.
Respostas Manuel Polin
Jungaji – “River Girl” – (Austrália) –[MINI ENTREVISTA]
– Como você apresentaria esta música? Acho que a ideia da letra de River Girl era que eu fosse honesto. Tento ser sincero com todas as minhas músicas e com as paisagens que atribuo a elas. Apenas descascando as camadas e não tendo muito medo de cavar as tocas de coelho dos sentimentos, das emoções, da consciência interior. Descobri que River Girl surgiu de forma muito orgânica; adoro a melodia – primeiro foi a melodia e o violão, e depois criei a letra.
É sobre os altos e baixos dos relacionamentos e sair do outro lado inteiro, acho que é uma coisa linda, que deve ser celebrada e iluminada. River Girl é sobre ter uma conversa honesta comigo mesmo e celebrar a pessoa que você ama, com quem você acorda todos os dias, em quem você se apaixona, em quem você confia. Todos esses aspectos que definem seu relacionamento, seu casamento… o que significa matrimônio. Tentei encapsular tudo isso em três minutos e meio/quatro minutos, e acho que entre mim, minha banda e minha equipe, acho que é uma boa indicação das músicas que estão por vir, especialmente quando você está vindo de um lugar de verdade. E é lindo de se cantar também.
– Como esta canção surgiu, o que a inspirou? River Girl surgiu de forma extremamente orgânica, em casa, dedilhando o violão e comecei a criar diferentes melodias. Gosto de revisitar melodias historicamente, mas essa música em particular foi uma bela interseção e era exatamente como eu estava me sentindo naquele momento vulnerável – eu estava sentado assistindo à TV e comecei a cantarolar essa bela melodia e achei que soava tão bem, e quando combinamos essa bela melodia com o violão e a letra, é simplesmente mágico. E essa mágica fala muito alto quando você a ouve por qualquer meio, seja no rádio, on-line, pelo telefone, nos fones de ouvido.
Não é preciso ir muito longe para se inspirar, em termos de estar apaixonado, de apreciar o amor. Apreciar as coisas simples, como ir à praia, estar em uma montanha ou sentar-se à beira de um rio e ouvir os belos sons da água corrente é nutritivo, terapêutico, curativo e traz muitos benefícios mentais e emocionais. Particularmente para mim… quando me sento perto da água e me rejuvenesço ou em água corrente fresca – não há nada igual. É assim que essa música fala comigo e espero que fale com todo mundo, como um sopro de ar fresco, um sopro de oxigênio, e é assim que eu queria que ela fosse aceita.
– O que esta música diz sobre seu país, a Austrália? Como um homem Bama/Aborígine – e minha conexão íntima com o Country, com os recursos culturais, com o ar, o vento, o oceano e tudo o que está ligado… temos uma relação simbiótica com o Wulburmor/Country, e acho que essa música simplesmente celebra – ela pode levar qualquer pessoa a qualquer momento, seja no carro indo para o trabalho ouvindo o rádio, preso no trânsito – essa música pode levá-lo a outro lugar… é isso que ela faz para mim.
Para mim, ela é rejuvenescedora e reabastecedora, é muitas coisas – para mim, ela simplesmente me tira da minha normalidade. Temos um rio em meu país, ao norte de Cairns, e o chamamos de Dawarra, onde as estrelas beijam a areia e a areia brilha. Essa água da montanha em um dia quente parece recém-saída do freezer, e é por isso que cantei a música dos rios onde as estrelas beijam a areia… Dawarra. É um belo pensamento, um belo sentimento – quando estou preso em uma rotina na selva de concreto, sempre vou até lá espiritualmente, emocionalmente, subconscientemente em minha paisagem mental, e é isso que essa música faz por mim e é nisso que penso – o país e as paisagens desse país – é um belo país antigo e isso é algo que deve ser iluminado e celebrado de alguma forma.
Temos um país lindo e acredito que o Brasil também é um país lindo. Eu adoraria ir até lá e levar a banda para se apresentar para vocês em um futuro não muito distante.
– Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você queira destacar? Em termos de trabalho com essa banda, que são músicos e cantores e compositores sensacionais por si só, e você junta tudo isso em uma mistura – um belo ensopado, uma marinada – que surgiu com River Girl e os singles anteriores Wakka Wakka Woman, Pilbara Man e Renaissance Rambler – há uma certa assinatura no som de Jungaji e isso não depende só de mim – tenho que pagar minhas dívidas à minha banda, mas também à minha equipe de soldados, de guerreiros, de pessoas que investem e acreditam no que estou tentando transmitir à sociedade, ao universo;E é uma bela coexistência como criativo, como compositor, como uma pessoa que oferece terapia à comunidade para capacitar, inspirar e se aprofundar emocionalmente dentro de si mesmo.
Houve muitos fatores fundamentais que contribuíram para o nascimento dessa música… Geralmente, eu pego uma música organicamente por meio de uma gravação telefônica e a apresento para a banda, e podemos ficar sentados lá por 8 horas dissecando e retrabalhando diferentes partes, seja a ponte, o refrão, o verso ou um outro – você percebe alguns toques de guitarra ou o trabalho de piano – cada um desses caras tem 20 ou 30 anos de experiência e quando você culmina isso entre todos nós, sem mencionar o nosso baterista de 15 anos, que é filho do nosso tecladista, isso também é passar as lanças e as linhas de música para a próxima geração, e essa é uma bela cerimônia a ser celebrada. É um trabalho de amor, é o que eu chamo de trabalho, é uma coisa linda criar e fazer turnês, conhecer pessoas e viajar para diferentes países e, mesmo dentro do nosso próprio país, ainda há muitos lugares que eu não visitei, mesmo na Austrália.
Respostas Jungaji
TNYEYS – “Lark Lane” – (Noruega) – [MINI ENTREVISTA]
O que é especial sobre esta música? Há várias coisas especiais sobre esta música. Primeiro, tenho trabalhado como músico há 20 anos e tenho feito parte de muitas bandas diferentes na Noruega e na Inglaterra, tocando com muitos artistas renomados. Nos últimos anos, tenho composto minha própria música, e esta é a primeira faixa de TNYEYS. Em segundo lugar, esta é uma música que escrevi há 20 anos, mas nunca terminei. Escrevi-a no meu estúdio em Lark Lane, onde vivi de 2002 a 2005. Agora, finalmente terminei esta música, e ela também é a faixa-título do álbum que será lançado no outono, The Lark Lane Melancholy, que é um álbum inspirado no tempo em Lark Lane e nas minhas antigas demos daquela época.
O que dizem os versos? Os versos contam sobre um período cheio de emoções. Eu tinha sonhos como músico e artista, que trouxeram tanto momentos bons quanto ruins. Fala sobre como eu estava inspirado a viver e compor música onde estava, mas também sobre as dificuldades financeiras e as expectativas. Então, é ao mesmo tempo inspiradora e triste. O refrão fala sobre como vivíamos imersos em música, cantando e dançando durante a noite.
O que inspirou a composição? A música desta faixa foi inspirada no que ouvia no meio dos anos 2000, quando morava em Liverpool. Para mim, essa foi a época em que o indie rock britânico dominou completamente meu gosto musical. O álbum de estreia do Bloc Party, por exemplo, é uma inspiração importante, assim como The Killers, The Wombats, The Kooks, entre outros.
O que inspirou esta música? O indie rock britânico do meio dos anos 2000. Especificamente, “This Modern Love” do Bloc Party. The Kooks, Elliott Smith, Interpol.
O que esta música diz sobre seu país, a Noruega? Esta música fala mais sobre a música que me inspirou quando morava em Liverpool. Mas sinto que a música também pertence ao indie rock norueguês, talvez apenas agora que decidi fazer um álbum com esse estilo.
Qual é a simbologia por trás da capa do single? A capa do single é composta por recortes de fotos da época em que morava em Lark Lane. O jogo de futebol que tínhamos no estúdio. Recortes diversos da casa em que morávamos e alguns elementos ocultos que fazem referência aos artistas que eu ouvia.
Respostas TNYEYS
Bobby Wallisch Jr. & Acid.Prof – “Castello di Sabbia” – (Austria) – [MINI ENTREVISTA]
– Como você apresentaria esta música a um amigo? Eu apresentaria essa música como uma peça lírica e reflexiva que explora temas de amor, impermanência e desejo de exploração. É uma canção que utiliza metáforas visuais como um castelo de areia e uma barca a vela para evocar a beleza e a fugacidade das experiências de vida.
– O que dizem os seus versos? Os versos falam sobre construir um castelo de areia e uma barca a vela, simbolizando lugares de segurança e meios para aventuras, respectivamente. A música reflete sobre a jornada da vida, destacando que não precisamos de grandiosas invenções como um aeroplano para encontrar o nosso caminho; o que realmente precisamos é de um motivo para partir e um lugar para voltar.
– Como e por que esta música surgiu? Escrevi esta canção para minha filha de 5 anos. Ela adora velejar comigo. Mas, na verdade, eu queria prepará-la para o fato de que você pode e eventualmente perderá sua casa, seu dinheiro, sua vida, mas sempre terá o infinito diante dos seus olhos para descobrir.
– Musicalmente, como você a descreve? É uma canção em estilo vintage. Pense nos cantautores italianos dos anos 60. Adriano Celentano vem à mente.
Respostas Bobby Wallisch Jr. & Acid.Prof
Haky – “Desquiciado” – (Equador) – [MINI ENTREVISTA]
– Em linhas gerais, o que é esta música? Desquiciado é uma música que para muitos é um alívio, soa um pouco obscura mas fresca, nova, precisava ouvir algo diferente por isso fiz isso também, é uma prévia de tudo que vou lançar esse ano.
– O que inspirou a criação desta música e como foi este processo? Nasceu de um momento de alívio, e a música é mesmo isso, um alívio, e antes de sair a gente ouvia junto com a equipe com minha família e amigos, todo mundo sentiu o mesmo então, acho que essa música representa muito.
O processo criativo me fez encontrar meu som. Eu fiz a batida e a letra, a partir daí a faixa passou pelas mãos do Killer M (Método Mc) do Equador que produziu e mixou a música, depois o Javier Fracchia da Argentina fez a masterização e na realidade os dois levaram a faixa para outro nível Quando ouvi o resultado final em estúdio, o nível de produção me pareceu incrível, foi uma grande satisfação. A capa foi feita pelo Jorge Poveda da Espanha, o que ele me propôs foi incrível, ele usou inteligência artificial para recriar o personagem Haky na capa, e toda a arte e as pequenas mensagens que estão espalhadas na capa deram um enorme plus a todo o trabalho que estávamos fazendo.
– Musicalmente, como você a descreve? Esse single tem influências de RnB, hip hop, soul, eu diria que é hip hop alternativo, mas as músicas novas que vou lançar esse ano vão ter muito RnB.
– Quais reflexões você propõe nesta música? Acho que a mensagem principal é esse reencontro que a pessoa tem depois de passar por momentos sombrios, acho que não há nada melhor do que ser capaz de se encontrar e ficar em paz, mas gosto do fato de que pessoas diferentes dão a ela seu próprio conceito, mantendo a essência do que é.
Respostas Haky