Revista Arte Brasileira Literatura [CONTO] “Salvador à noite é mui formosa” de Luan FH
Literatura

[CONTO] “Salvador à noite é mui formosa” de Luan FH

Engraçado sair cedo de casa e encontrá-la na saudade que sinto logo pela manhã. Uma avalanche de ”TBT”, o meu sorriso bobo e também a minha preocupação sobre ela acabar enjoando de mim. Enquanto, na subida da ladeira de São Caetano, o ônibus lota de pessoas cansadas fisicamente, esgotadas, indo aos trabalhos, médicos ou passeios. 

Eu sinto medo que ela um dia perca essa essência que tem comigo, que um dia possa me olhar de uma maneira diferente, me vendo esgotado, um escritor que tenta viver um dia de cada vez, mas com muito cuidado para não tropeçar em algo. Quando chega a noite, a cidade fica mais bonita, e também perigosa, porém bem bonita, e a multidão e a calmaria cessada, o cansaço gritando.

A poesia passa a ser vista com frequência e se torna tão enjoativo imaginar como as frases nos muros, nas redes sociais passam a se tornar realidade cada vez mais que o tempo passa. Então a gente senta num banco em algum lugar da cidade e passa a conversar sobre tantas e tantas coisas que não nos cabem mais no bolso do pensamento. E o maior consumo não é de energia, mas sim, psicológico. 

Ouvindo muitas pessoas fingindo gostar de algo e falando ”está ótimo, você é incrível”, usando tons mentirosos, esperanças falsas e lições de moral sem moral alguma para poder falar. A grande hipocrisia do ‘conselho bem dado, só que não levo para mim mesmo, nem sigo’, e o que dói é o tiro no peito a cada palavra que fere, sem pudor, sem dó. Empatia falta muito.

Um abraço bem dado salva uma alma que estava amargurada e jogada no fundo do poço. Sentar para desabafar, e desabar um pouco serve para ajudar; seja num sábado ou num domingo. O importante é o café, suco ou achocolatado, talvez uma água, mas nada mais importa que esse momento. O único momento em que você pode esvaziar o que tanto machuca.

Nos vemos em tantos lugares, em tantos cargos, principalmente em algum canto menos movimentado e quando vou ao shopping, a direção desejada é a da livraria. Os livros ficam em silêncio e a presença deles me faz pensar bem mais. 

Ontem ela me perguntou ”Você gosta de mim?”, e eu respondi que sim. Hoje sinto que ela precisa de um tempo sozinha, sei lá. Sinto que estou incomodando ou pressionando, não sei. E eu sinto que vou afastá-la com meu jeito emotivo, sentimental; essa merda de sentimentos sempre estragam tudo. Porque sinto saudade quando não a vejo, mas percebo que ela muitas vezes só quer estar sozinha e não está errada. De maneira alguma. Ela está certa. O problema é que meu coração pede a companhia dela, o cheiro, o contato, o carinho, o apoio. Só que, eu te entendo, nem todo dia é o dia certo para chamego. 

Não precisa mudar, eu vou me adaptar o seu jeito, só não desiste de mim. Pois, Salvador à noite é mui charmosa, mas você, mesmo bagunçada, é bem mais bonita e encantadora. Obrigado, e não desiste de mim.

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