Crédito: Punch! for Writers
Já sabemos que boa parte da sociedade brasileira ainda se prende ao machismo, dificultando assim a jornada das mulheres na literatura. Mas, a autora Karen Alvares, que trabalha com o gênero de “terror” na literatura, alerta ao problema do espaço das mulheres escritoras dentro desse seguimento literário.
A autora dona de suspenses psicológicos como a “Duologia Inverso & Reverso” e “Alameda dos Pesadelos”, criou uma lista com mais de 90 autoras do gênero, que junto a ela, tentam ganhar mais visibilidade no caminho da escrita.
“Escrever terror, sendo mulher, no Brasil, é uma tarefa árdua. Assim como em quase todas as atividades, para ser reconhecida como escritora de terror a mulher precisa provar três vezes que é tão capaz ou mais que qualquer homem.”, revela a escritora.
Ela continua “Outro dia, em uma entrevista, um blogueiro perguntou a mim e a outra escritora por que o terror flui tão bem nas mãos de mulheres, desde Frankenstein, de Mary Shelley. Minha resposta fez todos rirem (de nervoso): porque a vida das mulheres é um terror constante. É o terror de se provar a cada dia, de não ser aceita, de não ser ouvida, de ser diminuída, humilhada, violentada.”.
Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com a autora.
Da onde vem seu fascínio pela literatura do gênero “Terror”?
Sempre gostei de terror, desde muito cedo; li “O Iluminado”, de Stephen King, aos dez anos de idade, e mesmo então já gostava de assistir filmes e ler histórias aterrorizantes. Acredito que meu fascínio venha do fato de que o terror mexe com os sentimentos, penetra no íntimo da mente humana de uma maneira que nenhum outro gênero consegue.
Por que você acredita que as mulheres na literatura que escrevem sobre terror tem tido seu espaço reduzido? Ainda há algum preconceito?
As mulheres infelizmente ainda têm seu espaço reduzido em diversas áreas da sociedade. Com o terror, ainda existe a crença equivocada de que este é um gênero masculino, quando na verdade há diversas mulheres criando obras influentes e inesquecíveis de terror e horror há muito tempo, Mary Shelley sendo apenas um exemplo que podemos citar aqui. Também acredito que temos ainda o problema de que muitos homens se recusam a consumir – às vezes até de maneira inconsciente – obras produzidas por mulheres. É uma construção social e cultural que temos desde a infância e que precisamos derrubar, mas que leva muito tempo e esforço. O mundo mudou, mas ainda precisa melhorar muito.
Ainda nessa pergunta, qual tem sido a receptividade do público em relação aos seus livros já lançados?
Na maior parte do tempo, só tenho a agradecer e me alegrar com a receptividade do público. Há críticas, é claro, mas a maior parte delas são construtivas e só contribuem para que eu evolua como escritora. O que é difícil de verdade é alcançar um público maior em um país tão resistente à cultura e à literatura.
Como aconteceu esse projeto de reunir mais de 90 escritoras do gênero?
A ideia de fazer a lista das escritoras de terror (e blogueiras, tradutoras e outras profissionais ligadas ao gênero) veio de uma discussão que ocorreu no Facebook; uma leitora questionou onde se encontravam as mulheres escritoras de terror, uma vez que, em um bate-papo do gênero na última Bienal, nenhuma mulher foi convidada, a mesa era toda formada por homens. Nesse post, várias mulheres começaram a se citar, e eu fui mencionada algumas vezes; ali, conheci outras mulheres que, como eu, estão lutando por algum espaço no mercado. Então, levei a discussão para o Twitter, citando as autoras mencionadas lá no post do Facebook e pedindo novas indicações; a partir dessas duas frentes, comecei a procurar informações das autoras na internet, através das redes sociais, Skoob, Goodreads, Amazon etc., e comecei a reunir na lista. Não foi uma tarefa fácil, mas foi emocionante encontrar tantas mulheres talentosas, se esforçando duas, três vezes mais que os homens para publicar suas obras e serem lidas e reconhecidas. Conheci várias autoras maravilhosas fazendo esse trabalho. Depois, publiquei a lista nas redes e foi tocante ver como as pessoas (especialmente as mulheres) se engajaram, compartilharam a lista, indicaram novas escritoras, enviaram e-mails para completar a lista. Foi um trabalho gratificante, uma semente para unir todas nós, mulheres do terror.
Para você, o que é ser uma escritora no Brasil? Não é fácil a vida das mulheres na literatura.
É lutar todos os dias para trazer histórias e diferentes formas de enxergar o mundo em um país que ainda rejeita a própria literatura e até mesmo a própria cultura. E um país sem cultura é um país sem identidade. Por isso mesmo, não podemos desistir.
Você tem alguma história ou curiosidade interessante que queira nos contar?
Tenho medo de ETs! Simplesmente tenho pavor de qualquer filme ou história que envolva alienígenas, abduções e contatos de qualquer grau. Filmes como “Sinais e Fogo no Céu” me deixaram sem dormir por dias! Às vezes evito alguns livros de ficção científica por esse motivo. No entanto, sou uma fã apaixonada de “Doctor Who”. Vai entender.
Fique à vontade para falar o que quiser.
Obrigada pelo espaço e pela entrevista! Foi um prazer responder às perguntas. E um obrigada especial aos leitores que me acompanham ou que já leram qualquer uma das minhas histórias: é seu apoio que nos faz querer continuar a escrever.
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