3 de outubro de 2024
Música

Claustrofobia – a banda que herdou o melhor do heavy metal

Claustrofobia 018

 

O heavy metal pode não ser muito a praia dos brasileiros, mas certamente o Claustrofobia se inspirou muito nos ritmos e no jeitinho brasileiro. Foi isso que Marcus D`Angelo, vocalista da banda contou à Arte Brasileira em entrevista especial.

“A princípio as bandas de Heavy Metal clássicas como Iron Maiden, Metallica e outras foram as primeiras inspirações, na sequencia descobrimos o Sepultura e que apesar de cantarem em Inglês tinham a garra e musicalidade legitimas Brasileira, e isso realmente mudou nossas vidas, nos deu motivação e inspiração para acreditar no sonho. Depois disso muita cosia influencia no Brasil principalmente, sair na rua é um evento, é transito, é loucura e o jeitinho Brasileiro que acaba gerando assunto pra muita música, tanto pro bom quanto pro ruim. A superação dos esportistas Brasileiros também é algo inspirador, talvez um livro, alguma notícia, enfim tudo acaba influenciando quando você respira sua arte”, contou o vocalista.

Em falar em Sepultura, a banda confessa que sofreu influências muito fortes dos roqueiros brasileiros, e que pela qualidade do som da banda, eles dizem estar felizes quando comparam suas performances com a do Sepultura.

“Quanto a comparação com o Sepultura vejo como um elogio, afinal eles lançaram álbuns que revolucionaram o Heavy Metal mundial. Realmente é uma fonte que bebemos bastante por ter vivido a época deles aqui no Brasil nos anos 90”, comentou Marcus.

Assim como o Sepultura, os rapazes do Claustrofobia também apostaram no reconhecimento externo em relação ao Brasil, mas contam que fazer sucesso no próprio país seria e é algo fantástico, justamente por gostarem tanto do público brasileiro. Por outro lado, os músicos também estão se envolvendo com o mercado exterior, principalmente na Europa e na América do Norte.

“Quanto ao reconhecimento maior lá fora, pro Claustro não cabe tanto, temos uma carreira mais solida no Brasil do que fora. Já fizemos algumas turnês bem selvagens por toda Europa onde conquistamos uma legião de fãs, porém ainda estamos dando passos pela Europa e começaremos uma investida na América do Norte onde o último álbum foi lançado. As pessoas dizem isso, porque com o Sepultura foi assim, com o Krisiun também. Eles têm o Rock pesado na cultura então as coisas são reconhecidas mais rapidamente, tudo acontece mais rápido, por isso as bandas procuram ir pra lá em busca de melhores condições, também não é um conto de fadas pois você tem que ser no mínimo 2 ou 3 vezes mais interessantes que algum produto de lá“, afirmou Marcus.

Apesar do atual reconhecimento que a banda vem conquistando Brasil afora, o vocalista conta que o importante é ter alguém pra assistir, independentemente do tamanho do palco ou do evento em que vão se apresentar. Isso aconteceu muito quando a banda iniciou sua carreira, quando tocava em pequenos eventos. Com isso, o vocalista nos contou uma pequena história que aconteceu no dia da primeira apresentação da banda.

“O primeiro show da história da banda em 1994, em Pirassununga (interior de SP), minha guitarra não era tão legal, e por eu ser tão jovem (apenas 13 anos) o guitarrista da banda principal me emprestou sua Fender Americana. Eu estava tão nervoso e tocando forte que cortei meu dedo e começou a sangrar muito sujando a guitarra branca dele de sangue durante a apresentação, a galera mais velha não acreditava, só tinha louco no local, era um bar no meio do Mato, lotado de gente. Passando o nervosismo a galera curtiu muito e no final tive a certeza que era aquilo que queria pra minha vida, com apenas 13 anos. Inesquecível”.

Como já dito, a música no Brasil vem sendo cada vez mais desvalorizada pela mídia, em contraste com a grande efervescência que a mesma vem tocando nas redes sociais, na qual se enquadra a banda Claustrofobia. Talvez seja por isso que o lançamento do primeiro disco do grupo tenha surgido 5 anos depois da primeira investida da banda.

“Atrasos devido a dependência de terceiros para lançamento, etc. Era sempre uma batalha conseguir lançar um álbum, não tínhamos grana, tudo era mais difícil. No Brasil banda independente acaba sofrendo muito com isso, nosso último álbum mesmo saiu depois de dois anos após ser gravado”, comentou o músico.

A banda trabalha com som autoral, o que também diferencia sua obra de outras bandas do mesmo seguimento. Outro diferencial é a questão de que algumas partes do repertório contêm letras brasileiras.

“Minha vida mesmo que tenha muitas outras correrias, ainda é fazer e pensar em música, então eu estou sempre criando algo no violão, na guitarra, na cabeça mesmo, e vou registrando tudo mesmo que de forma primitiva. Pelo fato do baterista ser meu irmão de sangue, temos essa afinidade e um jeito especifico de trabalhar em cima dessas ideias, com ele e os outros integrantes é a mesma coisa, chega um momento que sentimos que é o momento de começar a compor, ai vamos pegando essas ideias e fazendo Jam em cima, trabalhando, superando, etc. Basicamente é isso, mas não tem muita regra pode acontecer de formas diferentes também, o lance é nunca perder a paixão por criar, então estamos sempre pensando em música, letras, etc. Enquanto houver inspiração está tudo certo”, disse Marcus.

Como são músicas autorais, as mensagens das letras são também muito próprias, e expressam os pensamentos dos integrantes da banda.

“Fazer música pesada com muitos riffs de guitarras e batidas de batera insanas, com as raízes do Metal mas sem fechar as portas pra qualquer estilo pesado, violento e com textura agressiva, deixando fluir nosso sentimento e forma de tocar brasileira, com muito groove mesmo quando estamos na porradaria total. As letras não seguem uma temática especifica, pode ser inspiradas em problemas do cotidiano do nosso pais, assim como pensamentos particulares da nossa cabeça, positivo e/ou negativos e também acontecimentos mundanos que tanto chocam pro bem e pro mal, porem sempre tentando manter uma mensagem pra fazer as pessoas pensarem na evolução da sua existência”, disse Marcus.

Para finalizar, o músico nos deu uma opinião muito condizente com o sistema musical no Brasil.

“Não podemos reclamar de nada, apesar do pais estar em decadência, o Metal brasileiro está em evidencia. Passamos por muitos aprendizados nesses anos todos, especialmente nos últimos 2 anos. As pessoas na cena do Metal confundem muito o significado do sucesso. Parece que você tem que explodir e ganhar milhares de curtidas na internet pra parecer que você tem sucesso. Mas sucesso é estar bem com sua música, acreditar no que faz e conquistar seguidores de verdade influenciados única e exclusivamente pela sua arte e seu significado. O que vier a mais é lucro, e o que for de mentira pode cair pois a raiz está muito forte”.

 

 

Aderindo ao samba

Comentário de Marcus D`Angelo sobre a Musica: NOTA 6.66

“Sempre amamos a percussão do samba, desde quando meu pai tocava no fundo de casa com os amigos fazendo churrasco, eu e o Caio ficávamos horas assistindo aquilo, ate de madrugada. Eu acho esse ritmo totalmente insano e esmagador. Tínhamos um estúdio no bairro da casa verde em São Paulo, onde ensaiavam o grupo Batuque de Corda que eram nossos amigos de infância, eles são verdadeiros no que fazem e isso nos identificava muito, influenciados pela velha guarda do samba, etc. A musica realmente nasceu porque Caio ouviu um breque tradicional que eles criavam pra apresentar o grupo, e pediu pra gravar, ele aceitaram, o Caio me mostrou e fiquei chocado com a precisão. Um belo dia acordei, liguei minha guitarra e resolvi pegar os tempos e breques, apanhei muito pra entender e no fim acompanhei na adrenalina das palhetadas do Metal e fizemos a primeira experiência, mostramos pra eles e todos acharam sensacional. Não tivemos duvidas pra gravar como faixa oficial no álbum com mais de 6 minutos de duração. Acho importante mencionar que isso não foi nenhuma revolução, visto que Sepultura e outras bandas desbravaram esse flerte com ritmos brasileiros antes, porém além dessa barreira quebrada que aderimos desde cedo, amávamos o estilo da percussão do samba, e a forma que a gente fez nunca ouvi nada parecido. Chegamos a tocar 2 vezes ao vivo, e foi a energia mais incrível que já sentimos, e não teve que não gostou, mesmo a galera do samba e do Metal ser extremamente radical cada um em sua vertente. Sem dúvidas vamos fazer isso ao vivo novamente num momento oportuno e também dar mais algum passo juntos pois foi uma experiência inesquecível. A faixa e instrumental, então decidimos nomear como NOTA 6,66, algo como a alegria do Brasileiro no dia a dia, rastejando de trabalhar pra sobreviver, tomando sua cachaça no fim de semana enquanto sustenta bastidores de corrupção extrema. E a verdadeira trilha sonora do Brasil”.

 

Opinião de Marcus D`Angelo sobre o tratamento que a mídia atual faz com a música brasileira.

“Sinceramente não me importo, o Brasil é um pais de politicagem desonesta e isso reflete em tudo e todos. Tem muita coisa boa por aí, mas nem todos são reconhecidos ou tem mínimo espaço. Por isso quando vejo pessoas verdadeiras trabalhando em prol da arte mesmo fico feliz e honrado de colaborar, e também de figurar em algo que realmente de valor única e exclusivamente a arte. Pois a arte não tem cor, condição financeira, ela simplesmente acontece e é livre. As pessoas tem preconceito com tudo, com funk, com sertanejo, etc. Desde o funk do interior mais obscuro de uma favela até o Heavy Metal que pode dominar o mundo, são realidades do Brasil, que refletem estado de espíritos e de condições geradas pelo pais. Acho razoável considerar isso antes de sair criticando ou abrindo espaço só pra isso ou aquilo e cada um desfruta aquilo que faz bem pro seu coração”.

 

 

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.