A existência é pauta carimbada na música brasileira, como apontamos nesta reportagem de Jean Fronho (“Tom Zé já dizia: todo compositor brasileiro é um complexado”). E este é o caso também de uma nova canção do cantor e compositor carioca Bersote. Batizada de “Na Curva a Me Esperar”, a música coloca Bersote, à beira dos seus 30 anos, como um homem questionador, que não compreende muito bem o seu “eu” do futuro, aquele que o aguarda na próxima curva. Este tom de “indefinido” e “imprevisível”, se assemelha ao da sonoridade de “Na Curva a Me Esperar”. Isso porque o próprio Bersote se atropela quando tenta explicá-la. Para ele, a canção segue o similar triunfo caminho de muita coisa na música popular brasileira, de que muitos sons são dificilmente definidos com clareza e exatidão. Ele, porém, arrisca dizer que se trata de uma “bossa-nova-bolero moderna com pegada pop”, uma definição que, sinceramente, permanece sendo reagida com interrogações.
“Esta é uma música sobre auto descoberta, sobre alguém que está abraçando a complexidade de se conhecer e talvez se amar. Os versos carregam um desejo de futuro, uma curiosidade por esse ‘eu’ misterioso. É sobre alguém que está à espreita, esperando por esse novo eu. É por isso que o refrão tem uma mensagem para si mesmo, ‘Cuidado ao virar a Augusta, eu vou estar na curva a me esperar’;. Até mesmo o fato de a faixa soar super carioca, mas mencionar uma rua de São Paulo, reforça essa dicotomia.”, detalhou o artista.
“Na Curva a Me Esperar” sucede o primeiro EP de Bersote lançado neste ano e tem produção musical do produtor João Mansur, parte do duo ‘akhi huna e colaborador de Totô de Babalong.
Nós, do lado de cá, fizemos algumas perguntas ao artistas, é o que você confere a seguir, após o clipe.
Matheus Luzi – O que “Na Curva a me Esperar” representa para a sua carreira e o que ela diz sobre você?
Bersote – Acho que o que tem de mais representativo nessa canção é como ela coincide com o meu momento atual enquanto artista. Estou me descobrindo muito como cantor, entendendo o que a minha voz pode fazer, quem sou como compositor e desenvolvendo o meu som. De várias maneiras, essa parece uma carta para mim mesmo.
Matheus Luzi – Quais referências encontramos nesta canção, tanto na letra quanto no arranjo e no videoclipe?
Bersote – A bossa nova é obviamente uma influência tanto no canto quanto no instrumental. Tem o canto de João Gilberto, mas também tem um beat compassado, que lembra o bolero e o pop. A letra já é bem mais moderna, tem uma brincadeira de ser uma bossa tradicional que menciona São Paulo, o que gosto muito. Eu sou obcecado por cidades e sempre tento ter algo muito urbano na minha obra. Elas trazem a minha musa muito mais à tona do que a natureza, fico muito mais reflexivo no caos.
Matheus Luzi – Muito interessante o fato de “Na Curva a Me Esperar” ser “indefinida musicalmente”.
Bersote – Essa indefinição é bem presente na música popular brasileira. O pop como gênero é muito indefinido. Tudo e nada é pop. Mas quanto mais eu ouço, mais eu fico em paz em dizer que essa é uma bossa, essencialmente.
Matheus Luzi – Quais foram as contribuições do produtor João Mansur neste single?
Bersote – Geralmente, quando estou trabalhando em uma canção com alguém, tem muita conversa até chegarmos num lugar interessante. Com “Na Curva a Me Esperar” não foi assim. Eu tinha a melodia e a letra, daí mandei os vocais demo e as referências para o João. E ele já retornou com uma versão muito próxima do que eu queria e da que foi lançada. Durante a gravação, em Brasília, ele também me deu várias ideias do que fazer com a voz para abraçar esse arrastado da bossa nova. Foi bem colaborativo.
Matheus Luzi – Quais serão seus próximos lançamentos? Eles devem seguir o tom existencial e sonoro de “Na Curva a Me Esperar”?
Bersote – Estou começando a trabalhar no meu primeiro álbum, que já tem título e deve sair mais tarde no ano que vem e que virá junto de muita coisa especial. No curto prazo, porém, estou trabalhando em mais alguns singles. Um deles deve sair no fim do ano e outro no primeiro semestre de 2024. Um é uma balada bem voz e piano, e o outro é bem pop, daqueles que dá vontade de cantar o tempo todo. Tem também as lives e shows que vou fazer no início do ano, que espero em breve anunciar as datas.
Ficha técnica
Canção:
Composição: Bersote e Bruno Soares dos Santos
Arranjos e Produção Musical: João Mansur
Mix e Master: João Mansur
Fotografia: Elisa Maciel
Arte da capa: Bruno Soares dos Santos
Clipe:
Direção, Fotografia e Cenografia: Bruno Soares dos Santos
Roteiro e Argumento: Bersote e Bruno Soares dos Santos
Edição: Bruno Soares dos Santos
Coreografia: Nina Sofia Salomon
Figurino: Bersote
Produção Executiva: Bersote
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Crédito da capa da publicação: Elisa Maciel