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O cantor, compositor e artista visual piauiense Fryer busca nos sons góticos, industriais e pós-punk um caminho para cantar suas inquietudes. É isso que acontece em “The Moth – Before the Darkness”, álbum de sete faixas que, com bastante intensidade, dialoga com questões atuais, principalmente políticas e sociais do nosso país.
“Esse é um disco conceitual que aborda várias figuras presas em um ambiente escuro onde ninguém sabe onde está, como chegou ali ou para onde está indo. Quase uma referência a Beckett. O álbum funciona como uma sátira nostálgica e atual do momento político e social que vivemos abordando temas como o narcisismo nas redes sociais e os desdobramentos políticos do Brasil nos últimos anos”, resume o artista.
O lançamento é do selo norte-rio-grandense Nightbird Records e já está disponível em todas as plataformas de streaming.
Nós da Arte Brasileira recebemos com exclusividade a faixa-a-faixa do álbum, explicando cada uma delas. Confira a seguir!
01 – A Moth Fades in the Dark
Essa foi uma das últimas que compus. Gravei ela em Teresina (PI) mesmo, no meu quarto. Foi um processo muito satisfatório, pois precisava de uma introdução que mostrasse qual é a intenção atmosférica do disco. Essa intro e as pequenas faixas de transição dão um clima mórbido e sombrio, ou melancólico, em paradoxo com as faixas “principais”, como se elas fossem momentos entorpecidos dessas personas que tentam se refugiar da realidade em um mundo imaginário.
02 – Na Sacada
“Na Sacada” foi uma faixa muito divertida de trabalhar, ao mesmo tempo desafiadora. É uma música que tem muitas transições e mudanças além de um conceito bastante maleável. Instrumentalmente ela exigiu bastante ensaio e estudo, e hoje acaba sendo uma das mais divertidas de tocar ao vivo. É muito engraçado ela se ressignificar perto do lançamento acontecer com esse fenômeno hilário do “cringe”. Boleto virou cringe assim como um bocado de outras coisas triviais. Então é também uma música que reflete o Brasil do Bolsonaro, um Brasil Cringe.
03 – The Empty Corridor
Essa faixa nasceu em um momento bastante contemplativo. Lembro que estava em um dia regado de muita ansiedade e chegou em um ponto que a cabeça apenas desligou e comecei a tocar aleatoriamente. Essa faixa nasceu de maneira muito tranquila, me passando uma sensação de vazio, como um corredor com luzes baixas à noite, em dia de semana, quando você está cansado e só quer fumar um cigarro ou beber uma coisa gelada para acalmar os nervos.
04 – St. Joseph
“St. Joseph” foi a primeira faixa que compus, ainda no final de 2016. Era uma faixa só de voz e violão, com um strings no refrão. O solo com slide já estava lá, os backing vocals também. É particularmente a mais pessoal pra mim, pois escrevi em um período muito conturbado. Foi muito fácil passar ela pra banda na versão final que foi pro disco, tanto que foi gravada em um único take. O Izídio Cunha fez um trabalho incrível no baixo e captou muito a ideia.
05 – Craving Attention
Essa faixa foi a última que compus. Nesse ponto o material já estava em processo de produção bem avançado. Quando apresentei ela à banda eu estava com medo de não dar tempo de lapidar essa por conta da duração e as várias transições. Lembro que estava sentindo falta de algo que trouxesse novamente um ar mais satírico depois de “Na Sacada”. Estava ouvindo muito o “Station to Station”, do David Bowie, na época e cheguei com um riff e versos bem naquela linha para apresentar ao Jean Medeiros (guitarra). Ele pegou o riff e todas as partes iniciais da música e ainda adicionou um solo com muita influência de David Gilmour.
06 – Sinal de Outubro
Essa música foi a segunda que escrevi para o disco. Bem, na época eu ainda não sabia que seria especificamente para o disco. O instrumental nasceu de um improviso que costumava fazer com o Izídio (baixo) lá em 2017 quando tocava em trio com ele e a Clara Carvalho na bateria. Mais tarde, a letra nasceu naturalmente em um dia que eu estava claramente bastante aflito como muita gente, o dia seguinte ao segundo turno das eleições de 2018. É muito complicado tentar escolher uma faixa favorita no álbum, mas com certeza essa está lá no topo.
07 – Silence Recreates Itself in Abstraction
Essa foi a última faixa que criei e talvez seja a mais inacessível do trabalho. Ela tem um ar mais próximo de música experimental e concreta, com um foco muito grande na manipulação de fragmentos sonoros e o uso do acaso. Simplesmente precisava de algo que remetesse à ideia de reiniciar o conceito. Extraí vários trechos e fui os adicionando em volume baixo, deixando os ruídos e o silêncio agirem. Pra mim ela tem essa aura crua e suja, ao mesmo tempo que vazia e distante, retrocedendo com os personagens da obra a um looping eternos dos eventos do disco.