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Retratar esse difícil (e libertador) momento de transição para a vida adulta em forma de arte é algo que se busca há muito tempo. No nosso século, no entanto, as novas tecnologias permitem que artistas não dependam tanto de empresários para se expressarem, o que traz mais naturalidade ao fazer artístico.
É neste sentido, de liberdade enquanto ao que gravar, que entra em cena Lucas Higashi, um jovem brasileiro que se sentiu à vontade para dizer em cinco faixas solitariamente autorais o que o início da vida adulta o fez refletir. Assim, é que apresentamos “Capítulos da Alvorada”, o EP de estreia deste rapaz corajoso e confessional.
O EP tem o seu princípio da melhor maneira: naturalmente e cuja a vontade de “expressão apenas” foi o grande motor. Esse momento antecedeu a viagem de Lucas para a nova cidade, onde serviria a faculdade. Sem encontrar canções que pudessem preencher suas playlists durante o percursso até a nova moradia, ele teve a ideia de criar as suas próprias que teriam esse tema.
Claro que esse foi apenas o início, até porque a pandemia atrapalhou os planos, mas manteve a semente que viria a brotar o tema da vida adulta e dos processos da vida como um todo. A seguir, o próprio músico explica:
“O EP se chama assim porque para mim aquele ditado: ‘a noite é uma criança’, então o dia é o adulto, cheio de tarefas e responsabilidades, a tarde é o idoso, quando já está cansado das tarefas do dia, e a madrugada é o jovem, boêmio e exagerado onde a alvorada é a transição entre o jovem e o adulto.”
A sonoridade
No geral, Lucas Higashi apostou no folk. Segundo ele, além de seu amor pelo gênero, os recursos disponíveis para a gravação do material condiziam com a realidade do movimento. No entanto, uma das faixas (“Sol Nascente”) foge ao padrão: é mais voltado ao indie pop, influenciado pelo pop dos anos 70/80.
As faixas comentadas pelo artista
“Laranja” abre o EP porque em termos de sonoridade, traduzia bem como seria o resto do projeto, ela é uma música sobre romantizar a ideia de um relacionamento que na realidade não era do jeito que se lembrava. Eu amo a produção dela, ela tem um som muito aconchegante e acolhedor pra mim e me lembrava muito da cor laranja, por isso ela tem esse nome.
“Bosque de Eucaliptos” é sobre um dos meus filmes favoritos: “Maurice” (1980) dirigido por James Ivory, trata-se de uma história gay onde o protagonista Maurice centra toda seu amor e vida romântica em Clive, mas quando se vê sem ele, não lhe resta nada.
Assim como as plantações de eucaliptos são conhecidas por beber muita água e acabar não tendo o suficiente para as plantas ao redor, sendo uma metáfora para esse relacionamento. Também gosto do nome “Bosque de Eucaliptos” pois acho irônico chamar uma plantação de bosque, romantizar algo da natureza que não é necessariamente natural naquele ambiente.
“Capítulos da Alvorada” é como eu imagino que teria sido minha vida se a pandemia não tivesse acontecido e meus planos de me mudar tivessem dado certo. Ela possui o nome do EP pois quando terminei de produzir ela sentia que ela representava exatamente o que eu buscava com o projeto, uma romantização da fuga da cidade pequena e o choque e aprendizado de como as coisas realmente são. Acredito que ela seja a mais triste do EP.
“19” é o contrário da anterior, enquanto a “Capítulos da Alvorada” romantiza essa mudança, “19” narra como ela é, é uma música que trata dessa entrada na vida adulta mas sem o preparo social que deveria ter com ela. A produção dela é uma das mais legais em minha opinião porque eu queria que ela soasse como se eu estivesse galopando em um cavalo em busca de aventura, retomando o conceito de tornar o protagonista da minha própria história.
“Sol Nascente” desde o início sabia que seria a última faixa do EP, ela é uma música otimista, leve e esperançosa em relação ao futuro, de querer se jogar e se aventurar nesse mundo e levar essa nova fase como adulto de uma maneira mais divertida, dando um final feliz para esse projeto. Em termos de produção ela é bem diferente, não é um folk mais calmo e sim um pop mais alegre, mas pra mim era importante ver esse processo de amadurecimento como algo mais positivo e “Sol Nascente” cumpre esse papel.
Faixa Bônus: “Fugere Urbem” é uma música que escrevi depois de terminar o EP e originalmente era pra ser a outro de um podcast que eu ia fazer falando do projeto, mas gostei tanto dela que decidi inclui-la no CD físico que fiz. Eu vejo ela como a parte dos créditos finais dos filmes, quando você termina o filme mas ainda não quer lidar com a realidade e continua sentado olhando para a tela, ela foi a música mais divertida de se produzir e tenho muito carinho por ela.
Muito obrigado a você que chegou até aqui. Esperamos que este lançamento seja importante para você, e que nossa reportagem traga luz a ele.