Obra “Fog” – (50 x 60 cm) – 2008
O mar é um universo de liberdade e de imaginação. E é neste cenário que a artista plástica Sueli Dabus buscou inspiração para uma de suas séries de quadros, com inspiração náutica.
Em toda sua imensidão, o mar transmite uma amplitude de sensações, que são trabalhadas de forma muito rica pela pintora. “Trata-se de um espaço em que as possibilidades se multiplicam pelo simples fato de os limites serem muito vastos. Olhando para o horizonte, toda expectativa parece ser positiva no sentido de enxergar a amplidão da existência”, contextualiza o crítico de arte Oscar D’Ambrósio.
Num estilo que mescla o expressionismo, presente nas pinceladas mais soltas; com o impressionismo, que pode ser identificado na forma como a natureza se apresenta, vindo de fora para dentro. A artista capta suas luzes e nuances num exercício em que a fantasia e o sonho são essenciais, com um resultado fascinante.
A vastidão e o mistério do navegar dão às obras de Sueli Dabus o tom de uma criação caracterizada pela impermanência. Não existem soluções fáceis, mas resultados plásticos atingidos pelo estudo, trabalho árduo e uma grande sensibilidade no processo de representação dessas imagens.
O mar surge então como um ser em mutação, principalmente regido pela emoção do inesperado e por uma convicção de que cada onda é nova, porque sua maneira de dialogar com o espaço não pode ser repetida. Entender a vida e a arte dessa forma constitui um desafio permanente.
Seja nas obras mais serenas ou nas mais agitadas, a artista plástica não se contenta com as formas mais óbvias para dar sua resposta visual ao mundo. Permanece a inquietação, que dá a cada obra uma personalidade própria, um construir-se muito pessoal e característico.
“Fazer uma obra com tema marítimo significa dar-se ao mar no sentido de não se repetir, mas de se sentir renovada enquanto artista e enquanto pesquisadora de técnicas e de distintas formas de representar o espaço, com cores, pinceladas e traços. Nada está parado, pois permanece o desejo de ter sempre algo a dizer”, ressalta D’Ambrosio.
Existe nas obras marinhas da artista um fluir e refluir de imagens que alude ao movimento das marés e também ao céu. Ambos têm a capacidade infinita de sempre se apresentar de maneiras distintas, num processo em que a repetição pode ser sentida apenas quando se lança um olhar apressado.
Uma observação mais atenta capta as nuanças da luminosidade que fazem com que cada amanhecer e anoitecer sejam um espetáculo único, para o qual é necessário reservar um tempo. O ego precisa então ser substituído pela humildade de contemplar a natureza como um organismo em mutação rica e permanente.
“As pinturas de Sueli Dabus, ao enfocar o mar, o céu e as embarcações, assim como portos, trazem a calmaria, a inquietação e a reflexão de que a vida inclui o correr, sim! Mas as paradas também integram a dinâmica do viver. Somente assim a saúde mental pode encontrar o seu lugar. O desafio é grande, mas a interação com as paisagens do mar auxilia. E muito!”, conclui D’Ambrosio.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
A SEGUIR, CONFIRA NA ÍNTEGRA UMA ENTREVISTA QUE FIZEMOS COM A ARTISTA.
A primeira pergunta e a mais óbvia, como chegou nos temas de suas artes?
Quando eu era criança, tinha um professor do primário de artes plásticas que tinha vários desenhos e pinturas a lápis de cor, e eu me apaixonei pelo caderno e perguntei se ele podia me emprestar. Ele negou, mas disse que eu podia ter o meu. A partir daí, comecei a pintar, desenhar.
Foquei principalmente meu tema no cotidiano. Acho que tudo na vida leva para o lado da pintura, serve como motivo de inspiração. Como um tronco de árvore, uma flor ou uma luz levando ao abstrato.
Como é a sua pesquisa em relação a sua arte?
A minha pesquisa se dá pela percepção dos mais diversos momentos da minha vida.
Na sua opinião, qual a relação da sua arte com o tema que você trabalha?
Cada um tem a sua interpretação… as cores e as flores são muitas, como, por exemplo, uma sombra ou até mesmo uma luz que reflete, vira um tema específico.
Como é o seu processo criativo?
Na realidade, o processo criativo não tem definição, ele nasceu comigo, assim como cada artista. Essa é a essência, conforme vou vivendo e adquirindo mais experiência, consigo perceber mais coisas.
Por exemplo, eu seleciono um tema – flores. Eu vou captando as cores, a luz e sombra delas, o ambiente onde estão e, assim, vai se desmanchando e formando a arte. Além disso, eu faço vários quadros do mesmo tema e, justamente por isso, tento chegar a um “final feliz”.
Como você vê o mundo da arte nessa temática que você trabalha?
Vejo o mundo da arte no cotidiano, em suas mais diversas compreensões e interpretações.
Quem são suas inspirações? Na arte como um todo, na música, nas artes plásticas, no cinema, etc.
Eu particularmente gosto muito de Rembrandt, que é um artista mais antigo e, principalmente, pelo fato dele se utilizar de luz e sombra. Um artista mais atual seria o Jackson Pollock, que apesar de não ter sido um grande artista ele conseguiu através de sua arte, elevar a capital das artes à Nova York, tirando o título de Paris. Foi um grande marco para as artes plásticas. Na música, sem dúvida, Beethoven. E na arte cinematográfica, me chama atenção os filmes românticos e antigos. Clássicos que gosto bastante são o “E o vento levou”, de Victor Fleming, e “Casablanca”, de Michael Curtiz.
Você tem alguma história ou curiosidade interessante que queira nos contar?
Uma história que acho mais marcante em minha vida foi quando participei junto ao consagrado professor Rodrigues Coelho, em 2005, de um trabalho no Museu de Arte do Parlamento, no qual ajudei a executar o Painel São Paulo, um trabalho que tem 4 metros por 14. Nele, dá para analisar nitidamente toda a história de São Paulo, desde seu nascimento até a Av. Paulista. Esse quadro atualmente fica localizado na Assembleia.
Outro fato ocorreu no mesmo ano, na Itália, o qual ganhei o 3° Prêmio Bienal Internacional de Firenze; foram momentos importantes de minha carreira.