Fotografia que integra o livro. (Rogério Reis)
Com aproximadamente 40 anos de carreira interruptas, o fotógrafo e jornalista carioca Rogério Reis lança mais uma pérola do que se pode esperar da fotografia feitas na Cidade Maravilhosa. Intitulado “Olho nu”, o livro chega via instituto Olga Kos, com 160 páginas, com edição dos irmãos João e Kiko Farkas, e totalmente em preto e branco.
A obra, que pode ser adquirida no valor de R$ 120,00, é um apanhado da trajetória de Rogério, com cliques datados há décadas, na cidade do Rio, que traz, também, séries de fotos já de destaque do fotógrafo, como “Na Lona”, “Ninguém é de Ninguém”, entre outros.
Na época, Rogério trabalhava em veículos jornalísticos, tais como o Jornal do Brasil, O Globo, Revista Veja, e para a Agência F4, e nesses anos se consagrou com alguns registros especiais, como o belo retrato de Carlos Drumond de Andrade, em 1982, quando o poeta completava 80 anos de vida.
Importantíssimo, a obra merece destaque, como um bom livro de fotografias de rua, num momento do qual essa arte era exclusiva aos fotógrafos profissionais. Por isso, nós entrevistamos Rogério Reis. É o que você confere a seguir.
(Vale pontuar que todas as vendas em livrarias serão vertidas para projetos sociais)
Matheus Luzi – Até que ponto você acredita que “Olho Nu” representa o nosso querido Rio de Janeiro?
Rogério Reis – Quando fui convidado para fazer esse livro do Rio conversei com o meu editor João Farkas e entendemos que o Rio “açucarado” do belo por do sol e das lindas montanhas não combinava com o meu perfil de cronista social. Como tenho dito, esse livro é o meu reencontro editorial com os hábitos e costumes das ruas, do gênero street photography, circuito bem ativado na segunda metade do séc XX, quando os fotógrafos de ofício detinham a exclusividade do meio fotográfico.
Matheus Luzi – Haveria alguma ou algumas intenções de “Olho Nu” para a arte da fotografia como um todo, para o Brasil e o mundo?
Rogério Reis – Livro pronto ganha vida própria, ainda é cedo para avaliar conquistas na trajetória do “Olho Nu”.
A intenção nos meus trabalhos é produzir imagens que me representam em determinado contexto sócio político cultural. Devo muito ao jornalismo até os anos 90, quando rompi com o meio noticioso por conta das minhas crises de representação da imagem. Em ”Olho Nu” encarno o paparazzo dos anônimos da minha cidade, [rsrs].
Matheus Luzi – Eu sei que é uma pergunta bastante difícil de responder, mas vamos tentar! [RSRS]. Você consegue considerar algumas fotos como as “mais importantes” do livro? Se sim, por quê?
Rogério Reis – Posso dizer com certeza que a série de fotos dos surfistas de trem do ramal de Japeri (uma caixa com dez fotos) é a mais solicitada e de maior circulação. Já a série “Na Lona” teve o seu livro esgotado, esteve presente em mais de 50 exposições e é bem colecionada. Por isso decidimos reeditá-la acrescentando algumas novas fotos desse ensaio produzido durante 15 anos.
Matheus Luzi – Qual a ligação que você faz entre os veículos jornalísticos que trabalhou com as fotos clicadas? O que os veículos em si influenciaram nesse processo?
Rogério Reis – O jornalismo é a nossa fonte primária da história. Sou formado pelas divisões de base do Jornal do Brasil redesenhado pelo Amilcar de Castro e me orgulho de ter atuado no período histórico da “anistia” às “diretas já”. Hoje produzo fora do regime de verdades do jornalismo, mas foi nesse ambiente inicial que ganhei disciplina, síntese e aprendi a interagir com as ruas.
Matheus Luzi – As fotografias de “Olho Nu” não foram clicadas atualmente. Peço que você faça uma análise dos anos em que elas foram tiradas em paralelo com o agora. Afinal, qual Rio de Janeiro você acha que suas lentes podem encontrar em um “remix 2021”?
Rogério Reis – Esse livro abrange uma seleção de fotos do passado, algumas inéditas e fotos recentes. A edição não é cronológica, trabalhamos com a ideia de tempo psicológico onde as fotos são pensadas em função de um fluxo que começa na praia da Urca, onde a cidade foi fundada por Estácio de Sá, passa pelo carnaval e termina com o Sérgio, conhecido catador de latas na Av. Vieira Souto.
Matheus Luzi – Pegando gancho na pergunta anterior, porque a ideia de lançar este livro agora, neste ano?
Rogério Reis – Mesmo em tempos pandêmicos cumprimos os prazos do contrato assinado antes da pandemia com o Instituto Olga Koz, produtores do livro. De comum acordo decidimos avançar com o livro mesmo diante do atual apagão dos produtos culturais. Já temos alguns sinais iniciais indicados pela demanda digital de que nossa decisão foi acertada.
Matheus Luzi – Já que você mesmo “o livro um reencontro editorial com a fotografia de rua”, acho oportuno você nos contar sobre como é este trabalho de rua. Também aproveito para te perguntar se há alguma história ou curiosidade que se destaque entre tantas que você provavelmente coleciona.
Rogério Reis – Posso completar que a rua é um desafio permanente de conquistar as pessoas, muitas vezes desconfiadas dos nossos propósitos. Por isso frequento o mesmo espaço por um bom tempo na busca por uma certa transparência. Quando faço fotos roubadas, não consentidas, penso no Banksy – artista de rua inglês – que diz que muitas vezes é mais fácil pedir perdão do que permissão. Já Picasso, aberto ao encontro com o acaso, nos disse “não sei o que busco, mas sei quando encontro”.
Matheus Luzi – Rogério, agradeço imensamente a oportunidade de entrevistar você. E para finalizar, te dou carta branca. Fale o que quiser!
Rogério Reis – Obrigado pelas suas perguntas!
FICHA TÉCNICA
Olho Nu – Rogério Reis – 160 páginas, R$ 120,00
Edição bilíngue português e inglês
Fotografias de Rogério Reis, Texto João Farkas, Edição de João Farkas e Kiko Farkas, Design de Kiko Farkas/Máquina Estúdio, Digitalização e tratamento das imagens de Mayra Rodrigues/Tyba, pré-impressão e impressão Gráfica Ipsis, em papel Couché Matte.
Patrocínio: Instituto Olga Kos, 2021
Distribuição: Martins Fontes