11 de novembro de 2024
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CONTO: O Genro Perfeito e o Estudante de Direito (Gil Silva Freires)

– Filha minha não casa com pé-de-chinelo! – bradava seo Germano, aos quatro ventos.

Italianíssimo, não havia desfrutado da mesma sorte que seus patrícios. Não montara cantina, padaria, sequer quitanda. Tudo o que conseguiu obter no Brasil, depois de anos e anos de negócios mal-feitos, foi aquela porcaria de oficina para conserto de sapatos.

Mas seo Germano não pensava em terminar a vida como um simples sapateiro. E como tinha uma filha lindíssima, era exigência fechada que ela se casasse com um homem de posses.

– Isso mesmo, minha filha – dona Antonieta apoiava. – Não faça como eu, que se casou com um italiano pobretão.

Aconteceu que Giovanna apareceu em casa com um namorado que deixou seo Germano pasmo. Era cabeludo, fala mansa de maconheiro e vestido com roupas extravagantes. Estavam apaixonados e pretendiam se casar.

Seo Germano ficou furibundo e repetiu que filha dele não se casava com um maluco de jeans rasgados e argola na orelha. A filha já estava decidida e disse que estava decidida e que se casariam mesmo sem a benção paterna. Seo Germano, antes mesmo que o rapaz tivesse oportunidade de se apresentar, botou ele pra fora aos safanões e expulsou a filha de casa.

– Pode casar, mas não é mais minha filha!

A filha preferiu ir embora com o noivo. Dona Antonieta não fez caso e disse pro marido que ele estava fazendo tudo de cabeça quente e ia se arrepender. Mas seo Germano foi irredutível e proibiu que o nome da filha fosse mencionado dali por diante.

O casamento foi marcado pra duas semanas depois, mas seo Germano estava decidido a impedir a de qualquer maneira que a filha se casasse com um vagabundo. Descobriu onde era a igreja e foi até lá, disposto a acabar com tudo.

Foi entrando igreja adentro, aproximou-se do altar e meteu um balaço no peito do noivo. O tiro pegou no coração. Morte instantânea.

– Filha minha não casa com pé-de-chinelo! – gritava seo Germano enquanto era contido e desarmado.

Mas o noivo não era um pé-de-chinelo. O cabeludo era, na verdade, advogado quase formado, filho de um dos juristas mais renomados de São Paulo e apenas praticava surf nas horas vagas.

Naquele dia, pouco depois de seo Germano sair com a arma na cintura, uma limusine, mandada pelo futuro genro, tinha ido apanhá-lo na porta de casa.

Escrito por Gil Silva Freires no dia 22 de dezembro de 1994.

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.