Com cara de galã, não seria nenhum exagero dizer que Vandré Silveira já é premiado, tanto no Teatro, quanto nos projetos audiovisuais, como o cinema. Agora, o ator, que mora a 20 anos no Rio de Janeiro, se prepara para atuar na Novela JESUS, das noites da TV Record, com o emblemático personagem Lázaro. Vandré estreia na novela no próximo dia 29.
Apesar disso, Vandré não para por aí. Entre o mês de março e abril deste ano, o ator trabalhou com a dramaturgia, cenografia, e claro, como ator, na peça FARNESE DE SAUDADE, espetáculo, dirigido por Celina Sodré, que recebeu prêmios e circulou nas mãos de vários críticos especializados.
Abaixo, você confere uma entrevista na íntegra, que fizemos com Vandré, na qual ele conta como foi sua entrada para o mundo das artes cênicas, dá detalhes sobre seu novo personagem na novela, e muito mais. Confira!
Vandré Silveira, é um prazer bater esse papo com você. A primeira pergunta, quando começou sua atração pela arte de atuar, e como tudo isso aconteceu?
Uma grande alegria poder dividir com vocês um pouco da minha história e trajetória profissional. Desde criança eu admirava os artistas pela postura libertária e ousadia. Sempre fui muito tímido. E no fim da adolescência, a ideia de me tornar ator começou a se fortalecer. Decidi fazer um curso livre de Teatro e me apaixonei. Posteriormente, me formei como ator no Curso Profissionalizante de Teatro do CEFAR (Centro de Formação Artística, da Fundação Clóvis Salgado- Palácio das Artes, MG) e me encontrei. Experimentei a possibilidade de exprimir minha subjetividade de forma criativa e artística. Tive a certeza de que este era o meu caminho. Já são 17 anos de carreira, entre espetáculos de teatro, filmes e várias participações em novelas e seriados.
Entre todas as suas atuações, qual delas, mais te marcou e por que?
Cada trabalho é único e colabora para uma abertura de visão e percepção sobre o humano. A minha escolha é por personagens que me atravessam e me deslocam da minha zona de conforto para que eu tenha a possibilidade de tocar o outro de forma genuína e plena. A arte espelha o humano em todas as suas contradições. Para mim, uma atuação é marcante quando gera transformação não só no sujeito que está atuando, mas também naquele que recebe o estímulo. A simples ação de se colocar no lugar do outro gera grandes transformações. Quando fiz Farnese de Andrade, no monólogo FARNESE DE SAUDADE, mergulhei intensamente no universo deste artista. Farnese coletava objetos para suas Assemblages (Junção de elementos distintos num conjunto maior), nas praias de Botafogo e do Flamengo, na feira de antiguidades da Praça XV e em antiquários, na cidade do Rio de Janeiro. Durante 02 anos percorri o mesmo itinerário de Farnese e criei a instalação cênica, uma gaiola de ferro em formato de cruz, em referência à religiosidade mineira, presente na obra de Farnese e também num diálogo com a obra de Louise Bourgeois. Ambos com forte acento autobiográfico. Foi um movimento natural. Farnese se expressava através dos objetos e como artista/ator, meu caminho não poderia ser diferente. Minha expressividade ultrapassou meu corpo, voz e emoção para abarcar o espaço e o tempo. Tempo. Matéria indispensável no trabalho de Farnese. Ele buscava uma suspensão temporal. Onde o ar não entra, não há deterioração causada pela passagem do tempo. “E tudo continua sempre.”
Você vai estrear na novela JESUS, da Record TV. Fale um pouco sobre seu personagem, e como que rolou o convite para fazer parte do elenco.
É meu primeiro grande personagem numa novela em canal aberto. Estou muito feliz e agradecido por essa oportunidade. Além de ser um desafio, é também uma grande responsabilidade dar vida à Lázaro. Este personagem icônico que fica morto por 04 dias e que é ressuscitado por Jesus. Um dos grandes diferenciais desta produção é o fato de aprofundar a história de todos os personagens. A maioria das pessoas associam Lázaro apenas com o milagre da ressurreição. Para além da importância do ato, como prova de fé e também pelo efeito catalisador no processo de crucificação de Jesus, vamos conhecer a história de Lázaro, seu cotidiano, sua relação com as irmãs Marta (Dani Moreno) e Maria de Betânia (Jéssika Alves), sua proximidade e amizade com Jesus, questões pouco abordadas em outras obras.
O convite veio depois de um teste de elenco com várias cenas, sem personagem definido. Fiquei admirado com o cuidado da direção e da produção com o teste. Luz, figurino e cenário impecáveis. O que contribuiu muito para criar uma atmosfera que remetesse à época de Jesus. Senti uma grande emoção quando soube da aprovação e da escolha para ser Lázaro.
Pelo o que li, você é um ator que vem do teatro. Para você, quais são as diferenças de gravar um filme/novela e encenar um personagem em uma peça teatral?
O trabalho do ator é um só. O de se disponibilizar para o personagem com total entrega. Talvez a grande diferença diga mais respeito ao funcionamento prático de cada Linguagem. O Teatro é por excelência um lugar de artesania, de maior possibilidade de experimentação. O Cinema se aproxima disso com suas próprias especificidades. A TV tem um ritmo mais acelerado e como as novelas são obras abertas, muito do trabalho do ator vai sendo construído junto com a dramaturgia. O que é um desafio maravilhoso.
Você também chegou a fazer publicidade, como modelo/ator. Como foram essas experiências para você?
Foi um processo importante no sentido de amadurecimento, de alargar minha percepção sobre o próprio mercado de trabalho. Nestes 12 anos que moro no Rio de Janeiro, fiz centenas de testes. Você vai se fortalecendo, porque é mais comum a rejeição do que a aprovação. São uma série de fatores que pesam numa escolha de elenco. É preciso equilíbrio, força e fé para seguir adiante. Se você se compromete com seu ofício de forma genuína, a resposta pode tardar, mas não falha.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva seu trabalho?
Acredito no lugar da atuação como uma doação, uma entrega sem concessões para uma outra subjetividade que depende da do ator para acontecer. Nesse sentido, já vivi situações curiosas. Quando fiz o espetáculo O HOMEM ELEFANTE, com direção de Cibele Forjaz e Wagner Antonio, ficava 01:30h com o corpo fora do meu eixo para me aproximar da fisicalidade de John Merrick, um homem que viveu no final do século XIX, na Inglaterra e que tinha 90% do corpo deformado por uma questão congênita e que cruelmente era explorado em feiras de aberrações (Freak Shows). Isso acabou me gerando problemas no quadril e na mão porque o cérebro começou a ler essa nova postura como a ‘oficial’. Precisei consultar um profissional de quiropraxia para alinhar e estabilizar meu corpo.
Fique à vontade para falar o que quiser.
Acredito no poder de transformação da Arte. Cultura é alimento para a alma e questão essencial ao humano porque constrói memória e identidade. Um país que não respeita sua cultura é também aquele com deficiência em sua educação, o que limita a percepção do indivíduo sobre a beleza e a complexidade do humano com toda a sua diversidade.