Muitas sugestões chegam até nós, mas nem todas estarão aqui. Esta é uma lista de novidades mensais, com músicas novas, quentes, diferentes. A seleção é eclética, serve para todos os gostos.
É importante ressaltar: que as posições são aleatórias, não indicando que uma seja melhor que a outra; essa lista é atualizada diariamente, até o encerramento do mês.
Brune Motta – “Corpo D’água” – (single e clipe)
Tendo o transtorno bipolar quase mutuamente como amigo e inimigo, Brune Motta estendeu a sua angústia para a música, no formato poético. É essa a inspiração de “Corpo D’água”, seu novo single. O clipe disponível no Youtube cumpriu bem sua missão de traduzi-lo em imagens.
Nele, a dor contracena com a expressão criativa, os impulsos, a coragem. Uma fotografia do íntimo de Brune, dos dois lados de suas emoções. Assim, esta canção é uma carta de boas vindas ao inesperado porvir, à maré serena ou violenta. É esse abrir-se às experiências boas e ruins que formam o ambiente sentimental e lírico desta música.
Sequência da sonoridade construída a partir do EP “Ametista”, de 2021, “Corpo D’água” é um mix de pop, MPB, sintetizadores e guitarra elétrica. Esse agrupamento de referências foi autointitulado de “bad dance”, ou “pop alternativo melancólico”.
Vale dizer que este lançamento tem o apoio do Edital Gira!, promoção da Revista Noize, e produção do selo PWR Records.
Jonny Voice – “Maquinista” – (single e clipe)
Um cristão ousado-original, transcendente e de acolhimento. São essas as verves mais bonitas de “Maquinista”, o novo single de Jonny Voice, que também é vocalista da banda gospel Via33. Mas por que digo isso?
Ousado e original por sua linguagem metafórica e poética aquém do comum, e por agregar ao universo cristão as referências de Chris Cornell e Engenheiros do Hawaii, do rock acústico e do folk.
Transcendente pelas explicações anteriores e pela letra existencial. Nela, Jonny é capaz de usar a música para conduzir o ouvinte a uma percepção de vida adaptada para qualquer religião, e para a maioria das linhas filosóficas desprendidas da clássica imagem divina.
Se no refrão Jonny é grato pelo Maquinista (título de divino em passagens bíblicas) por chegar até aqui, eu sou a Jonny e ao Maquinista por nos presentar com essa obra-mestra. Por fim, está aí a razão em defini-lo como “acolhedor”.
Sylvestra Bianchi – “Dancing With The Elves” – (single e clipe)
Em 2015, segundo relato pessoal, guias espirituais convidaram a administradora e engenheira civil Sylvetra Bianchi a despertar para a música, um amor antigo e escondido por trás da falta de autoconhecimento e auto cura, processos iniciados desde então.
A partir dessa magia, sua persona é inspiradora. Acredito (sem muita preocupação em estar errado) de que essa afirmação é unânime entre os seus seguidores nas redes sociais e nas plataformas digitais de streaming.
Essa paz e missão de transmiti-la ao mundo tem um exemplo de fácil digestão e atual: o single “Dancing With The Elves”, lançado em janeiro de 2022, e promovido novamente em fevereiro, com o clipe ilustrativo.
O primeiro impacto ao ouvir esse lançamento e os anteriores, muitas vezes é de estranhamento. Isso porque a artista curitibana confronta harmonicamente ritmos como rock, jazz e blues com a temática espiritualista. Algo não muito comum no meio, ainda mais da forma amistosa aplicada. Este mix foi auto conceituado como “Rock Cósmico”.
É muito bonito ver a arte trilhar um caminho como este, de algo que os ouvidos são agraciados sem necessitarem de muitas explicações. Que Sylvestra Bianchi cause entusiasmo nas novas gerações.
Sua obra, teimo em dizer, é sinônimo de compreender a música como louvor a própria capacidade da potência enquanto matéria e espírito, sempre.
Tattiana Teixeira – “Serena” (single)
O novo single autoral da pernambucana Tattiana Teixeira é um reggae “pop”, ou seja, facilmente aceita por muitas tribos. A simplicidade a torna acessível a todos.
Gravada com o brilho de instrumentos de sopro (saxofone, trombone e trompete), “Serena” é musicalmente sinônimo de vida boa e remelexo da alma-corpo, mutuamente.
Este som inaugura “Amares”, EP de estreia da cantora, compositora e jornalista que atualmente mora em Florianópolis (SC). O projeto é sobre as diferentes fases de um relacionamento afetivo.
As outras duas faixas serão lançadas até maio, e embarcam o “samba rock” e o “pop leve”, como ela mesmo anunciou.
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Varanda – “Ode ao Infinito” – (EP)
Há entre as incontáveis bandas do nosso país, um grupo de quatro jovens mineiros original, ousado, e pronto pro mercado. De Juiz de Fora, a Varanda é inspirada no clássico Clube da Esquina, e em outros que compartilham da geração dos integrantes, a exemplo de Cicero, Baleia, Ventre e Maglore.
O curioso é como eles são pop, ainda que distante daqueles que lideram os números de views. Posso dizer sem preocupação alguma que boa parte do conceito “jovem” se aplica com perfeição neste caso. É muita atitude musical e letras que dialogam com as angústias cotidianas da moçada.
A genialidade também se encaixa na Varanda. Com sabedoria, cautela e lucidez fizeram do antigo e do novo uma coisa só, oferecendo uma experiência distinta, novata no mundo.
Exagerei? Responda somente depois de ouvir as seis faixas de “Ode ao Infinito”, o EP de estreia do quarteto.
O Teatro Mágico – “Instalação” (single e clipe)
A banda O Teatro Mágico lançou no dia 23 de fevereiro o single “Instalação”, também disponível em clipe no Youtube. Composta pelos integrantes Danilo Souza e Fernando Anitelli no período inicial do grupo, a canção havia, até então, dormido nas sombras.
Durante a escolha do repertório do novo álbum, programado para o próximo dia 18, eles a encontraram. Algumas lapidadas foram feitas. O resultado revela uma abordagem mais pop e dançante, e atenta ao moderno, às novas expectativas da nova geração de jovens. Mantendo, no entanto, a sua essência mágica ao qual apaixonou os brasileiros.
Segundo Anitelli, esta música representa uma nova era para a banda, e o que se pode esperar do novo disco. A partir deste mês, eles embarcam na turnê “Luzente”, rodando o Brasil, e com setlist que prioriza as faixas deste novo lançamento.
Ivan Britz – “Proto Trypical Human, Pt. 2” – (EP)
Cosmopolita, Ivan Britz é um carioca que viveu a infância em Southampton, na Inglaterra. Atualmente, vale dizer, reside em sua terra natal.
Essa informação é importante, se formos mergulhar em sua obra musical recente: um mix do cancioneiro brasileiro, com R&B, pop urbano e lembranças do grunge. Entretanto, essa mistura é agraciada pela melancolia.
O álbum ao qual essa linha artística está inserida chegará completo em maio deste ano. O objetivo, segundo Ivan, é que seja um feixe de luz para um mundo melhor, com raios de boas reflexões sobre a existência humana.
O segundo fragmento deste projeto já está disponível em todos os aplicativos digitais de música. Se trata do EP “Proto Typical Human, Pt. 2”, um cartão de visita para conhecer este artista além do comum.
Balara – “Se Eu Morasse Em Você” (single e clipe)
A banda santista Balara faz do rock um gênero pop. Duas explicações e justificações práticas, rápidas e de fácil digestão:
-> Em pleno 2022, era da ausência do gênero nos top de reproduções digitais, quase 500 mil pessoas escutam o trio somente no Spotify;
-> o novo single “Se Eu Morasse Em Você” é o exemplo mais atual de como o grupo da terra do Chorão sabe como adaptar o rock para a juventude do século XXI.
A música é romântica, poética e metafórica. Ela, vale dizer, é o que se pode esperar do segundo álbum, programado para este semestre.
Carol Dytz – “Elo” (EP)
O popular verso Freud Explica, de Zé Ramalho em “Chão de Giz”, antagoniza com a poesia da que considero a canção mais forte do novo EP da cantora e compositora Carol Dytz, destacada representante da nova cena carioca da MPB.
Nesta faixa, a de abertura do trabalho, a artista diz que suas dores, angústias e solidão são incapazes de serem compreendidas, o que engloba radicalmente a Psicanálise. Entretanto, a própria doutrina da psicologia levaria Carol a sério, já que setores relevantes deste conhecimento enxergam o ser humano como uma espécie subjetiva, cujo sentimentos são únicos.
Fora da ciência, o apoio é generalizado. Afinal, alguém neste mundo tem o seu sofrimento plenamente compreendido? Ninguém, né!
Sandra Irís – “Smooth Jazz” (Single)
Espanhola de 26 anos, Sandra Íris é uma artista pop, jazzística, mas também abençoada pela bossa nova, a nossa querida bossa nova! A cantora-compositora une esses três ritmos em “Smooth Jazz”, o seu 8º lançamento nas plataformas digitais.
A letra cantada em sua língua, acompanha uma sonoridade bastante good vibe, e se assemelha a artistas como Laufey, Bruno Major, Eloise. Em relação ao seu jazz, outra particularidade: é inspirado no gênero dentro da América Latina. Por fim, ser eclético parece ser o jeito Sandra Íris de ser.
O single, por sua vez, é o terceiro do EP de estreia desta jovem de Madrid.
Lorenzo – “Ao Vivo no Teatro Alterosa” – (DVD)
Show registrado em 2020 no Teatro Alterosa (Belo Horizonte) é o novo lançamento do mineiro Lorenzo, cuja trajetória totaliza 10 anos de estrada. Dentre as 16 canções autorais gravadas ao vivo, 4 são inéditas, uma com a participação do compositor Heitor Branquinho.
Além da banda de acompanhamento, o conterrâneo Landau (irmão dos artistas Rogério Flausino e Wilson Sideral) colaborou na canção “Acabou”, considerada em destaque dentro do repertório de Lorenzo.
O registro também está disponível em áudio nas plataformas de streaming.
Christian Dias – “Canção Pra Dois” (single)
Nos palcos e estúdios, Christian Dias é conhecido como guitarrista. Esta definição, entretanto, agora é quebrada oficialmente com a estreia de sua carreira solo, na qual se apresenta como cantor e compositor, atividade até então nas sombras.
Ao contrário do imaginário popular do circuito musical ao qual se revelou nos últimos anos, o artista não gravou nada com guitarras distorcidas ou viradas de bateria, e tampouco com sonoridade pesada. Ao invés disso, se voltou a ritmos mais melódicos e lentos: folk, indie e MPB, inspirado em nomes como Neil Young, Rodrigo Amarante, Erasmo Carlos, Mac Demarco, George Harrison, Tim Bernardes.
Gravado ao lado apenas de clarinete (Gabriel Loddo) e guitarra, “Canção Pra Dois” é o primeiro single desta nova fase, lançamento que antecipa o EP previsto para o próximo semestre que, a custo de curiosidade, está sendo produzido nos estúdios da Berklee, em Valência, na Espanha, onde Chris foi aprovado para o Mestrado em Produção Musical.
Blosun – “Black Lodge” (single)
A Blosun é o duo de Gabriela Gatti e Gustavo Silva. Juntos, formaram uma estética musical ímpar, ousada e aparentemente despretensiosa em relação ao grande mercado, mas muito bem aventurada artisticamente.
Numa rápida espiada em seus perfis nas plataformas digitais, apenas o primeiro lançamento, “Come Find Me”, é uma canção. As outras 4 são instrumentais. Entre elas, está “Black Lodge”, a música que o duo lançou recentemente.
Instrumental de ponta a ponta, a música vai além do imaginado, ao unir o jazz, lo-fi e hip hop em algo bastante sentimental e puro. Se for para comprar a algo, eu diria que “Black Lodge” é um vento fresco capaz de mover até, talvez, os cabelos mais resistentes.
Djavan e Mário Lúcio – “Hino à Gratidão” (single)
Lançada em outubro de 2021 na língua originária do cabo-verdiano Mario Lucio, desde então, “Hino a Gratidão” já recebeu cinco versões ao redor do mundo. No dia 21 deste mês, Djavan lançou a sua própria releitura, na língua portuguesa brasileira.
Editado pela Maré Música, a gravação aconteceu ao lado das vozes do próprio autor da obra e de Zulu Gospel Choir. A novidade é a sequência interminável deste artista alagoano que sempre se conectou com a cultura africana.
Lu Toledo e Valter Saty – “Por tudo o que for Amor” (álbum)
Os cantores e compositores Lu Toledo e Valter Saty encontraram uma solução “espiritual” para a pandemia: a música.
É assim, entre mortes, conflitos e colapso geral, que ambos os artistas chegaram a “Por tudo o que for Amor”, álbum de estreia, com 14 faixas sobre sentimentos bons e doces, aqueles que parecem serem os únicos capazes de domar o vírus mais famoso do século XXI.
O que também torna, no entanto, este disco um abre-céu é a sua delicadeza sonora. Cantos, arranjos e melodias leves, típicos do que acreditamos ecoar no paraíso celestial.
Depois desse elogio, você vai mesmo ignorar esse lançamento?
Beni Borja – “No Meio do Caminho” (álbum)
Menos ligado aos holofotes e mais à pura arte, Beni Borja foi essencial na música brasileira, mais específico, no pop rock e cultura pop. Um dos fundadores da banda Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, e também baterista em sua primeira formação, passou pelas principais gravadoras brasileiras, trabalhou com nomes como Fernanda Abreu, Farofa Carioca, Celso Blues Boy.
Além de compositor de sucessos, descobriu e trabalhou com talentos como Biquini Cavadão e Gabriel O Pensador. Já em seu próprio selo (Psicotronica), criado no início dos anos 2000, Beni lançou, como exemplos de assertividade, os álbuns “Novo Mundo” (Picassos Falsos) e “Atemporal” (Cris Braun), entre 2003 e 2004.
Apesar dessa marcante trajetória, o artista não tinha nenhum disco próprio lançado. A partir de 2016, iniciou-se, então, o projeto “No Meio do Caminho”, álbum que só chegou ao mundo neste mês de fevereiro. No entanto, é triste dizer que ele é póstumo. Ou seja, na véspera do natal de 2021, o artista sofreu um infarto fulminante, nos deixando aos 60 anos de idade.
Aos olhos atentos, este disco é a revelação libertária do Beni artista, mas também um jeito (inconsciente) de dizer “Um abraço e até a próxima!”.
Confira o obituário do músico no G1, no blog do Mauro Ferreira.
Junior Marques – “Iemanjá” (single/clipe)
No início dos anos 2000, Junior Marques se destacou no cenário musical baiano. Já em 2022, o artista retorna ao universo artístico, com single lançado no dia 2 deste mês. A música, intitulada “Iemanjá”, é formado por dois ritmos: o ijexá e o axé, que juntos formam essa sonoridade baiana-goodvibes de Junior.
Como produtor musical de si mesmo, Junior uniu arranjos atuais a características dos tempos de ouro do Axé Music. Entretanto, as abordagens musicais dele beiram as areias da MPB, ou de alguma sonoridade que busque um contato maior com outros gêneros brasileiros do tipo.
Já como poeta, o músico foi oportunista: lançou-a no Dia da Rainha do Mar, ou seja, o dia que se celebra Iemanja. A data é uma companheira da letra. Ambas exaltam sentimentos como a positividade e a fé, assim como reverenciam o mar e a vida.
O lançamento é o primeiro filho a ganhar luz em relação ao EP programado para o 2º semestre deste ano.
Siga o artista no instagram e atente-se a suas novidades.
Madhu – “Mãe e Filha” (single e clipe)
Autoproclamada ironicamente como aquela que “sofre de problemas musicais”, a cantora e compositora mineira Madhu iniciou profissionalmente neste início de 2022 com um feat bem sucedido no single da banda Mauna. A gravação, vale dizer, foi escutada até momento por mais de 60 mil pessoas somente no Spotify.
Agora, ela estreia literalmente sua carreira solo. A canção escolhida, disponível em áudio e clipe, se chama “Mãe e Filha”. A letra desconstitui os clichês a respeito do tema de amor no seio familiar. Neste caso, se tirarmos o título, pode ser que seja difícil entender que a canção é de filha para mãe.
Além disso, Madhu investe no pop rock, o que posiciona “Mãe e Filha” de acordo com uma vida mais alto astral. Madhu também se define como uma artista influenciada pelo folk, MPB e indie, que trazem, em sua plena leveza, o lado mais doce e reflexivo deste lançamento.
Por fim, sua juventude e vitalidade potente que estão na essência de sua obra a fez merecer um espaço nesta página de lançamentos especiais de fevereiro.
Detonautas Roque Clube – “Esperança” (Álbum)
Atração confirmada para o Lollapalooza 2022, a Detonautas Roque Clube (@detonautas) também tem uma novidade em suas plataformas digitais: o álbum demasiadamente pop rock “Esperança”.
Após imersão em críticas sociais ao longo dos últimos anos, com “Micheque” e “Kit Gay” como bons exemplos de sucesso e repercussão, o novo disco abstêm deste lado opositor que Tico Santta Cruz (@ticostacruz) e os companheiros de banda cravaram contra o atual governo.
No entanto, seria ignorância dizer que os caras estão dormindo na praia. As 8 faixas são reflexivas, alfinetadas, de atitude jovem, embriagadas de bom senso e lições cotidianas. Ao mesmo tempo, porém, românticas.
O trabalho, gravado em 2020, tem produção musical de Marcelo Sussekind. A faixa “Medo”, que é um poema de Bráulio Bessa, tem a participação de Frejat. Ainda há uma releitura para “Amanhã é 23”, da Kid Abelha.
Tucho – “Ask Yourself” (Single)
Cria do R&B dos anos 2000 e do rock, mas também expansivo em relação ao soul, funk, folk, blues e bossa nova, Tucho iniciou sua carreira 2020, no início da pandemia. Atualmente, o artista divulgou seu terceiro single, “Ask Yourself”.
Em sua auto avaliação, que coincide com a nossa, este lançamento é ensolarado e praiano, na pegada “meio-brasileiro-meio-indie”, e com a exaltação da beleza do amor como inspiração para a letra e a música como um todo.
Siga no instagram @caio.tucho
Brina Costa – “20/21” (Single e clipe)
Antes das próximas palavras, vale mencionar o quanto os nossos ouvidos são agraciados musicalmente com três questões essenciais sobre este lançamento: a voz aguda e cênica de Brina, o violão debruçado em dedilhados, e um sutil (mas potente) toque percussivo, ambos instrumentos genialmente executados por Paulo Mutti.
No entanto, é esse apenas o ambiente sonoro de “20/21”, o single autoral que esta artista carioca soltou nos apps de streaming.
Aos bons apreciadores da “música de letra, social e política”, esta é uma pérola-canção. Brina parte do princípio de que o nosso Brasil é, na verdade, uma mãe descontrolada, que perde muitos de seus filhos, assassinados pela própria história brasileira.
Assim, ela canta “Dói sentir que a pátria mãe abandonou os seus filhos, todos os seus filhos”. Após isso, porém, a cantora exalta a dor desta mãe que “ainda chora pelo seu filho que se foi”.
Na sequência, a pergunta secular dos brasileiros é colocada em foco, em vários versos: “Como sair dessa miséria chamada Brasil?”. A resposta, como sabemos, é desconhecida, já que tal questão é prioridade apenas para pessoas comuns, e não para os detentores de poder.
Por mais que a música “20/21” tenha como inspiração o atual governo Bolsonaro, ela é um retrato do nosso país, desde que Brasil é Brasil.
Matheus Who – “Pé na Areia” (Single e clipe)
Desde que Matheus Who chegou ao grande público com “A Dobra no Espaço-tempo” (2021), seu disco de estreia, ninguém (ninguém mesmo) imaginou que o jovem revelação do bedroom pop nacional seria um menino do samba.
Mas é quase isso que aconteceu em seu novo single. Em verdade, é o primeiro cover oficial da carreira do carioca, mas que traz o seu indie pop para “Pé na Areia”, sucesso na voz de Diogo Nogueira.
Entre os comentários no Youtube, todos positivos, irei mencionar três: “A cena indie do Brasil está me impressionando muito, espero ver uma febre nesse estilo aqui no nosso país maravilhoso.”; “Eu não suportava essa música (apesar de achar linda a voz do Diogo Nogueira), e agora não consigo parar de ouvir. Matheus fazendo milagres em mim hahahahhahah”; “como nunca percebi que essa letra é total alternativa????”.
De fato, Who fez milagre: transformou o que já era lindo em algo lindo-mágico-solar. Revelou o indie por trás de um samba, um garimpo raro!
Pedro Perez – “Morena” (Single e clipe)
Ex-baixista de banda grunge e descendente direto de espanhóis, Pedro Perez é um capixaba que se encontrou no Pop-MPB, sub gênero que se destaca atualmente.
Suu estreia sob essa perspectiva aconteceu em 2018, com o single autoral “Veraneio”. Até o momento, seu hit é “Assim do Nada”, uma parceria com o cantor e amigo Nicolas Cândido que rendeu mais de 100 mil plays nos streamings.
Seguindo essa caminhada, mas dessa vez ao lado da Valetes Records, o rapaz de pouco mais de vinte anos lançou, neste início de 2022, a canção “Morena”, escrita por ele quando a adolescência era aguda: 16 aninhos.
Nesta novidade, no entanto, a pulsação rock de Pedro é algo nítido, sendo essa postura auto assumida. Em “Morena”, o cara reverencia a pegada Charlie Brown Jr., e os novos da cena atual: Lagum e Vitor Kley, como bons exemplos.
Assista também em clipe no Youtube.
Juliane Hooper – “Soulless” (single)
À convite do blues, soul e jazz, a cantora, compositora e musicista paulista Juliane Hooper sentiu que era hora de abandonar sua banda de rock, iniciada em 2015 na cidade de Jundiaí-SP. Antes, conheceu as boas técnicas vocais e o violão, aprendizados reveladores para seus novos rumos. Em 2017, já madura artisticamente, deu-se por concreto a decisão de seguir carreira solo.
Com apoio do baixista Mateus Lima, Juliane, enfim, chegou ao nível de composição ao qual a garantiu segurança para lançar-se no mundo. Assim, surpreendendo a todos, ela apresentou “Soulless”, a sua estreia melancolicamente energética. Essa é a atmosfera do single, mas se soma a uma identidade muito forte que diz claramente seu posicionamento musical, artístico e humano.
Ao contrário dessa vitalidade, a letra de “Soulless” é depressiva, digna de dias sem calor, sem vida, sem intensidade, sem rosto… No entanto, não se deve confundir esse momento triste com o todo. Segundo Juliane, a canção retrata apenas esse sentimento que a visita vez ou outra. Afinal, seria alguém capaz de não se identificar?
Pe Lu – “Carnaval de Sofá” (EP)
É este o nome do primeiro EP solo do Pe Lu. Ilustrativo, o trabalho de quatro faixas (sendo três inéditas) é realmente intencionado em levar o carnaval às casas das pessoas, já sabendo da possibilidade deste ano repetir 2021: nada da festa por enquanto. O que foi citado anteriormente, ou seja, a paixão do artista pela Bahia, é a essência deste EP: Carnaval e MPB, uma coisa só para Pe Lu.
Para ele, a ideia de unir introspecção com a folia pode parecer um desafio, mas que esse dualismo é uma maneira do público se conectar com mais uma “maluquice” sua.
Marginal Padrão – “Detalhes” (faixa do álbum “Le Chumin du Roi”)
Antes do boom das novas tecnologias, o rapper Marginal Padrão conquistou espaço nas ruas de Brasilândia, nos anos 1990. Tempos depois, desde 2018, o cara tem lançado alguns singles, que aguçaram ouvintes em relação ao seu novo disco, agora na era do trap.
O trabalho de nove faixas é pesado, moderno, metafórico e poético. No entanto, uma delas, “Detalhes”, seriamente nos chamou a atenção. A letra, assim como a melodia, remete muito a uma “coisa mais pop”, potencial que pode elevar o artista para horizontes inesperados.
Seria pobre, porém, dizer que apenas “Detalhes” é especial, já que as demais canções são interessantes e criativas quanto.
Felk – “Enluarada” (single/clipe)
Segundo sua biografia no Spotify, o catarinense Felk desempenhou papel de vocalista e compositor na banda de rock Os Delirantes, no mesmo período em que atuou como tenor em um coral universitário.
Porém, ambos os universos seguidos inicialmente provavelmente não se assemelham à primordial simplicidade de “Enluarada”, uma canção voz-violão aterrissada nos streamings neste mês, e que é influenciada pelo folk e pelo movimento da nova MPB.
Autoral, a música lenta, ingênua, quase declamada e sertaneja (no sentido “sertão” da coisa) é inspirada na famosa lua cheia e suas amigas estrelas, avistadas por Felk em uma varanda, com poder de censura de qualquer outro empecilho que senão a própria contemplação.
Em verdade, essa descrição do modelo inspiratório de “Enluarada” é uma dedução do resultado final da canção. É isso que a letra proporciona: o transporte trem-bala de nós ouvintes ao ambiente de composição de Felk.
Pc Lamar – “A Enigmática Palavra perdida de Pc Lamar Sob um Céu Vermelho de Verão” (álbum)
Natural de Maceió (Alagoas), Pc Lamar é um cantor e compositor para além dos metros quadrados da música. Licenciado em história pela UFAL, Pc é ativo politicamente, militância brada refletida em sua carreira artística. Essa, por sua vez, se iniciou em 2015, ao assumir a posição de líder da banda de rock Aurora Negra. Em 2017, iniciou como solo, tendo acrescido o folk, a psicodelia e o experimentalismo a esse novo momento.
Sequenciando alguns singles desde então, o alagoano agora chega a “A Enigmática Palavra perdida de Pc Lamar Sob um Céu Vermelho de Verão”, seu disco de estreia. Com apenas cinco faixas, o trabalho foi contemplado pela lei emergencial Aldir Blanc, e é inspirado nos últimos dois anos, que somam dois fatores importantes para a sua compreensão: o governo Bolsonaro e a pandemia de Covid-19.
Na faculdade, Pc Lamar se debruçou, principalmente, em assuntos relacionados a doutrina Marxista, filosofia da linguagem, fenomenologia da espiritualidade, hermenêutica e outros, como a física quântica. Sendo assim, podemos considerar este álbum como uma possível aplicação dessa jornada acadêmica e intelectual do artista.