(Capa do EP)
Se no EP “Chão de Terra”, Victor Mus valorizou suas raízes, “Meus Nós”, o mais novo EP do artista carioca, vem para atestar uma liberdade musical e lírica amadurecida. O lançamento do álbum é a etapa final da Mostra Novos Talentos da Música, promovida por FIRJAN/SESI em 2019, da qual Mus foi o vencedor na categoria Voto Popular. Após o single “Vapor”, o EP completo chega às principais plataformas de streaming e tem produção assinada por Rogério da Costa Jr. e Rodrigo Vidal (Caetano Veloso, Maria Gadú).
Com uma visão sempre plural do cancioneiro nacional, Victor Mus passeia por ritmos regionais, sem se prender a rótulos, ao longo de quatro faixas. O trabalho abre com a já conhecida “Vapor”, construída como um “folk abrasileirado” para refletir a realidade dos relacionamentos líquidos e voláteis. Sua sintonia com a musicalidade baiana brota em “Que Sorte a Minha”, uma canção solar que busca inspiração no ijexá e samba-reggae em roupagem pop e moderna, com a ajuda do vocal convidado de Illy.
“Coragem” é um dos destaques do trabalho, trazendo uma mensagem de enfrentamento do que oprime e amedronta. Sem cair nos clichês das canções motivacionais, a faixa entrega uma visão realista da vida, aceitando os desafios como parte do aprendizado. Tudo isso é embalado por elementos de bumba-meu-boi e maracatu que vão além das alfaias e do gonguê e desembocam no cello.
“Porto Seguro” encerra o ciclo de “Meus Nós” ao fazer uma conexão direta com a primeira música. A temática das relações efêmeras retorna para entregar uma visão mais pop e dançante, embalada tanto por influências de Jorge Ben Jor quanto por uma lírica que joga com as palavras e contradições de força bem-humorada. A percussão orgânica se encontra com beats eletrônicos, enquanto violão, guitarras e flauta se mesclam a sintetizadores para remeter a influências como o afrobeat e o funk americano.
SOBRE O ARTISTA
Essa nova coleção de canções vem para somar à recente, porém prolífica carreira de Victor Mus. Inicialmente unindo a leve voz rouca com os acordes do violão, suas canções sempre falaram de amor e afeto em forma de poesia. Com mais de 50 apresentações em diversos palcos do Rio de Janeiro, o cantor e compositor se destacou com baladas como “Preguiça” e “Castelo”, presentes no EP “Chão de Terra” (2017). Desde então, vieram participações em festivais como Os Sons do Rio (Deezer/Secretaria de Cultura do Estado) e em coletâneas como “Garimpo”, realizada pelo portal Brasileiríssimos.
Em 2019, Mus revelou o primeiro passo de sua nova fase na carreira com o single e clipe “Vapor”. Ele foi um dos 12 selecionados pela FIRJAN no edital Novos Talentos da Música, se unindo a nomes como Facção Caipira, Pedro Mann e Isadora Melo. Victor se destacou ainda na Maratona Competitiva da mostra, que premiou também Pietá e Ilessi/Thiago Amud.
Haveria de alguma forma, uma definição poética e musical do álbum?
Talvez não. Na verdade, o EP segue uma linha poética mais ampla, aborda temas de perspectivas diferentes. Cada música passa uma mensagem de uma forma individual, então talvez a definição poética possa ser que o EP celebra as nossos milagres e tragédias diários. Já a definição musical vem através dos elementos que buscamos pra que ele fosse realizado. Tem diversos elementos regionais, mantendo uma pegada de música contemporânea pop.
Até onde você acha que a sua pessoalidade está presente nas faixas do álbum?
Em tudo. Foram alguns meses de trabalho, não só pra lançar o EP, mas desde o começo do projeto da Mostra de Talentos até a finalização do EP, e estive envolvido em todas as etapas. O EP é finalmente aquilo que eu sempre quis fazer. É também um reflexo do meu amadurecimento, em todos esses anos, como artista, mesmo. Desde a construção das músicas, a composição, até a produção, tudo reflete bem isso.
O que você diz nos versos das canções? Quais são suas temáticas?
“Vapor” é sobre aceitar quando as relações não saem como planejado, e entender que não é o fim do mundo – muito pelo contrário, pode ser é o começo dele.
“Que Sorte a Minha” é uma música pra dias quentes e alegres. É pra celebrar a vida, o amor, celebrar aquela pessoa maravilhosa que você ama e agradece por tê-la.
“Coragem” já é mais sobre enfrentar aquilo que te oprime de alguma forma. Acho que é meio que meu hino pessoal, porque a batalha que é ser músico nesse país necessita de coragem diária em grandes doses.
“Porto Seguro” já fala mais sobre aceitar aquele relacionamento fugaz, a inconstância da outra pessoa, mas de uma forma um pouco mais ácida, talvez irônica.
(Crédito: Zéca Vieira)
“Meus Nós” é resultado de quais inspirações artísticas?
Diretamente, tem muito de Gil, Ben Jor, Maria Gadú, que foram referências pra esse trabalho, mas nada é um ponto isolado, né? Então acaba que esse EP é a foz de um rio que vem há muito trazendo consigo as coisas que ouço, vejo, sinto, faço. Então tem um pouco de Lenine, Chico César, Caetano, todo mundo, né?
O que significa o nome do álbum ?
Nesse trabalho, nós pudemos trazer muitas referências e texturas. Muitas cores, perspectivas e sonoridades. Revelei diversas facetas minhas, e acho que cada uma, como cada música, é um emaranhado de outras coisas. Então quis transportar pro título algo que soasse múltiplo, que mostrasse exatamente essa multidão que a gente tem em nós mesmos.
Quais são seus planos para o futuro próximo e distante?
Acho que, após o EP, é pensar em disco, pra daqui a 2 anos. Talvez antes, depende do que vier a acontecer e de como tudo acontecer. Mas vamos trabalhar bastante esse EP, tocar bastante, buscar os festivais, rodar o país.
Você tem alguma(s) curiosidade(s) interessante(s) para os contar?
Bem, posso dizer que quando pensei em EP, nunca imaginei exatamente ESSAS músicas. Coragem, por exemplo, não era minha escolha nem de longe. Foi uma escolha em equipe. Mas ainda bem que estreou. Me surpreendi e amei o resultado!
Sinta-se a vontade para falar algo que eu não perguntei e que você gostaria de ter dito.
Só gostaria mesmo de agradecer a vocês pelo espaço, e pedir que todos ouçam o EP com carinho, porque tenho certeza que vai ter alguma música com a qual as pessoas vão se identificar e que, talvez, ajude no dia-a-dia. Muito obrigado!
Textos de Nathália Pandeló – Entrevista e edição de Matheus Luzi