Inovação. Foi essa a ideia da banda Laranja Oliva ao lançar o disco CARTA DA TERRA, com 13 faixas autorais, e com todos os processos (criação, produção e gravação) voltados para a questão ambiental e sustentável. A temática, assim como as melodias, nome do álbum, e até a capa do mesmo, tem o intuito em trazer uma nova perspectiva para que nós (humanos) tenhamos uma coletividade boa com a natureza e com até mesmo os outros animais.
— O álbum é a materialização do que a gente acredita como base para seguir com os nossos dias, uma experiência transformadora que impactou diretamente nossas vidas. Dizer que é o primeiro álbum sustentável do mundo parece soar pretensioso, mas não encarar dessa maneira também reduz a importância que ele tem e nós não podemos deixar de frisar isso: PRODUZIR DE MANEIRA SUSTENTÁVEL É POSSÍVEL – seja um disco, uma roupa, uma embalagem, uma ideia. É hora de mudar, de evoluir, transmutar. E o CARTA DA TERRA é o convite, a oportunidade —, explicam.
Abaixo, você verá na íntegra uma entrevista que fizemos com Thiago Val, integrante da Laranja Oliva.
Vocês chegaram numa temática bem “diplomática”, eu diria. É isso mesmo?
Acho que essa palavra passou a fazer mais sentido para gente, precisamos defender o que acreditamos de maneira radical, nós, os agentes, mas é preciso ser político com o todo para que o choque seja construtivo e não apenas ofensivo. Quando falamos em não jogar lixo no chão ou de uma dieta com menos consumo de carne, por questões ambientais, pode soar simplista ou radical consecutivamente, mas ambos os tópicos podem construir ou serem motivo de deboche, depende de onde se fala ou com quem se fala.
A mudança ideal só existe na cabeça de quem pensa, precisamos agir de acordo com a situação e buscarmos melhoras, ainda que em um passo de cada vez. Isso é real.
Ainda nessa pergunta, o álbum é o primeiro na história da música brasileira com proposta ambiental sustentável. Comente.
Tivemos que mencionar isso na campanha e ainda mais agora com o disco lançado, ainda que delicadamente, porque nem tudo que existe a gente acha pesquisando na internet, mas nos sentimos na obrigação de frisar que é a primeira produção de álbum pensada para ser 100% sustentável, embora isso seja muito discutível. Não há um padrão para a produção sustentável, é mais um lance comportamental com o impacto que causamos na nossa “casa” (o planeta) no dia a dia, do que uma cartilha que se tem que seguir. E nesse momento estávamos gravando um disco, é a nossa forma de expressão, então concordamos que tudo podia ser repensado, dos instrumentos e poesias, até os alimentos que consumiríamos durante os dias de gravação e daí em diante para os próximos dias de nossas vidas. Das árvores que vamos plantar na nossa cidade, revertendo impactos, ao tecido que optamos para produzir nosso merch. E isso vale para outros setores também, têxtil, alimentício e não só de entretenimento.
Sabemos que tudo pode ser produzido de maneira sustentável. Precisa querer.
E o nome e a capa do álbum, o que querem dizer?
CARTA DA TERRA é um documento emitido pela ONU em 2000 após 10 anos de diálogo multiétnicos, com as mais diversas idades e frentes religiosas, universidades e tribos do mundo todo com as medidas que precisamos tomar para o planeta terra continue sendo uma casa agradável e habitável para todos os terráqueos (lembrando que terráqueo é todo ser que habita este planeta, e não só o humano, como imaginamos). Este documento foi pensado coletivamente e traduzido também por Leonardo Boff, uma personalidade que admiramos e que também está presente nos interlúdios do disco.
A capa, é uma releitura da Pacha Mama, a mãe terra na visão Inca, materializada em elementos da natureza, nesse caso, LIXO. Foi desenvolvida pelo Akira Iamaguti, um artista bem peculiar e nosso amigo também, além do Gui que também pensou muito nessa obra além de construí-la, de fato.
Neste álbum, vocês tiveram a influência de nomes como Elza Soares, Baiana System, Emicida e Lenine, que não são tão iguais em questão de ritmos. Pode falar um pouco mais sobre isso?
Acho que isso é uma característica nossa, de querer misturar tudo desde os primórdios, todo mundo tem raízes bem distintas na música e desde que tocamos juntos, há uns 15 anos, essa ideia sempre foi um ponto em comum.
Como vocês trabalharam a parte musical do álbum?
O disco foi todo gravado no estúdio Family Mob em São Paulo, o que deixou o trabalho ainda mais curioso. Um baita estúdio, com os melhores equipamentos e a gente batendo em panela, escapamento, tambor de óleo, papelão, foi bem divertido. Nossa sorte foi que além dos melhores equipamentos, as melhores pessoas do mundo trabalham neste lugar, nos deram não só ideias e técnicas para gravar esse monte de sucata, mas apoiaram todo o projeto e somaram na família. O Hugo, produtor, já é quase limeirense.
Os timbres ficaram perfeitos e ideia de lata e viscosidade brilhou em cada faixa.
E o processo criativo das 13 faixas, como foi?
As músicas tiveram histórias particulares, mas chegamos no estúdio com umas 5 já prontas, com pequenos ajustes na hora de gravação, outras mudaram muito. A maior parte das letras estavam prontas. Mas COSMOS, por exemplo, tínhamos a letra, mas a parte instrumental foi toda feita lá, por todos, assim como a faixa que antecede o som, CAUSA. E a parte do DIRETRIZ, foi escrita em menos de 48 horas, através de um beat gravado e enviado para os caras, lá do estúdio e depois de algumas conversas por Facebook.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o álbum?
FOGO tinha uma linha de viola, mas teve uma alteração na afinação da viola que não tivemos tempo de refazer, foi triste. Nosso amigo, Mitchell, professor da orquestra em Limeira e integrante do Pessoas Cinzas Normais ajudou na composição da linha, foi até sampa, gravou e no dia seguinte, uma segunda-feira percebemos esse abacaxi, mas aí a Giulia tinha gravado um baixo acústico com arco tão lindo, mas tão lindo, que além de tirar lágrimas dos nossos olhos, acabou acalentando nossos corações. A viola vem numa próxima (risos). A faixa tá linda.
Até a voltagem dos equipamentos foram medidas para que pudéssemos reverter o impacto ao seu máximo, assim como o combustível e a poluição das logísticas, e uma parte do encarte do disco será de papel semente, quem adquirir vai poder destacar e plantar uma árvore onde bem quiser.
Em WEI-JI tivemos a experiência incrível de gravar um coral com cerca de 500 crianças. Todas foram nossas alunas na escola municipal Aracy Guimarães Nogueira. O projeto durou todo o ano de 2017 e, com a ajuda dos nossos queridos amigos Gabriel Archangelo, Caique Redondando e de toda a direção e coordenação da escola, participamos de todos os dias letivos das crianças. A participação delas foi através dessas palavras: “Aracy ore pee iande” que em tupi significa, sucintamente, “aleluia, eu sou você, você sou eu e nós juntos somos uma coisa só”