A festa junina originou-se antes mesmo da Idade Média, há séculos. No Brasil, foi trazida pelos portugueses ainda no Brasil Colônia, com o nome de Festa Joanina. Era de raiz pagã, algo que, mesmo com tentativa de derrubar as comemorações, acabou se tornando tradição por aqui, ainda que com condições próprias. A luta da Igreja Católica em abortar as festas juninas não teve total sucesso, mas conseguiu emplacar mudanças significativas, aplicando três santos populares como motivo das celebrações: Santo Antônio, São Pedro e São João. Com isso, a Igreja conseguiu atribuir um caráter religioso às comemorações.
Até meados dos anos 2000 (quando este que vos escreve ainda era criança), as festas juninas mantinham suas raízes contemporãneas. As festas eram, em grande parte, genuínas e os interesses comerciais, embora existissem, era menores do que a própria essência da data. Roupas à caráter, comidas e danças típicas. A atmosfera era inocente, de alegria e confraternização. As festas aconteciam em vários locais, mas aqui destaco as que aconteciam em bairros, organizados pelos próprios moradores, ao qual cada um ficava responsável por levar algum prato. Com demasiada humildade, reconheço que estou partindo de Andradina, pequena cidade do interior de São Paulo (onde nasci) e que muitas vezes se confunde com a cultura sul-mato-grossense.
O cenário de 2023, no entanto, mostra que esta tradição vive perigosamente a beira da extinção. Não se trata da marca festa junina em si, mas de sua genuinidade, de sua essência. É neste cenário calamitoso que alguns jovens (ou não tão jovens assim) que viveram os anos 2000 na condição de criança respiram um ar de insatisfação. Muito se perdeu e parece que o trem a caminho da sofisticação parece desenfreado. Muitos, então, se perguntam: “seria possível, de um jeito ou de outro, manter o todo ou parte desta essência para as futuras gerações?” A resposta certamente é difícil, dependerá do tempo e de como influenciadores populares agirão. Assim, em meio a esta onda de transformações a nível global, está a cantora e compositora cearense Aydê, atualmente na casa dos 30 anos, que, quando criança, sentiu e presenciou o mesmo que eu, a verdadeira Festa Junina brasleiríssima.
Arraiá da Aydê
Deste desejo de reviver o melhor da Festa Junina, esta artista dedicou tempo, energia e muita criatividade para lançar o álbum “Arraiá da Aydê’, projeto contemplado na terceira edição do fomento ao forró da Secretaria Municipal de São Paulo, cidade onde ela se radicou há alguns anos. O álbum é composto por oito faixas temáticas e inspiradas no ritmo arrasta-pé, metade autoral e a outra metade releituras das canções consagradas “Olha pro céu”, “Rindo à toa”, “Olhinhos de fogueira” e “São João na roça”. Segundo Aydê em entrevista à Arte Brasileira, sua proposta é chegar ao máximo número de pessoas, mas com foco nos jovens. O álbum terá quatro videoclipes e três participações especiais que inclui a cantora pernambucana Vera Freitas, a cantora paulistana Neide Nazaré e o Trio Beijo de Moça.
O álbum, no entanto, vai além de meras músicas. Aydê conta que o álbum é pessoal, veio também da necessidade de revisitar sua infância e adolescência. Por outro lado, é um trabalho de intuito coletivo, que visa, de alguma maneira, estimular a preservação das tradições da Festa Junina. Isso acontece por meio de outras ações que acompanham “Arraiá da Aydê”: a artista realizará um show de lançamento na capital paulista, totalmente gratuito e com o intuito de divulgar o álbum; e oferecerá oficinas que inclui canto, forró, musicalização infantil e elaboração de projetos. Percebe-se, portanto, um interesse por parte da artista em fazer de “Arraiá da Aydê” um projeto impactante, que vai além da arte.
O álbum “Arraiá da Aydê” tem produção musical assinada por Cicinho Silva e já está disponível em todos os aplicativos de streaming. Por fim, este é o nosso presente junino para você, caro leitor da Arte Brasileira!
Ficha Técnica do álbum
Produção Musical: Cicinho Silva
Contrabaixo: Omar Campos
Guitarra: Omar Campos
Zabumba e Triângulo: Neide Nazaré
Percussão Geral: Nathalie Magalhães
Faixas
Músicas de autoria de Aydê: “A Magia do São João”, “Voa Meu Balão”, “Sonho”, “Fogueira”.
“Olha pro céu” José Fernandes / Luiz Gonzaga
“Rindo à toa” – Tato
“Olhinhos de fogueira” – Luiz Fidélis
“São João na Roça” – Luiz Gonzaga / Zé Dantas
Clipes com participações especiais de Vera Freitas (Faixa “Sonho”), Neide Nazaré (“Fogueira”) e Trio Beijo de Moça (“Voa Meu Balão”).
Show de lançamento do álbum (04/06)
Local: Casa de Cultura da Freguesia do Ó – Salvador Ligabue
Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, 215 – Freguesia do Ó, São Paulo.
Classificação livre
Duração de 60 minutos

Sobre datas e informações sobre as oficinas, acompanhe o instagram de Aydê.
CREDITO DA CAPA DA MATÉRIA: Foto de Vagner Brandão e arte de Juliana Nakaharada