Poderia ser mais uma daquelas resenhas que escrevo sobre um livro que eu acabara de ler, no entanto é algo mais além e profundo que transcreve a nossa realidade. Vamos entrar em mares calmos e outras vezes revoltosos. Uma oscilação na vida de muitas mulheres: A mulher que se vê mãe diante de tanta pobreza, a fome constante e a difícil luta para enganar o estômago das crianças. O cotidiano atribulado da vida de personagens que se contrastam com a realidade atual, ao qual a maior parte da população negra feminina faz parte.
No ônibus lotado temos inúmeras conversas, falas altas retratando mundos diferentes daqueles que nasceram em “berço de ouro”. Em alguns bancos, ali sentadas, mulheres indo para o trabalho, outras em pé, à procura de condições melhores para elas e muitas delas para seus filhos.
No bairro pobre temos a mãe jovem sem conhecimento, ou consciência de que a sua vida jamais será a mesma. A gravidez precoce mudaria tudo, de menina à mulher. A sexualidade à flor da pele!
Em meio a esse cotidiano cheio de conflitos, temos corpos no chão, vidas ceifadas. Destinos que poderiam ser diferentes.
Essas histórias nos deparamos no dia a dia de muitas comunidades e são retratadas no livro “Olhos d’água” da escritora Conceição Evaristo. Os personagens são em sua maioria mulheres pretas e periféricas, 15 contos que compõem a obra trazendo a nossa dura realidade.
Essas mulheres que compõem as suas narrativas trazem a ancestralidade afro-brasileira e a sua identidade.
O livro lançado em 2014, é uma daquelas obras que nos fazem pensar muito trazendo à tona inúmeros sentimentos guardados. A pobreza e a violência urbana estão presentes em cada linha dos seus contos. Destaca-se em sua temática questões sociais, incluindo questões existenciais e emocionais, como o racismo. Dá ênfase em cada linha para todo tipo de violência e os amores.
Embora a obra faça parte do gênero ficção, ela não foge da realidade atual. Na realidade atual nos deparamos com a triste escrevivência da comunidade negra. Conceição Evaristo denuncia as consequências da exclusão e da discriminação, deixando claro a sua esperança de que um dia isso melhore.
Um dos seus maiores conflitos presentes na obra é por ela não lembrar a cor dos olhos de sua mãe. Conflitos internos que qualquer pessoa carrega com sigo.
Sobre a autora eu posso dizer que ela é uma linguista e escritora afro-brasileira. Mineira, a escritora Conceição Evaristo, agora aposentada, teve uma produtiva carreira como pesquisadora docente universitária. Em todas as suas obras a escritora mostra o prosseguimento da exclusão do negro desde o período escravocrata até o período colonial no Brasil. Para a cultura brasileira suas obras fazem parte da literatura contemporânea brasileira.
A título de curiosidade o nome de sua obra “Olhos d’água” surgiu devido a presença de três nascentes d’água que os moradores que ali viviam usavam e até levavam a água para os quintais de suas casas. Outra curiosidade é a formação da identidade cultural brasileira, ao qual bem sabemos que boa parte da nossa cultura é originária do continente africano. No livro vemos isso também por meio de palavras oriundas de idiomas africanos.
Uma das palavras que mais me chamou atenção é a “Yabá ou Yabás” e como desafio procurei saber sua origem e significado. Porque junto da leitura temos o conhecimento e com ele vem os novos desafios. E não poderia ser diferente com este livro, ele me deu a oportunidade de conhecer coisas novas. No livro “Olhos d’água” da escritora Conceição Evaristo eu vi a palavra “Yabá”, e como já havia dito, ela me chamou a atenção. Até então, por ser um nome forte e bonito, o que me levou a curiosidade em saber o seu significado. Parece até ironia da minha parte, uma palavra africana tão forte a sua presença no Brasil e eu a desconhecê-la. Entretanto não importa se cedo ou tarde a pessoa adquire o conhecimento, o importante é querer fazer parte dele.
Pelo que eu acabei sabendo no Brasil dia 13 de dezembro é a comemoração festiva das Yabás. Mas se faz necessário irmos ao ponto de partida para que se tenha melhor entendimento sobre essa data e o sentido das Yabás.
A origem da palavra “Yabá” vem do Continente Africano e tem como significado “Mãe Rainha”. Título somente atribuído a dois orixás, “Yemanjá e Oxum”. Porém, no Brasil esse título se estendeu a todos orixás femininos aos quais podem ser chamados de Aiabás, Lyagbas, Iabá, Lyabá ou Aiabá.