3 de outubro de 2024
Entrevista EP

[ENTREVISTA] Banda Mazuli desperta a liberdade em EP de estreia

mazuli

(Capa do EP – Crédito: Guilherme Moraes)

 

A vida é um eterno perde e ganha, mas para ganhar o principal movimento é liberta-se das amarras do olhar do outro e seguir. Esse é o tema principal que guia todo o primeiro EP da banda pernambucana Mazuli. “O conceito do EP gira em torno de um olhar de coragem para desprender-se de um padrão de vida de muito pudor, medo de julgamentos e falta de autonomia.”, comentou Thiago Mazulli, vocalista e compositor da banda.

“O desafogo surge sob a perspectiva do ato de libertar-se. E não só desafogar na imagem de respirar, como quem levanta depois de um grande tempo debaixo d’água, mas tem uma relação direta ao desafogar com fogo. Da saída de um padrão de vida de medo e passividade até a o momento de se libertar, mostrar quem se é e não deixar de agir como se acha certo por medo do julgamento alheio”, explica Thiago.

 

 

Dessa forma, as letras das cinco canções que compõem o EP, tratam de diferentes temas: amor, raiva, tempo; com o olhar do desprendimento, da visceralidade e, principalmente, da autonomia de falar e encarar de frente o que se sente, sem se esconder em aparências superficiais.

A capa do disco segue na mesma linha, as montanhas representam os altos e baixos da vida e ainda apontam os caminhos, às vezes, tortuosos que pegamos para chegar em um lugar na arte feita por Guilherme Moraes, também responsável pela capa de “Romã”, álbum da cantora pernambucana Sofia Freire.

 

BOM SABER

mazuli(Crédito: Luma Torres)

“Desafogo” foi gravado no estúdio de Pedro Leão (produtor e integrante da banda), que fica na Villa Ponteduchoa, Recife, masterizado por Vinicius Aquino (Estúdio Carranca) e mixado por Guilherme Assis (Zelo Estúdio). Entre as inspirações cita: Siba (no tocante a letra, poesia e as levadas de guitarra), Céu (nas levadas da bateria e nos timbres de sintetizadores e teclados), Otto (nas percussões e ritmo) e Cidadão Instigado(nos timbres de guitarras e efeitos).

Mazuli é Thiago Mazuli (vocalista e compositor), Douglas Monteiro (baterista), Pedro Leão (produtor, tecladista e baixista) e Carlos Filizola (guitarrista) e Daniel Ribeiro (Percussionista).

 

mazuli

 

Primeiramente, obrigado por aceitarem essa entrevista.

Para começar, gostaria que vocês falassem qual foi o gatilho que levou vocês a falarem das temáticas das cinco faixas do EP? Quais foram as inspirações e como chegaram nessa poética?

Eu (Thiago Mazuli),apesar de ter estudado em um colégio construtivista, tive em casa uma criação de certa forma conservadora e sem maiores incentivos a arte. Ao final da adolescência senti de forma avassaladora, pela primeira vez, a necessidade de ‘’colocar no papel’’ minhas vivencias pessoais, guardadas há tanto tempo dentro de mim, talvez por um medo de me expressar de maneira tão ‘’crua’’ e ‘’clara’’. Um medo de me ver sentimental e melancólico num papel. Era como se aquilo não fosse permitido pra mim. Assim, quando escrevi minha primeira poesia foi um alivio imenso. Foi estranho olhar para o papel e me ver ali, tão vulnerável. Desde esse dia, com essa sensação de alivio e estranhamento, comecei a escrever e desabafar tudo o que não havia escrito antes. Comecei a falar sobre vários acontecimentos na minha vida que não tinham passado pelo ciclo da escrita e, talvez por isso, não tinha se encerrado ainda dentro de mim. Escrever me ajudou a encerrar ciclos e iniciar outros. O gatilho que me levou a falar da temática das faixas do disco, então, foi uma necessidade de ‘’colocar pra fora’’ sentimentos guardados e enfrentar o medo de me expor perante eu mesmo e o mundo.

Sobre as inspirações, sempre gostei muito de música e de poesia, mas no período em que comecei a escrever eu simplesmente comecei a consumir compulsivamente a poesia do sertão de Pernambuco e a musica de la, e me apaixonei. Me baseei em artistas como Lirinha e Helton Moura (Arcoverde/PE) e também em Zeto (Canhotinho/PE) para a composição das letras, mas depois disso juntamos a uma estética sonora Pop e dançante, o que me fez fazer mudanças nas letras para chegar a esse resultado, que representa muito bem a proposta da gente.

 

Com que olhos vocês enxergam a musicalidade e poesia do EP? E mais, o que vocês querem impactar?

Enxergo com olhos de uma combinação de estéticas e singularidade. No Ep, juntamos essas referências da poesia do Sertão de Pernambuco que eu (Thiago Mazuli) tenho, à uma roupagem sonora extremamente Pop trazida pelos outros integrantes do projeto. Isso é o que faz o som da gente. Essa combinação.

Quero impactar e falar sobre liberdade. Estimular para que, ao ouvir nossa música, cada um desperte o que está guardado dentro de si, seja bom ou ruim, e enfrente. Isso faz com que a gente evolua e seja mais honesto com a gente mesmo. Faz se acordar pra novas emoções e uma vida mais valiosa, a meu ver. Sair da superficialidade das ações e dos sentimentos por medo é uma mudança gigante na vida de todos. Eu tive essa mudança e vim parar onde estou: fazendo música, que é o que amo. Acredito que essa onda de liberdade pode impactar muita gente.

 

Vocês consideram “Universos” a música de trabalho do EP. Qual o motivo? E qual a história dessa música?

Desde quando eu (Thiago Mazuli) ainda não tinha criado o projeto e nem o conceito de Mazuli e ainda me apresentava nos locais como ‘’Thiago Borba’’, eu já tocava ‘’Universos’’, e ela era a musica que as pessoas mais me pediam para tocar nos lugares e isso continua até hoje, já como Mazuli. Ela parecer ser a musica que tem maior apelo perante a maioria do público.

Essa música eu fiz realmente em um período de raiva e desesperança num relacionamento que tive. Estava muito magoado e, quando eu ainda era graduando, em meio a uma aula, escrevi essa música muito rapidamente, como se aquilo ali já tivesse dentro de mim e eu só precisasse colocar no papel.

 

“Desperto” tem uma vibe jovem guarda. De onde veio essa referência? Aconteceu de forma natural?

Isso aconteceu de forma natural. ‘’Desperto’’ é uma parceria minha com um amigo compositor: Guilherme Barreto. Compusemos essa música na sala de minha casa de maneira extremamente a vontade e ela surgiu daquela forma. No momento de produção do Ep, Pedro Lião entendeu o que a composição sugeria e continuou nessa direção jovem guarda e balada romântica.

 

Pelo o que li, além da temática da música, “Gilmar”, ainda que de forma escondida, seria a prova de que é sempre bom sair da zona de conforto, já que a letra foi composta em uma mesa de bar, tipo de lugar que não é muito seu habitat criativo. Estou certo?

É, na verdade não é escondida. A música foi feita a partir de uma tensão entre um personagem, frequentador de um bar, e ‘’Gilmar’’, o garçom. Criei essa estória com base nesse jogo de olhares entre esses personagens que representam pra mim situações que imagino que já devam ter acontecido em bares ou outros locais, É um assunto que me deixa super curioso.

Sobre o sair da zona de conforto no local de compor, sim. Eu sempre compunha no meu quarto, no silencio e, de preferência, sozinho. Nessa noite, resolvi fazer em um bar, que era uma vontade imensa que tinha de poder fazer uma música em meio a noite e o barulho das pessoas e dos copos. Assim, fiz alguns versos (os mais importantes, inclusive) e depois de um tempo terminei a música em meu quarto.

 

 

“No Teu Ventre”, seria a única canção que você não escreveu? E como foi musicar esta música?

Isso. Mesmo não tendo escrito, ‘’No teu ventre’’ é uma das minhas músicas preferidas do Ep. Musicar essa poesia, feita por Guilherme Barreto, foi muito rápido e legal. Ele me mandou uma mensagem contando que tinha feito e me passando. Quando li, a melodia já saiu naturalmente. Depois daí, só adequei umas palavras por questão métrica e a musica, em sua essência, já estava pronta.

 

O que Sofia Freire trouxe de especial para a faixa “Preciosa”, e para o EP como um todo?

Sofia trouxe muito dela para ‘’Preciosa’’, as sonoridades ‘’espaciais’’, o uso de sintetizadores de maneira bem particular. Além de gravar o piano e a voz, Sofia participou do processo de produção da musica todo, dando ideias, debatendo opções que poderiam ou não ser colocadas na faixa. Foi uma participação muito especial.

 

 

Você(s) tem alguma(s) história(s) interessante(s) ou curiosa(s) para nos contar?

Sim. Sobre ‘’Preciosa’’, podemos dizer que ela foi o gatilho para a ideia de fazer o EP. A história começou quando eu estava tocando algumas músicas minhas em uma casa de praia e uma amiga, chamada Camila Coimbra, ouviu e comentou: ‘’Essa música era ‘’ a cara’’ de uma amiga minha’’. O tempo passou e, prestes a gravar o EP, perguntei a Camila quem era a amiga dela. Ela falou que era a Sofia Freire, que eu já curtia bastante e, apesar de não conhecer pessoalmente, já imaginava parcerias futuras. Acontecido isso, mandei a música pra Sofia, ela curtiu bastante e nos conhecemos mais já no estúdio. Ela perguntou se eu tinha algum produtor pra indicar pra produzir nosso single e, como eu disse que não, ela indicou Pedro Lião, com quem eu tive uma grande amizade pessoal e musical e veio a ser produtor do Ep e integrante da Mazuli. Tudo começou dessa história.

 

 

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.