Nascida em Belo Horizonte e radicada em Miami (EUA), ainda criança, Monica Mendes sentiu o despertar de sua consciência para o meio artístico. Trabalhando profissionalmente com as artes desde 2009, ela sempre levou consigo as dores do mundo como as suas próprias.
Tal pensamento gerou, recentemente, a necessidade de retratar as comunidades periféricas em uma série de pinturas. Esse novo trabalho recebeu o nome de “Favelas” e é um retrato do Morro do Papagaio, de Belo Horizonte, local no qual a artista tem grande apego pessoal.
“A tinta que escorre nestas pinturas representa a dor e a tristeza que eu sinto ao ver as dificuldades que o povo Brasileiro atravessa enquanto enfrenta o maior escândalo étnico que flagela nosso país. Ao mesmo tempo, através de cenas do dia a dia destas pessoas que aí vivem, Favelas captura também, o coração, o espírito e a resiliência do povo Brasileiro. Através de Favelas, eu trago consciência e espalho amor humanizando o sofrimento e luta dos brasileiros. Afinal, a vida nunca desiste e nos também não deveríamos.”, explica ela.
Como nós percebemos grande potencial e importância nesse projeto, resolvemos entrevistar a artista. Esse bate-papo você confere a seguir.
Matheus Luzi – Primeiramente, fale para nós quem é a artista e a pessoa Monica Mendes.Monica Mendes – Eu nasci em Belo Horizonte, mas moro em Miami. Sou graduada em Relações Públicas e Educação Física e apesar das minhas raízes artísticas, meu amor pela arte levou-me a obter meu Master Degree of Fine Arts em Painting somente em 2016, pela Academy of Art University em São Francisco. Sou artista premiada e participo regularmente de várias exposições, feiras e salões de arte pelo mundo. Sou também co-fundadora do Atelier Without Bordes, uma organização social sem fins lucrativos e dedicado as artes.
Matheus Luzi – Como surgiu a ideia dessa série de pinturas, “Favelas”?
Monica Mendes – Foi de uma maneira única! Minha filha me pediu que pintasse um quadro para sua casa, mas ela não queria seu retrato e eu, até então, só pintava retratos. Então pensei em pintar o retrato do Brasil, as Favelas. Afinal, eu cresci do lado da favela, cresci com ela! Eu brincava na rua com crianças da comunidade. As diferenças sociais sempre me incomodaram muito. Além disso, tudo que estava e ainda está acontecendo em nosso país me toca muito! Fiz as favelas chorando para representar minha dor pelo sofrimento que nosso povo vem passado com cada chuva pesada que cai, pela falta de água, de luz, de educação e de saúde. E foi assim que “Favelas” nasceu e desde então já pintei mais de 40 quadros sobre nossas favelas, cenas internas das favelas e de retratos de sua gente.
Matheus Luzi – O que essa série representa para o Brasil e o mundo?
Monica Mendes – “Favelas” é uma afirmação social e política sobre o Brasil e seu povo.
A tinta que escorre nestas pinturas representa a dor e a tristeza que o povo Brasileiro vem atravessando enquanto enfrentam o maior escândalo étnico que flagela nosso país. Ao mesmo tempo, através de cenas do dia a dia destas pessoas que aí vivem, “Favelas” captura também o coração, o espírito e a resiliência do povo Brasileiro. Através de “Favelas”, eu trago consciência e espalho amor humanizando o sofrimento e a luta dos brasileiros. Afinal, a vida nunca desiste e nos também não devemos desistir. E se o estado é incapaz de cumprir sua obrigação e amparar seu povo, nos temos todos que nos unir e fazer o que pudermos. Afinal um país só pode estar bem quando todos estão bem. Eu, como artista, me sinto na responsabilidade de alertar e provocar mesmo que sutilmente para que as pessoas se conscientizem da importância que tem no crescimento do nosso país.
Matheus Luzi – Qual sua relação pessoal e artística com esse tema, “Favelas”?
Monica Mendes – Como eu disse, eu cresci do lado da favela, vi a Comunidade do morro do Papagaio, em Belo Horizonte, crescer. Sempre me incomodou a desigualdade social e como artista, me sinto na responsabilidade de alertar e trazer mais consciência coletiva para as pessoas sobre os problemas sociais do nosso país. Como co-fundadora de um projeto social sem fins lucrativos, o Atelier Without Borders, estou sempre buscando projetos onde possam ajudar nossas comunidades carentes através da arte.
Matheus Luzi – Por meio da sua arte, qual mensagem você leva, nessa série?
Monica Mendes – Me encanta ver, apesar de todo sofrimento e todas as necessidades que passam, as pessoas que lá vivem, são unidas, elas se ajudam mutualmente. Estão sempre prontas para cooperar e aprender! O que me entristece é saber que não podemos contar com a ajuda do governo e que para que possamos ter uma sociedade, mas igual para todos, vamos precisar de mais ajuda da sociedade como um todo! Mais consciência coletiva e de um entendimento de que para que cada um de nós estejamos realmente bem, todos têm que estar bem! O problema é que essa conscientização leva tempo para se concretizar. Eu gostaria que as pessoas se importassem mais com os problemas das comunidades e olhassem mais para eles. Gostaria de furar as bolhas e de fazer fluir a comunicação entre o “asfalto” e as comunidades para que pudéssemos viver num mundo melhor com mais ajuda mútua e mais respeito.
Matheus Luzi – Como foi seu processo criativo?
Monica Mendes – Eu tenho mania de trabalhar com series e para isso, gosto de me aprofundar nos meus temas e como minha arte é realista, depois parto para a fotografia. Tiro muitas fotos para depois começar o processo de seleção destas fotos. Isso não quer dizer que as pinturas serão iguais as fotos. As fotos servem somente como referência e na medida que vou pintando vou tomando as decisões que considero melhor para cada quadro.
Matheus Luzi – Agora deixo você a vontade para falar o que quiser.
Monica Mendes – Minha arte é representacional e humanitária. Me incomoda os preconceitos e as injustiças. Acredito que, como artista, tenho responsabilidades social e quero fazer o que estiver ao meu alcance para contribuir com um mundo melhor para todos. Gente sempre foi minha grande inspiração, são elas que fazem o mundo um lugar melhor ou pior, temos um potencial enorme que quando bem usado faz maravilhas. Gosto de acreditar que o ser humano é essencialmente bom.