Revista Arte Brasileira Crítica Musical Silvio Brito e sua utópica Terra dos Sonhos
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Silvio Brito e sua utópica Terra dos Sonhos

Silvio Brito

Silvio Brito, compositor, cantor e instrumentista, iniciou sua carreira muito cedo, aos 6 anos de idade. Seu primeiro show reuniu um público de cerca de mil pessoas, em Três Pontas (MG). Aos 10 anos de idade, em Belo horizonte, Brito gravou seu primeiro disco. Em 1988, torna público o disco “Terra dos Meus Sonhos”, cuja letra sugere uma sociedade utópica, sem crises, sem violência, sem política, sem hierarquia nem poder. Uma sociedade cuja natureza é a paz e o respeito entre os homens. A música nos sugere a promessa bíblica do Jardim do Éden, em que a vida se resume a desfrutar de um mundo perfeito, cheio de paz e alegria.

De qualquer forma, embora seja desejável, a terra dos nossos sonhos é uma impossibilidade porquanto a natureza humana se desenvolve, historicamente, a partir dos conflitos de interesses, da luta de classes (Marx). O devir histórico, do ponto de vista sociológico, é marcado por contradições, cujo desdobramento é a luta incessante dos homens entre si. “O homem é o lobo do próprio homem”, assinalava Thomas Hobbes, em “O Leviatã”. Mas o que Brito propõe em seu Éden é que imaginemos (ou sonhemos) com uma sociedade análoga ao estado de natureza rousseauniano, em que os homens ainda são bons, embora selvagens. É o que denota na primeira estrofe da música:

“Você precisa conhecer a minha terra… / Lá não tem guerra, nem polícia, nem ladrão. / Não tem partidos de esquerda ou de direita, / Todo mundo se respeita, isso que é constituição…”

Silvio Brito em “A Terra dos meus sonhos”

Todavia, no final da letra, sugere que essa “Terra”, embora não exista de fato, existe na subjetividade humana, como um desejo latente que, na prática, nos remete às ações políticas de mudança. É um projeto de humanidade. A simplicidade da letra, de fácil entendimento, sugere, por outro lado, que pensemos sobre a complexidade da vida social, cuja desigualdade é uma das suas marcas mais evidentes.

O compositor Silvio Brito é daquela geração de artistas cujo legado marcou um período extremamente criativo para a música brasileira. Conterrâneo de Milton Nascimento, um dos principais ícones da MPB, e fortemente influenciado pela diversidade de estilos musicais de sua época, nos anos 70, Brito tinha como característica principal a forma como tecia suas críticas aos costumes do período da ditadura civil-militar.

Eclético quanto aos gostos musicais, cujo leque abarcava de John Lennon a Tonico e Tinoco, passando por Chico Buarque, Fábio Junior, Caetano Veloso e Moacyr Franco, suas músicas sempre tinham lugar cativo nas “paradas de sucesso”, em especial no auge do período de chumbo da sociedade brasileira.

O humor com que tratava temas dos mais diversos o fez um cantor controverso e polêmico. Entre as canções de protesto, diferentemente de Bob Dylan, imprimia em suas músicas rítmos tresloucados, e batizava suas músicas com títulos sugestivos e provocativos, como, por exemplo “Pare o mundo que eu quero descer”, “Tô vendendo Grilo”, “Careca, sem dente e pelado”, entre outros. O sucesso de suas músicas rendeu-lhe quatro discos de ouro. Estima-se que tenha vendido mais de três milhões de discos ao longo de cerca de duas décadas de carreira. Multi-instrumentista – tocava trombone, piano, saxofone, guitarra -, Silvio Brito tentou carreira nos EUA após curto período de fracasso com sua banda “Silvio Brito e os Apaches”, inspirada nos Beatles, nos fins dos anos 1969 e início da década de 1970. O auge da carreira do cantor e compositor viria somente próximo dos anos 1980.

Depois de parcerias com Milton Nascimento e Chico Anysio, lança em meados 1988 o primeiro volume do disco “Terra dos Meus Sonhos”, época em que, por influência do amigo Padre Zezinho, compôs e gravou inúmeras músicas com temas religiosos. A música “A Terra dos meus sonhos” é uma das músicas que marcou esse período.

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Artigo escrito por Edis Jesus dos Santos em 2018 e editado por Matheus Luzi no mesmo ano.

Capa do álbum “Terra dos Meus Sonhos”, Silvio Brito, 1988.

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