Os avanços tecnológicos e suas devidas popularizações presenciadas desde o final dos anos 1990 e início dos anos 2000 se fragmenta em várias questões. Aqui, irei mencionar duas: (1) a vida e seus processos se tornaram mais descomplicados e rápidos, mudando a maior parte do que se fazia até então na vida cotidiana e (2) estas próprias descomplicações e rapidez geram contestações por diversos setores da sociedade, com, inclusive, mobilização de classes sociais/profissionais e de governos Brasil afora.
E quanto mais se desenvolve tais tecnologias, mais soluções e problemas aparecem. Enquanto existia o monopólio de redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter, uma dessas problemáticas ainda era inimaginável, mas o acaso (ou não) a fez brotar de uma nova plataforma que se popularizava entre 2019 e 2020, o Tik Tok. Controlada pela empresa chinesa ByteDance desde 2017, a rede social trouxe consigo sua marca, a característica que indiscutivelmente é associada a ela: as famosas “dancinhas do Tik Tok”.
Estas “dancinhas” são encaradas de diversas maneiras. Alguns as acham vulgares, outros as vêm como uma bobagem merecedora de fim próximo, e para um mundo de gente é motivo de chacota. O que é bem verdade, apesar disso, é que essas “dancinhas” fazem sucesso, e muito sucesso. Segundo informações, por exemplo, desta indicadíssima e completíssima reportagem, algumas fórmulas dessas danças são aplicadas para que um vídeo seja viral, porque tem passos simples e sem profundidades que podem ser absorvidos e ensinados com facilidade. É aí que entra o problema que denuncia esta publicação.
Quem não é profissional da dança, nunca fez aulas de dança ou simplesmente não tem acesso nenhum ao entendimento da complexidade desta forma de fazer artístico, não enxerga esta dor, este problema. No entanto, para profissionais da dança, há alguns pontos que tiram seus sonos. Aqui, nesta publicação, resolvemos dar espaço para um dançarino e professor de dança do interior de São Paulo, da cidade de Andradina. Seu nome é Rodrigo Basilio (instagram), ele nos deixou algumas reflexões curtas, mas objetivas e claras.
Caso você queira um material mais completo e com outras visões de profissionais da dança a respeito deste assunto, recomendamos novamente a reportagem do Blog FCA LOG, da Puc Minas.
Fique agora com as palavras de Rodrigo Basilio.
Diante do novo, “O que Pe Lu faz?”
BINGO: O REI DAS MANHÃS – Tudo o que você precisa saber!
Matheus Luzi – Primeiramente, defina rapidamente a “dança” como um todo.
Rodrigo Basilio – A dança é a arte em cena, é onde você se sente livre para ser quem você quer ser naquele momento, onde seu corpo transmite diversas expressões em diferentes estilos musicais.
Matheus Luzi – E as “dancinhas de TikTok”, qual sua definição?
Rodrigo Basilio – As Dancinhas Tik Tok, para poucos que usam o aplicativo, as “dancinhas” não surgiu no Tik Tok, e sim ela vem de algum Ritmo de dança, onde é feito sequencias fáceis para viralizar alguma musica, e com isso fazer milhões de pessoas fazer aquele movimento fácil de acompanhar.
Matheus Luzi – Agora relacione as duas definições feitas anteriormente.
Rodrigo Basilio – Diversos movimentos usados no Tik Tok tem sua identidade musical, tem uma identidade de estilo que não é em nenhum momento o usuário tem interesse em saber de onde veio aquele movimento, aliás, ele só quer copiar o que entregaram pronto e com isso ganhar curtidas e visualização.
Matheus Luzi – Você acredita que as “dancinhas de TikTok” desmoralizam a dança profissional? Por que?
Rodrigo Basilio – Porque a Verdadeira dança está perdendo espaço para um App, mas que na verdade milhões de pessoas copiam um criador de movimento, e quem ganha com isso na verdade é aquele que criou o movimento dentro do app porque o vídeo dele viralizou e, com isso, ele tem um retorno financeiro, enquanto os que repetem movimentos só ganham curtidas e visualização.
Muitos Profissionais perderem emprego por conta do App que coloca na cabeça das pessoas que a dança é aquilo e não o que realmente é de fato.
Matheus Luzi – Qual sua opinião do porque este tipo de dança (as do Tik Tok) se popularizam tanto?
Rodrigo Basilio – Por que os artistas necessitam lançar uma musica e fazer ela virar sucesso, e o único meio para que isso seja possível é pagar alguém para criar um movimento simples e aquilo se espalhar pela rede.
Matheus Luzi – Você acredita que este é um bom momento para a dança, tendo em vista o sucesso das “danças do Tiktok”?
Rodrigo Basilio – Por mais difícil que seja as pessoas aceitarem que Tik Tok não é dança, isso vai levar muito tempo.
Eu acho que se o Tik Tok for usado da maneira certa, eu concordo. Mais qual a maneira certa? O profissional da dança montar coreografia relacionado com o estilo que ele trabalha, e não qualquer sequencia fácil para pessoas acompanharem e sim mostrar o trabalho dele. Conheço escolas de dança que vivem do Tik Tok, e eles usam da forma correta, criam seus próprios conteúdos e não dependem de ninguém, apenas deles para ter sucesso.
Matheus Luzi – Deixo espaço em branco para você dizer tudo o que gostaria e que não teve oportunidade de dizer nas perguntas anteriores.
Rodrigo Basilio – Não sou contra o Tik Tok, sou contra em falar que Tik Tok é dança, mas que na verdade é um app com repetições de estilos já existentes no meio da dança. É triste ver um vídeo de um super dançarino não viralizar, e um vídeo simples que dá um tapa na cabeça e vira de costas viralizar. Assim, o dançarino se sente desmotivado a continuar a carreira. Tenho amigos que desistiram de dançar por causa do Tik Tok, dançarinos bons já de longa data, criam seu próprio conteúdo e não da nada certo. Infelizmente as pessoas vivem de copias, gostam de pegar o produto pronto e não se preocupam em criar, se sente preso naquele movimento e acha obrigação seguir igual, e se você cria algo diferente, o aluno já não gosta e te olha diferente, porque acha que você tem que seguir o que já esta pronto.
Capa da publicação: banco de dados da Pinterest
Imagem no meio da publicação: Rodrigo Basilio (arquivo pessoal / reprodução do instagram)