Vitor e Diogo Luna são dois irmãos gêmeos da Paraíba que decidiram trilhar o caminho da música juntos (o que deu muito certo, e pode ser visto no CD NESSE TREM, segundo lançamento do Duo, e que conta com várias participações, desde a produção até as gravações).
Com 11 faixas 100% autorais, os músicos renovam o cenário da música brasileira, indo do baião ao soul/funk, carregando assim variados ritmos e contextos, com timbres, histórias, texturas e arranjos diferenciados.
“Esse disco é uma tentativa de escancarar uma relação entre nós e as sonoridades que nos fizeram chegar a decisão da música”, afirmam. “Dormimos e acordamos pensando em dividir aquilo que amamos fazer e achamos que não tem algo que descreva melhor esse momento do que: uma incessante busca de sempre fazer música com o coração. Fazer esse trabalho com toda entrega possível”.
Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com Vitor e Diogo.
Ao final do vídeo, apareceram as outras faixas.
Falem um pouco dessa variação rítmica das faixas do CD.
DIOGO: Nunca defendemos um estilo. Fazemos música e somos apaixonados por muita coisa, na hora de compor nos permitimos não ter distinção. O Nesse trem reflete isso. É um disco misturado em que um baião termina e um funk/soul entra, nas nossas cabeças, sem nenhum problema, porque sempre foi assim que enxergamos. Isso não quer dizer que não possamos fazer algo mais específico no futuro como um disco só de samba por exemplo. Podemos sim, depois um de música regional com nossa influencia nordestina. Não há rótulos.
O álbum é completamente autoral. Como foi o processo criativo de vocês?
VITOR: Sim! O álbum é inteiramente autoral. Compomos as 11 faixas, sendo 9 delas apenas de nós dois e 2 em parceria de letra, DE LÁ DE LONGE com Vanessa Carvalho (minha esposa) e ONDE VOU CHEGAR com Kayo Cesar (amigo de ambos).
Nosso processo criativo não tem regra, um pode começar a fazer uma música e os dois concluírem juntos. Diogo vai mais pelo lado rítmico e harmônico da coisa, eu costumo escrever letras primeiro, mas isso não é lei e sempre no meio dos caminhos a gente se encontra pra terminar juntos o que cada um começou. Tem muita coisa salva nos arquivos de gravação dos celulares, pedaços de harmonia ou melodia, letras inacabadas ou até acabadas nos blocos de notas esperando só a hora de um encontro acontecer. E claro que tem músicas no processo que surgem individualmente do começo ao fim, mas são minoria no todo.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o álbum?
VITOR: Esse álbum é no maior dos clichês uma conquista pra nós, não só pelo lance do financiamento, mas porque ele só pode vir anos depois de uma experiência triste com um convite à produção de um disco fora do Brasil. Fomos à Portugal, convidados por um produtor musical, pra gravar o que pra gente na época talvez representasse esse trabalho de agora, um disco gravado num bom estúdio, com banda completa, com arranjos e 100% autoral. Infelizmente nada disso saiu. Gastamos muita grana nessa viagem e não tínhamos mais como fazer um disco com esse porte.
De volta ao Brasil e com pouquíssimos recursos técnicos, equipamentos, e conhecimento dos programas de gravação Diogo e eu começamos a gravar um EP (SECURA) no nosso quarto, coisa bem acústica e caseira mesmo, mas foi com esse EP que começamos a rodar na cidade como compositores, a tocar numa ou noutra rádio, a fazer shows, reunir músicos e amigos que acreditaram no projeto
Só 4 anos depois dessa viagem o NESSE TREM conseguiu ser gravado por completo e lançado.
E o contexto do álbum? Como ele surgiu?
DIOGO: O NESSE TREM foi para trazer à tona um registro de uma sonoridade mais forte, com banda, um disco com metais, que já era um desejo nosso de muito tempo. Surgiu para celebrar muita coisa, é um álbum que tem uma mensagem otimista sobre a vida, sobre o correr atrás, ter esperança. Queríamos esse calor nos arranjos, na escolha dos timbres.
A escolha do nome veio pela relação forte que temos e que o público sempre teve com a faixa NESSE TREM que entrou no primeiro EP SECURA. Depois fomos analisando que o sentido do NESSE TREM foi aos poucos se estendendo para a temática do disco de maneira geral. E todo trabalho gráfico foi pendendo naturalmente para isso. A criação de uma identidade visual com um trem que passei por elementos de canções do disco sem obedecer uma direção certa (foto da capa). Cubos em perspectiva dando suporte a esse passeio, figurino, foram concepções que se desenvolveram para dialogar com o trabalho.
Vocês entraram em financiamento coletivo na internet. Como foi isso?
VITOR: Isso, o disco só conseguiu ser concluído junto a um financiamento coletivo. Durante o processo conseguimos levantar uma grana pras etapas de produção, gravação e mixagem, mas ainda sim esse dinheiro não cobria a masterização e a prensagem, daí pensamos que o financiamento seria a solução pra isso e realmente foi. O processo foi muito legal, foi bom demais ver o engajamento das pessoas com o nosso trabalho, ver gente nova chegando pra colaborar com essa construção, ver o pessoal compartilhando, mobilizando suas próprias famílias próximas a abraçar o disco. E ao mesmo tempo que foi bom também foi muito trabalhoso, pelo fato da geração de conteúdo diária, a gente não teve folga e não deu folga, foram 45 dias intensos nas nossas redes sociais. A gente via hora o povo enjoar de nós dois. Mas o trabalho com certeza foi menor que a alegria de ter batido a meta e de ter estreitado os laços com tanta gente que de verdade apadrinhou esse trabalho.
Vocês trabalharam com uma galera para gravar e produzir o álbum, não é?
DIOGO: Temos o privilégio de trabalhar com gente que a vida nos deu antes da música e aquelas que a música nos deu e viraram amizades para a vida. Em casa, nossos pais sempre apoiaram nossa decisão, nossas esposas sempre torceram. E não tem a ver com só dar apoio emocional. São nosso povo da correria, que monta cenário, que está junto organizando recompensa de financiamento coletivo, na montagem de um show, divulgação. Além disso Pablo Lacerda e Beatriz Lemos amigos de longas datas são nossas lentes e mais um pouco de tudo. Ítalo Viana, nosso baixista e parceiro nos arranjos de algumas canções do disco é outro que está conosco desde sempre. Jader Finamore que surgiu por indicação de Ítalo para produzir o disco, foi mais um dos que se juntou a esse time importante para nós. Tem mais gente, mas já estamos com medo de não citar, então é melhor parar.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
– Temos uma paixão muito grande pela imagem, design, cores, desenhos e isso é algo que nos move demais também. A criação da identidade visual do NESSE TREM é nossa. Não porque não confiamos no trabalho de outros. É pela ânsia de, sendo bem nordestinos, “bulir”, mexer com isso, experimentar;
– Somos gêmeos, temos 27 anos (1990);
– Assinamos os arranjos do disco, junto com Jader Finamore (produtor e diretor) e ítalo Viana (baixista);
– Nascemos e moramos em João Pessoa, Paraíba;
– Profissionalmente na música há 7 anos, com trabalho autoral há quase 4 anos.