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A cantora e compositora paulistana Angélica Duarte lança seu disco de estreia, “Hoje Tem”. Sensual, revolucionário, libertário, político e ideológico, o álbum tem as participações especiais de Letrux e Juliana Linhares, e, na sonoridade, um misto de rock, pop e MPB.
Apesar das dez faixas terem como tema principal o universo feminino, elas vão muito além, de críticas sociais e humanas. Ainda assim, em entrevista para a Arte Brasileira, Angélica diz que “Hoje Tem” é para todos.
O trabalho também é um acúmulo das experiências musicais da artista ao longo de anos de atuação, sendo a Cidade Maravilhosa um dos ambientes que mais agregou em sua formação.
“Cheguei aqui [Rio de Janeiro] em 2015 e percebi que todos os dias da semana tinha música rolando nas ruas, nos bares, sempre de maneira muito democrática e com um batuque, uma cor, uma beleza que eu jamais havia visto.”
O disco, que tem produção musical assinada por Angélica Duarte e Lourenço Vasconcellos, já está disponível nas plataformas digitais. A seguir, você confere o um bate-papo especial entre eu (Matheus Luzi) e a artista sobre o lançamento.
Matheus Luzi – Em release enviado a imprensa, você cita as “andanças pelo Rio” como algo importante para a construção do conceito do trabalho. Sobre isso, te pergunto: quem era a Angélica antes e depois do álbum? E o que rolou antes de iniciar o processo de gravação e produção?
Angélica Duarte – A chegada ao Rio foi um marco muito importante na minha vida musical, cheguei aqui em 2015 e percebi que todos os dias da semana tinha música rolando nas ruas, nos bares, sempre de maneira muito democrática e com um batuque, uma cor, uma beleza que eu jamais havia visto. Durante os anos absorvi tudo isso e fiz amigos, parceiros musicais. Comecei cantando jazz em casas de shows e depois disso fui estruturando um trabalho mais conceitual em que homenageava Caetano Veloso. Registrei esse momento em um EP de 3 faixas, “Odara”.
Depois de me colocar como intérprete vi que era hora de apresentar minhas composições por aí e fui observando a resposta do público. Com base nisso e em tudo o que vivi e percebi nos últimos anos, selecionei o repertório de “Hoje Tem” e investi toda minha energia na produção do álbum.
Matheus Luzi – Deve ter muito a ver o Brasil e o mundo de hoje com “Hoje Tem”.
Angélica Duarte – O Brasil e o mundo são tão grandes que essa afirmação soa genérica. Acho que dentre os tantos Brasis que existem falo principalmente do meu ponto de vista como artista. Algumas músicas do disco tem uma temática mais social, enquanto outras falam de experiências que passei, acho que é fácil de distinguir quando se escuta o álbum todo.
Matheus Luzi – Angélica, qual o papel que você desempenha no disco (processos criativos, produção e gravação)? O que veio puramente de você?
Angélica Duarte – A ideia do disco surgiu de amigos que observavam o meu crescimento como compositora, tive muito incentivo para registrar essas canções e a partir disso passei a estudar como eu gostaria que essas músicas soassem. Além de compor, tocar e cantar atuei também como arranjadora de todas as músicas, e tive ao lado o produtor Lourenço Vasconcellos que me aconselhou e trouxe sua mente brilhante e criativa pra jogo.
Todos os músicos de “Hoje Tem” se destacam em suas performances, alguns arranjos são completamente escritos e outros tiveram espaço para ideias que a galera trazia. As gravações foram um grande respiro durante a pandemia, estávamos sem encontrar ninguém e sem fazer música há muito tempo e no estúdio vivemos um clima de amor e cumplicidade, todo mundo depositou muito carinho em cada nota tocada.
Matheus Luzi – Você considera seu álbum um forte porta-voz das mulheres?
Angélica Duarte – Não necessariamente, sei que falo bastante da minha realidade e muitas mulheres acabam se relacionando com as letras, porém procurei falar sobre outras coisas, do âmbito do “sentir”. Acho que músicas como “Pakera Fraka”, “Razão” e “Coisa Bicho” apresentam um ponto de vista não-passivo da mulher, e isso é muito interessante pra mim, demonstrar que não precisamos ficar num lugar de espera, de princesa, mas acho importante demais que o público masculino escute esse ponto de vista.
Outras músicas como por exemplo “Sorte”, “Romance” e “Música infantil para adultos” são reflexões que não se relacionam com uma identidade feminina. Me incomoda isso de acharem que mulheres autoras falam somente para mulheres. Sim, nós falamos para as mulheres, mas falamos para todos. No passado tínhamos Chico Buarque escrevendo “Olhos nos olhos”, Caetano escrevendo “Esse Cara”, e interpretes brilhantes cantando suas palavras, seus enredos femininos e melancólicos. Hoje em dia temos muitas compositoras excelentes que têm oportunidade de narrar suas próprias vivências e isso não condiz só com a experiência de ser uma mulher no mundo, mas de ser, de existir. O que muda é a representatividade, a quantidade de compositoras atuantes, a oportunidade de dizer o que quer que seja.
Matheus Luzi – Qual a importância e contribuição das cantoras Letrux e Juliana Linhares para o disco?
Angélica Duarte – Juliana e Letrux foram generosíssimas de estarem presentes em “Hoje Tem”. É muito importante que artistas da cena independente se fortaleçam para que nosso som chegue em mais gente, e fiquei muito feliz com a contribuição musical impecável dessas gigantes cantoras, interpretes, compositoras e atrizes.
Matheus Luzi – Você comentou que lançar um trabalho autoral exigiu muita coragem.
Angélica Duarte – Sim, tem que ter coragem mesmo pra trabalhar com música, arte e cultura no Brasil de 2021. O Brasil elegeu um canalha para presidente e toda a sociedade está sofrendo as consequências disso, vamos adoecendo aos poucos, e juntos. Se dependesse do atual governo, não existiria arte, não existiria nada que fosse belo e que causasse reflexão. Felizmente somos teimosos e sonhadores, e somos muitos. Somos também corajosos, sabemos que precisamos informar, transformar, então seguimos fazendo música, desenhando, escrevendo, dançando, pois não temos escolha.
Matheus Luzi – Bastante eclética são as músicas do disco. Nesse sentido, como você encara a construção musical das faixas?
Angélica Duarte – Estou lançando “Hoje Tem” depois de anos atuando na música, então já tive diversas experiências, estudei canto lírico, cantei jazz, tive banda na adolescência. Foi um quebra-cabeça difícil de montar pra chegar nessa sonoridade, nessa mistura de referências. Sinto que fiz exatamente o que tinha que fazer para me colocar artisticamente com esse primeiro trabalho autoral. Dizer de onde eu vim, o que eu sou, e pra onde eu quero caminhar.
Matheus Luzi – Tem alguma história ou curiosidade sobre o assunto que você queira destacar?
Angélica Duarte – “Hoje Tem” é fruto de muito perrengue, então é um álbum de histórias. Tem humor, tem drama, tem muita intensidade e a promessa do título traz uma ironia que faço questão de exaltar nas músicas. É um álbum pra quem ainda ouve álbuns inteiros, acho que as músicas funcionam bem soltas, em playlists, em situações diferentes, mas o caminho dele foi muito bem pensado.
Matheus Luzi – Agora é carta branca! Diga o que você quiser!
Angélica Duarte – Obrigada pelo espaço Matheus, e parabéns pela sua iniciativa, vida longa à Revista Arte Brasileira. Quero convidar todo mundo para seguir as minhas redes sociais, por lá estou muito ativa e sempre com novidades.
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