O caminho trilhado da arte é cansativo, óbvio, mas determinação, garra e força é com ela mesmo. Uma atriz com classe e glamour. Marcele Santos da Silva tem 19 anos, nascida na cidade de Salvador em 21 de abril de 2001, ganhou espaço ainda nova, e, desde então vem ganhando.
História contada por ela
Eu sempre fui muito apaixonada pelas múltiplas linguagens artísticas, desde criança sempre me envolvia com as apresentações de dança, música e teatro da escola, sem vergonha nenhuma. Na adolescência comecei a frequentar a igreja e dentro da igreja eu cantava bastante, fazia coreografias, dava ideias de apresentações, de cenas para o culto de domingo. Ficava me responsabilizando por várias coisas.
E a partir daí comecei a reparar que eu realmente gostava de fazer tudo aquilo, e que me fazia muito bem, todos os colégios que frequentei dos 8 a 17 anos, fiz apresentações artísticas e me envolvia em todos os projetos voltados para a arte. A arte é tão forte na minha vida, que, na infância eu brincava de bonecas imaginando novelas, filmes… E as minhas brincadeiras tinham roteiro, eu gostava de brincar sozinha e idealizar o início, meio e fim do meu brincar. A minha imaginação já ia por esse lado, sabe?
No meu ensino médio, que foi no colégio Estadual Odorico Tavares, entrei lá com 14 anos em 2015, foi uma experiência incrível, eu conheci a arte de diversas maneiras e pratiquei muito ali dentro, escrevi roteiros de apresentação pela primeira vez. Roteiros sobre assuntos políticos, sociais. Também cantei, dancei, ganhei gincana com apresentação de teatro. Em 2016 eu conheço o Grupo de Teatro Novos Arteiros, fiz uma seleção interna para um Espetáculo, passei e estou lá até hoje, minha segunda família.
Minha primeira experiência com palco de teatro foi com o grupo, logo depois dos Novos Arteiros, em 2017 fui para o CRIA (Centro de Referência Integral de Adolescentes) localizado no Pelourinho, que é um espaço que trabalha com jovens de diversas comunidades de Salvador, trabalha com arte e educação, é um espaço que eu amo muito, é como uma casa pra mim, hoje em dia eu não faço mais parte dos grupos de lá, mas não deixo de ser ”Cria da casa”. Em 2018, eu entrei na UFBA para cursar Licenciatura em Teatro com 16 anos ainda, iria para o curso de Jornalismo, larguei mão porque eu entendia que o teatro era a minha paixão. Hoje estou lá, no 5° semestre da graduação. Meu primeiro Espetáculo foi “O Portal Paradoxo dos Sonhos” pelos Novos Arteiros.
O segundo foi “O Cidadão de Papel” parceria de Marcos Oliveira com os Novos Arteiros.
Terceiro “Quem me ensinou a Nadar?” Pelo CRIA (centro de referência integral de adolescentes). Quarto “Voz Ativa” também pelos Novos Arteiros, e teve outros, não consigo lembrar a ordem exata… “Lágrima Alegria” Espetáculo de uma Professora da UFBA. “As Replicantes”, “A Vida Como Ela É” e “Por que Eva?” Pelo Teatro Tríade.
E teve uns projetos de amigos da UFBA que eu atuei, projetos de Estudantes. “Navalha na Carne” e “Pequenos Burgueses”. Fiz parte da direção de uma peça chamada “O Auto da Barca do Inferno”, que é um texto medieval que pegamos para trabalhar no terceiro semestre da faculdade.
Comecei nos Novos Arteiros como atriz, hoje faço parte da direção, como: Coordenadora de comunicação, assistente de direção e preparadora corporal de um dos elencos. Hoje na graduação tenho como objetivo pesquisar sobre Teatroterapia, que é o uso do teatro para tratamentos psicológicos. Atualmente esse é o meu objeto de pesquisa, eu o almejo para mestrado.
Marcas importantes para o amadurecimento
O que mais marcou a minha vida, sem dúvidas foram as minhas perdas. Fui criada pelos meus avós até os meus 10 anos, perdi os dois, o meu avô em 2009 e minha avó em 2016. Meu tio bastante próximo em 2018 e o meu pai no ano passado 2019. Foram as minhas perdas mais próximas, e eu sofri muito, passei por várias situações complicadas, psicológico abalado… A arte me ajudou muito a me segurar e criar forças, funciona como a minha injeção, eu costumo dizer.
Na arte os momentos que mais me marcaram: Eu cantei algumas vezes no colégio, ensino médio, passei vergonha, muita gente riu, o som deu pau, microfone ficou ruim, e o público não era pequeno. Eu chorei por semanas e fiquei com problemas pra apresentar novamente, qualquer outra coisa. Eu sou uma atriz Visceral, eu sinto muito as coisas, teve personagens que me marcaram bastante…
Luan FH – Quando a palavra é “Teatro”, o que vem a sua cabeça? Quais sãos os pensamentos?
Marcele – Teatro/Artes Cênicas/Arte Teatral pra mim é a imitação da vida, o que tira e trás da realidade ao mesmo tempo. O que nos permite vislumbrar a vida de outras formas além do real. É o assistir a realidade ou não realidade de diversas formas. Artes Cênicas é História que pode ser contada de forma real, natural, simbólica, absurda, não tem limites… É o que permite a linguagem do corpo completo e as suas nuances em estado de limite, ou até além do limite. Leitura inteligente de um corpo presente no mundo, no palco, disposto a falar com todas as suas probabilidades corporais através de um roteiro, ou não roteiro. É o que nos permite ser tudo, mesmo sendo apenas um só ocupando um espaço no mundo. Permite-nos o autoconhecimento e conhecimento do mundo de uma forma prazerosa e intensa. Nada melhor do que sentir e ver a vida de diversas formas ao vivo e a cores em um palco. É o meu vício, é uma das minhas moradas, o que me dá gás para entender, compreender no meu tempo e no meu processo, a mim mesma e ao mundo a volta. Foi o meu o único amor à primeira vista.
Luan FH – Existe um ator ou atriz que te inspira?
Marcele – Sim! Mas eu me inspiro muito nos Novos Arteiros e no CRIA, nos meus amigos, artistas… É deles que vem a minha maior inspiração.
“Teatro/Artes Cênicas/Arte Teatral pra mim é a imitação da vida, o que tira e trás da realidade ao mesmo tempo. O que nos permite vislumbrar a vida de outras formas além do real. É o assistir a realidade ou não realidade de diversas formas. Artes Cênicas é História que pode ser contada de forma real, natural, simbólica, absurda, não tem limites…”
Luan FH – Você já obteve alguma conquista como atriz?
Marcele – Cada espetáculo e trabalho com a arte pra mim é uma conquista, cada elogio se torna uma conquista… O riso do público, a lágrima deles ao me assistir… São as minhas maiores conquistas. E tem a maior de todas que é: Como atriz eu ganhei uma evolução como pessoa, uma conquista e tanta, com certeza.
Luan FH – Por ser jovem, nova, você já se sentiu orgulhosa por caminhar em trilhos diferente de outros jovens da tua mesma idade?
Marcele – No início não, fui muito criticada, e comecei a ficar confusa mesmo sabendo que era o que eu realmente amava. As pessoas falavam “Não dá dinheiro”, “Vai viver de que?” e blá blá blá. Demorou um pouco para que eu tivesse uma voz ativa com essas pessoas. Cheguei a pensar “Será que fiz mal em fazer o que eu realmente quero?” eu pensava aos 16 anos… Mas aprendi a ter orgulho de mim e da minha caminhada, criando autoconfiança. Porque o Teatro foi a primeira coisa que eu me sentir completamente pronta e apta para fazer, sem inseguranças. Eu sou uma pessoa insegura, então… Eu queria isso… Me orgulho muito disso. Porém, já fiquei no lugar da dúvida por me preocupar com o pensamento alheio, o que é péssimo, e aos 16 anos, então…
“Eu gosto de pensar que a arte é a injeção do mundo, que, em tantos momentos apenas ela faz sentido. Penso também que, todo ser humano carrega consigo uma forma de arte […]”
Luan FH – Desde que você entrou no mundo da arte, sua vida, perspectiva do mundo mudou ou vem mudando?
Marcele – Vem mudando, o processo não para. Eu venho me conhecendo e reconhecendo mais. Eu vejo o mundo de maneiras diferentes, antes da arte, eu acreditava apenas em uma única verdade sobre tudo, com base na minha criação e depois da arte eu vi que existiam outras verdades sobre tudo. Aprendi a falar, ouvir, escutar, perceber, criticar positivamente e dentre tantas outras coisas positivas. E tudo vem mudando, a arte, ela está ligada a tudo, e te ensina muito sobre você mesmo e o mundo a sua volta, sempre.
Luan FH – Espaço livre para dizer o que quiser: Filosofia ou mensagem.
Marcele – Eu gosto de pensar que a arte é a injeção do mundo, que, em tantos momentos apenas ela faz sentido. Penso também que, todo ser humano carrega consigo uma forma de arte, e como diz Stanislavski: “Ame a arte que há em você. Não você na arte.”, As pessoas precisam notar a arte que há dentro delas e amá-la de dentro pra fora, pra sentir e permitir uma certa salvação de muitas coisas negativas das quais a sociedade está repleta. O mundo precisa da arte!
Precisa aprender a amá-la e respeitá-la, porque é como eu disse, ela sempre faz sentido, e não nos abandona. Eu sou Marcele, e assim como todos os artistas do mundo, eu sou, Arte.
Pequena resenha
Caso a caso, é o ponto a ponto disso tudo. A arte transforma as pessoas devagar, conquista sempre será ao longo prazo; e valerá a pena!
Marcele é gigante dentro da sociedade, pense bem, pois um grupo de teatro que muda a vida de um jovem é sim, de extrema importância. Temos muito que aprender com Marcele, a dama e peça fundamental de um grupo teatral. Eu bato palmas de pé, pois sentado eu assisto a peça!