(Cena do filme – Atores Clemente Viscaíno e Luiz Alves)
Lançado no em junho de 2020, a produção traz de volta, ao cinema nacional, Luiz Alves – o Ferrugem -, e posiciona Santa Catarina como uma possível grande produtora de cinema
No mundo há, curiosamente, muitas histórias que poucos conhecem. Esse é o caso de Frederico Bruestlein, figura importante da história de Joinville (SC). Para quebrar o gelo e revelar ao público um icônico momento marcante da cidade, os cineastas Anderson Dresch e Kleber Dresch tiveram a brilhante ideia de produzir o longa “Uma carta para Ferdinand”. Estrelado por Cristiana Oliveira, Clemente Viscaíno e Luiz Alves (o Ferrugem), e que tira boas risadas daqueles que assistem.
Filmado em apenas 13 dias, o elenco é quase todo composto por artistas locais e, além do humor, também é considerado como uma viagem no tempo, em vista que o roteiro alterna entre passado e futuro. É interessante lembrar que as gravações aconteceram nos principais pontos turísticos da cidade, e foram usados os arquivos históricos da cidade como referência para os processos de produção.
O ROTEIRO
Na ficção o francês Frederico Bruestlein (1835 a 1913), vivido por Clemente Viscaíno, é o homem de confiança do Príncipe de Joinville (França), François Ferdinand, dono da Colônia Dona Francisca que pediu para Bruestlein voltar nos dias atuais a Joinville e fazer um relato das condições em que se encontra a cidade e sua população.
A descrição contou com a ajuda do atrapalhado assistente camponês Tonico, interpretado por Ferrugem, marcando a volta do ator ao circuito audiovisual nacional. A dupla depara-se com situações inusitadas do passado – acontecimentos, obras e projetos – e o choque de modernidade vivido no presente. A turbulência de informações reacende os resquícios da memória de Bruestlein e relembra o amor platônico pela jovem Mella (Cristiana de Oliveira).
(Trecho do release oficial à imprensa)
Ficha técnica
Roteiro e Direção: Anderson Dresch e Fabio Cabral
Produção executiva: Mari Silveira
Diretor de fotografia: Fabio Cabral
Diretor de arte: Alceu Bett
Diretor de produção: Soares Ordilei
Câmeras: Kleber Dresch e Giovani Rocha
Coordenação de produção: Tony Araujo
Figurino: Lucas David, Tereza Dresch
Maquiagem: Karina Oliveira
Som direto: Cleidim Costa
Montagem: Marcelo Buti
Finalização e Colorização: Marco Requena
Matheus Luzi – É evidente que o longa posiciona Joinville nas primeiras vitrines da produção cinematográfica nacional. Em uma analogia ao histórico das produções do cinema brasileiro, qual a síntese que vocês como diretores, estabelecem a importância de “Uma carta para Ferdinand” para essa situação?
Anderson – A importância do filme para Joinville, em uma analogia ao cinema nacional, o história que nós temos é de sempre uma produção muito grande, dos grandes centros, eixo Rio-São Paulo e, agora também, com vertentes no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, e alguns trabalhos no nordeste, como “Bacurau”. Mas Santa Catarina em si, temos poucos filmes que tiveram um espaço na grande mídia e nas plataformas, nos cinemas.
Na nossa concepção, esse é o primeiro de Joinville, a gente tem noção que é uma produção modesta, a gente sabe, principalmente dento das condições financeiras, entre outras coisas, mas mesmo com todas as adversidades, a gente conseguiu um produto que tivesse um crivo de estar nas plataformas, e o retorno que estamos tendo do público está sendo muito positivo.
Então, acreditamos que isso possa sim ser uma porta que que está se abrindo, um olhar que pode se voltar para Joinville como uma produtora de cinema, um lugar na onde possa sair filmes comerciais, a nível nacional. E isso nos dá muita motivação para continuarmos produzindo.
Matheus Luzi – Dando sequência a essa primeira pergunta, faço mais uma reflexão. Por se tratar de um roteiro cuja temática e personagens não estão presas apenas a realidade brasileira, pode ser que o longa seja bem visto até no exterior.
Anderson – Com relação ao potencial do filme fora do Brasil, a gente acredita que pode sim, porque a gente traz um pouco da história do Ferdinand, que era francês. Ele tem um Q meio europeu, então, acreditamos que sim, principalmente na Europa. Já estamos até preparando as legendas para oferecer para distribuidoras e produtoras fora do Brasil. Inclusive, o Cabral [parceiro na direção do filme] tem um ótimo relacionamento com a Mono Filmes, que é o produtor do filme do Pablo Escobar. É possível que a gente se relacione assim, e alcance esse mercado.
Matheus Luzi – “Uma cara para Ferdinand” propõe em minha particular opinião, ainda que não seja intencional, uma apresentação de um outro Brasil. Estamos tão acostumados a focar no eixo Rio-São Paulo que acabamos esquecendo de outras regiões, de outras cidades, e o mais grave, de outras culturas.
Anderson – Sobre a história, realmente, sua reflexão faz todo o sentido. A gente teve algumas observações. Falamos sobre o filme, mostramos para algumas pessoas. Muitas dessas pessoas disseram “Ah, mas o filme é muito regional”, como se fosse algo para ficar só aqui. Porém, a gente vê muitos filmes regionais, por exemplo, do Nordeste, que são tratados como filmes nacionais Então, é uma quebra de paradigma, porque a história contada faz parte da história do Brasil, se relaciona muito bem com a história do país. Isso é muito legal, e as pessoas deveriam enxergar dessa forma. É muito legal poder levar a história dessa região para todos os brasileiros.
Matheus Luzi – Como foi a produção, em poucas palavras?
Anderson – A produção do filme ocorreu de forma muito orgânica, as coisas conspiraram para que desse tudo certo. A começar por Joinville, você ter 13 dias sem ter chuva, isso já é uma conspiração do universo para que tudo acontecesse da melhor forma possível.
Matheus Luzi – O elenco como um todo e as participações especiais são incríveis. Mas, acredito que um belo cartão de visita é o ator Luiz Alves (o Ferrugem), até porque é com esse longa que ele retorna à atuação, depois de estar “sumido”.
Anderson – Sobre o Ferrugem, não foi diferente. A gente precisava de um cara de baixa estatura, que pudesse ter esse ar infantil, alguém que fosse realmente engraçado, cômico, com essa inocência. Pensei em alguns nomes, porém, os nomes com mais evidência, a gente dificilmente conseguiria ter um cachê para bancar esse pessoal. E o Ferrugem, que estava mais dedicado à música, publicidade, e pequenas produções, do nada eu pensei e veio na cabeça ele. Comecei a pesquisar, vi uma reportagem sobre ele, inclusive da Globo, da Vídeo Show, perguntando “Por onde anda Ferrugem”. Vi que ele estava fazendo parte de uma banda, pesquisei a banda, e cheguei num integrante, pedi o contato do Ferrugem, mandei o roteiro para ele, fiz o convite, e no próximo dia, ele respondeu que estava dentro.
Matheus Luzi – Para terminar esse bate-papo, acho interessante vocês listarem reflexões que vocês mesmo, como diretores, dariam para o longa.
Anderson – A gente fala que é uma produção modesta, mas a única coisa que não foi modesta foi a performance dos atores. Foram incríveis! Vimos um alto nível de interpretação, de sutileza, de comédia. Foi perfeita essa questão. Isso nos dá uma grande alegria e orgulho. No mais, foi uma coisa muito colaborativa, uma energia muito boa. Fazer um longa é uma coisa que exige um trabalho gigantesco, acordar cedo e me madrugada, fazer tudo. Era um time pequeno, mas mesmo assim, fizemos o máximo para ter uma estrutura de cinema grande. Pra gente, foi tudo um aprendizado, para mim, foi o primeiro longa. O importante é que conseguimos fazer o filme, ter se tornado realidade, e alcançado o Brasil!