Crédito: Aog / Divulgação.
A artista Brenda Zeni, nasceu Brenda Brito Fernandes, numa tarde quente de outubro, na cidade de Belém do Pará. Mora no Amapá há mais de 13 anos, onde constrói sua carreira na música e busca a projeção de seu trabalho no cenário nacional. Sempre teve na figura da mãe, a dona Zenilda, a sua maior incentivadora e foi ela quem lhe presenteou com o primeiro violão. Nesta época, Brenda tinha 16 anos e já escrevia suas próprias canções, ainda sem musicá-las. Já em Macapá passou a dedicar-se mais à música, inicialmente, “cantando na noite”, como se diz por aqui. Começou fazendo covers de cantores famosos e artistas que ela admira. Rita Lee, é uma de suas maiores referências no rock nacional.
Quando lhe perguntei sobre o que a incentvou a escrever suas próprias canções, ela respondeu achar importante beber das influências para se fortalecer, mas chega o momento em que se quer fazer o próprio discurso, esse discurso, o qual, ninguem ousava falar da forma como ela gostaria de ouvir. Então ela própria foi lá, levantar a bandeira da sua arte, que traz o universo feminino como a principal arma de empoderamento da mulher na sociedade.
Num dos trechos da canção “Minas Armadas”, Brenda mostra a que veio, e que é possível sim, empoderar mulheres por meio da arte.
“Mulheres conscientes
Minas armadas
Mulheres conscientes
Minas armadas”
A artista, que sempre se considerou criativa e muito falante, tem formação em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda), curso que lhe permitiu criar meios de divulgação de suas obras. Hoje ela conta com alguns parceiros para a produção de seu trabalho artístico, mas diz que a maior parte das tarefas é ela mesma quem realiza, fato que diz ser cansativo e ao mesmo tempo, extremamente prazeroso.
Zeni vem produzindo ininterruptamente, inclusive, durante a pandemia e anuncia o lançamento do clipe “Minas Armadas” para este mês de setembro, por meio de seus perfis, nas plataformas digitais. Ela também está entre os artistas amapaenses selecionados pelo programa Natura Musical (2020) e já está trabalhando na produção do seu disco pelo estúdio Zarolho Records. O disco será lançado no iníco do próximo ano. Vale ressaltar que a artista tem aproximadamente 30 canções autorais já musicadas, e é uma das principais referências do rock amapaense.
Mary Paes – Brenda, você veio do Pará, onde, talvez seja um estado com maior visibilidade musical, mas você permanece no Amapá, lutando pela sua carreira a nível nacional. Há esperanças de reconhecimento para os artistas que permanecem no estado?
Brenda Zeni – O Pará é um sonho pra cultura. Pelo menos é que a gente parece enxergar daqui, né? Mas o Amapá me ganhou no cafuné. Devagarinho. As pessoas foram me dando algumas oportunidades e eu briguei muito por várias outras até que quando me vi, já tinha feito várias coisinhas legais e todas elas foram construídas aqui. Então foi natural abraçar os amapaenses que me ajudaram. Hoje eu adoro viajar e falar que sou artista amapaense. Estar aqui na pontinha do mapa eu acho firme. O Brasil não sabe o que tá perdendo (risos).
MP – O que te influenciou a seguir com a música, mesmo diante de toda as dificuldades encontradas pelos artistas para deslancharem suas carreiras?
BZ – Eu sigo na música e apesar de estar vivendo o meu melhor momento, trabalhando somente com as canções autorais, até hoje eu ainda estou tentando. Porém, a insegurança de ter que voltar a fazer algo muito distante das artes ainda me assombra. Mas é um dia de cada vez. Como se trabalhasse de carteira assinada. Mas só o meu coração foi assinado e eu sigo feliz nessa empresa.
MP – Você percebe alguma resistência aos sons autorais no Amapá?
BZ – Sim. Acho que o Amapá ainda é um jovem senhorinho. Um estado novo que precisa aprender a se conhecer e a se amar. Amar a sua diversidade, inclusive cultural. O poder público e o público em geral precisam apreciar essa diversidade. Porque eu acredito fortemente que as pessoas aprendem a amar o local, pela arte que ele produz. Tanto as que nascem lá, quanto as que buscam visitar.
MP – O que te faz persistir nos seus sonhos?
BZ – As possibilidades que esse trabalho nos dá, em transformar as pessoas, o mundo e a liberdade de produção é infinita. Trabalhar com arte é libertador demais, pra quem faz e pra quem recebe. Por isso, também, devemos agir com responsabilidade para não abrir ou fechar portas erradas.
MP – Brenda Zeni está entre os artistas do Amapá, mais ouvidos no Spotify. O que isso significa pra você?
BZ – Gente, isso é bacana. Os números ajudam e digo mesmo, continuem ouvindo. Mas não podemos nos apegar a eles. Dêem chances a pessoas novas por algo que atrai além do número. Eu, por exemplo, gosto de bandas que, as vezes, lançaram uma única música e lá diz que 30 pessoas escutaram. Deve ter sido esses encontros musicais relâmpago. Que bom que aconteceu. Eu já descobri sons fantásticos assim.
MP – Quais foram as suas maiores conquistas, na música enquanto está residindo no Amapá?
BZ – Todas as minhas conquistas na música surgiram comigo aqui no Amapá. Desde a primeira gravação, o primeiro clipe profissional em 4k e a coisa toda, até esse momento agora de estar lançando dois clipes em um ano e gravando um disco que vai sair pela Natura Musical. Viva o projeto Pororoca Sound e toda equipe, que me chamou para estar junto outros artistas tops demais.
MP – As suas músicas trazem o feminino como um manifesto. O seu ativismo está presente em todas as suas ações artísticas. Me fale sobre isso.
BZ – Eu me acho uma pessoa muito prática. Então tento escrever coisas que acho relevantes. Não quero que a música esteja no mundo só fazendo um fundinho. Então ponho elas pra trabalhar no feminismo e em áreas quais eu me sinto qualificada pra representar.
MP – O sonho de todo artista é poder viver de sua própria arte. Você já pode dizer que vive da sua arte?
BZ – Sim. Hoje eu vivo exclusivamente da minha arte autoral. Acumulo várias funções pra fazer dar certo, mas é maravilhoso.
MP – Pode falar das profissões que exerceu antes de poder viver da arte?
BZ – Me formei em comunicação. Publicidade e Propaganda. Estava tudo arranjado aqui na minha cabeça. (risos) Aí trabalhei alguns anos na comunicação da própria faculdade, depois em comunicação de varejo até terminar de pagar a faculdade. Juntei um pé-de-meia, saí e me equilibrei na música cover por um tempão. E também contei com a ajuda da minha ex esposa, na época até estar aqui hoje.
MP – O futuro é incerto. Atualmente, nos parece mais incerto ainda. Você tem algo a dizer sobre isso, com relação à arte em geral?
BZ – Eu vivo um ótimo momento, um momento que trabalhei muito pra estar e tento não sofrer antes da minha hora, mas já tem um monte de gente sofrendo, né? Acho que uma das coisas que a pandemia nos ensinou foi que a arte é indispensável, na forma mais poética da palavra mesmo. A cabeça das pessoas não funciona só com as pressões da vida, a cumprir. E a arte é esse escape. Estamos vendo como investir na arte é possível e fundamental pra dar dignidade às pessoas/artistas para produzirem obras excelentes. E isso tem que ficar.
MP – Deixe uma mensagem de incentivo a quem, assim como você, busca reconhecimento e visibilidade na sua arte.
BZ – Organize-se. Trabalhe numa linha em que realmente acredite. Faça amizades construtivas e arrume as brigas certas. Foco foco e foco.
Saiba tudo sobre Brenda Zeni clicando no link de seu site www.brendazeni.com