5 de dezembro de 2024
Música

As várias vivências entre São Paulo e Pernambuco influenciam novo EP de Caiçara

 

FOLGUEIRO URBANO é o segundo EP da trilogia EFEITO IN CASA, que o cantor e compositor Caiçara está lançando. A mudança do artista de Pernambuco para São Paulo teve forte influencia no EP. Dá pra perceber nas letras que ele mesclou muito bem o cotidiano paulistano com o pernambucano.

— O projeto EfeitoInCasa, que dá nome a trilogia, tem como seu principal conceito retratar o cotidiano. Nesse novo EP eu precisava viver a cidade, conhecer pessoas, lugares, costumes, e foi isso que aconteceu. Naturalmente essas informações acabam influenciando e surgindo novas composições e o fato de estar longe da cidade que nasci me deixou um pouco mais próximo das raízes, engraçado essa falta que faz quando estamos longe. Nossa alma acaba captando tudo e as músicas foram brotando com as duas temáticas (PE e SP) e logo depois surgiu a idéia do FOLGUEDO URBANO, nome que foi criado em parceria com Taciana Enes minha companheira de trabalho e de vida — comentou Caiçara.

 

Abaixo você verá na íntegra uma entrevista que fizemos com o músico:

 

 

O EP foi gravado durante mais de um ano enquanto você morava no bairro da Lapa (São Paulo). Por que houve todo esse tempo para a gravação?

Como falei antes, eu precisava de um tempo para absorver e entender a cidade. Depois que as músicas foram brotando eu convidei um amigo produtor que topasse vir produzir o que eu estava querendo. Foi quando falei com o Sonic Junior o cara que já fez um monte de coisas e que eu admirava, mas precisava alinhar sua disponibilidade com a agenda de shows do primeiro EP AFRIKA que estava rolando em SP, daí conseguimos começar a gravar em 2016.

 

E os bastidores das gravações, como foi?

As gravações foram bem experimentais, violão, vozes, guitarra, zabumba, triângulo e percussão praticamente tudo foi gravado no porão da casa 740 da Rua Tito no bairro da Vila Romana. Os sons de feira na música “Mercado” foi gravado na feira que acontece aos domingos na rua Aurélia com a Tito. O Universo conspirou ao nosso favor pois assim que chegamos na casa descobrimos que atrás tinha um estúdio de ensaio chamado Medusa, logo fizemos amizade e começamos a fazer ensaios e os instrumentos eram passados por cima do muro. E quando faltava microfone ou cabos os vizinhos do estúdio nos emprestavam na maior “brodagem”. Me senti como e estivesse pedindo uma xícara de açúcar ou um punhado de farinha. Mas os nossos vizinhos também eram super bem tratados. Todas as vezes que alguém vinha de Recife para nossa casa traziam bolo de rolo, queijo coalho, nêgo bom e compartilhávamos.

 

Outra coisa que chama a atenção é a questão dos instrumentos, em alguns casos, poucos usuais.

 

De fato, para fazer a junção entre o folguedo com o urbano utilizamos elementos e instrumentos da nossa região. Elus, zabumba, triângulo, ganzá tudo isso aos cuidados de dois amigos e grandes músicos de Recife o Gilberto Bla e o Pablo Ferraz, recomendo.

 

Quais foram as influências para a criação desse EP? Pelo o que vi, tem bastante coisa que te influenciou…

Sim, difícil dizer UMA coisa específica. Na música MERCADO eu gostava muito de ir no mercado da Lapa, o cheiro dos temperos, das frutas, da carne de charque, ou seja, do cheiro de mercado, aquilo só me lembrava um baião, aí compus um baião funkeado que é difícil ficar parado. DOMINGO teria que ter algo meio reggae meio xote, uma música que começa sofrida por conta do frio, imagina um recifense aguentar o frio de SP? mas aí acaba alegre com a chegada do sol. Precisava fazer algo sem muito texto ligado ao trabalho, aí surgiu a faixa TEMPERO que aos “49 do segundo tempo” acabei colocando um texto nela que faz alusão a exploração trabalhista. A voz foi colocada em Recife quando estava na mixagem também feita pelo Sonic Junior e a master também realizada em Recife pelo Adelmo Teixeira.

 

Esse EP é o segundo de uma trilogia que você está produzindo. O que este trabalho tem a ver com o anterior e também com o posterior?

Nossa missão nesse projeto é mostrar toda a diversidade, possibilidade musical e rítmica de nossa região, a figura do brincante está muito presente em tudo. Começamos pelo mundo afro-pernambucano, agora estamos passando pelo baião, xote e no próximo teremos outras surpresas.

 

Tem alguma história interessante que envolva o EP?

Uma das coisas interessantes que me aconteceu em SP e me fez conhecer um pouco mais sobre a cidade, seus sotaques, suas influências características de cada bairro, é que tive a ideia de trabalhar um tempo com os aplicativos de viagem e escutei várias histórias, conheci muitos lugares e pessoas e até compus uma música falando do trânsito que não entrou no EP mas tocamos no show que se chama “Entediado na Dr Arnaldo”. 

 

Fale mais sobre o EP.

Conseguimos no EP um resultado da assinatura que queríamos, sons e timbres bem particulares, claramente dá para sentir a influência das duas cidades proposta no título, o encontro do Folguedo com o Urbano.

 

 

administrator
Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.