25 de março de 2025

Conheça o inusitado álbum que usa elementos sonoros como fita cassete e outras ferramentas para criar músicas [ENTREVISTA]

 

Inusitado. É uma das melhores palavras que descrevem o álbum VAZIOS, do Duo Bella e Cadu. O trabalho foi desenvolvido com nas aventuras do duo nos sons que algumas ferramentas produz, como a fita cassete, sintetizador e microfone de contato.

VAZIOS é o primeiro registro em duo de Bella e Cadu Tenório. No lugar de intensa instrumentação ou da valorização de gestos coesos o que ganha à frente no disco são sons produzidos pelos próprios mecanismo das máquinas utilizadas. O pulso da variação de corrente elétrica, o “hum” causado pelo mal contato de cabos, sons de rolagem e da “marca d’água” do reprodutor de fita k7, suas falhas de reprodução e seus botões sendo pressionados, risos de fundo, toque, suor, silêncio e distância. A valorização do que seria maquiado ou descartado.”, comentou Cadu.

Porém, o que mais impressiona em VAZIOS, é o fato de que o que não seria música, acaba ganhando corpo musical e até mesmo ritmos e vozes. “À medida que o álbum se desenrola, começam a surgir os rastros de uma formação musical (ritmo, voz, texturas) mas que tendem a se esvaziar. Foram utilizados no processo uma bateria eletrônica, fitas cassete, sintetizador e microfone de contato.”, explica.

 

CLIQUE AQUI para ouvir o álbum.

 

Como surgiu essa ideia “maluca” de fazer um álbum com esse tipo de elementos sonoros?

Cadu Tenório: Surgiu no processo em si, queríamos trabalhar em algo juntos e estávamos buscando algo onde pudéssemos nos encontrar conceitualmente falando. 

A partir da experiência de tocarmos juntos e do modo como gravamos esse encontro, foram ficando claras algumas ideias, conseguimos alguns resultados muito interessantes tendo gravado não só a sessão em si, em linha, mas também como ela era captada do lado de fora do ambiente escolhido. O fato de ter sido uma gravação sem pausas onde parávamos pra tomar água ou trocar algumas palavras, ligar, endireitar e “setar” os equipamentos também ficou gravado e fez com que a ideia fizesse ainda mais sentido na pós-produção e composição das faixas. Resolvemos que trabalharíamos com o que não eram os ápices nas sessões e sim com os espaços. 

 

Vocês tiveram alguma inspiração, influência, ou coisa do tipo?

Cadu Tenório: As influências que partilhamos musicalmente são bem similares muitas vezes, mas acho que a influência maior para o disco foram nossas experiências tanto como ouvintes como praticantes de música improvisada. O que é uma contradição já que no fim das contas resolvemos compor o material a partir das sessões de improvisação gravadas. Porém nem tanto se pararmos pra pensar que muitas vezes o resultado de um bom show de improvisação pode-se dizer “compostos” em vários aspectos, principalmente no gestual e nos movimentos que vamos aprendendo com o passar do tempo. A percepção de que querendo ou não as vezes a repetição adquire traços de fórmula.

 

Como vocês se relacionaram na criação dos sons?

Cadu Tenório: Não temos papéis diferentes, temos o mesmo papel, catalisadores da mesma forma, usando as vezes os mesmos equipamentos e dividindo as mesmas funções na pós também. 

 

Ao longo do álbum, alguns elementos musicais como ritmo, voz e textura vão aparecendo, não é? Em VAZIOS, como foi o processo de produção e edição?

bella: A gente marcou de gravar um som aqui em SP na minha casa, numa das vindas de Cadu. O sistema aqui é simples, tenho uma placa de som 4 canais, um quarto com umas caixas. Emprestei uma mesa de som pro Cadu, mas ligamos no 110v, e ela é 220v. Fizemos duas sessões de gravação improvisada. Depois quando fui ouvir, me dei conta que os sons do Cadu praticamente não foram gravados no todo do material. Dei o pontapé fazendo uma edição de cortes, e enviei pro Cadu. Começamos a nos corresponder, e Cadu fez uma mixagem evidenciado todos os “erros” da gravação. Resolvemos seguir nesse caminho. O nome VAZIOS veio de Cadu. Eu mixei algumas e ele mixou outras. A ordem foi Cadu que fez. Em resumo, foi um processo bem conjunto, desde a gravação. O processo não partiu de uma ideia e sim de irmos enfrentando o que surgia no nosso processo de realizar. 

 

Tem alguma história ou curiosidade em relação ao álbum?

Cadu Tenório: História é basicamente o release que escrevemos durante o processo. O material em si foi gravado durante uma única sessão que ouvimos à exaustão, cortamos e gravamos overdubs, reordenamos da melhor forma possível até chegar ao ponto do que se tornou o álbum.

 

 

 

 

 

 

 

Newsletter

[RESENHA] A literatura brasileira é seca, é úmida, é árida, é caudalosa.

            Desde a civilização mais antiga, a vida humana é orquestrada pelas estações do ano.  No poético livro “bíblico de.

LEIA MAIS

Danilo Martire exercita o uso saudável da IA Generativa ao gravar single com Kate, cantora

“Eu canto a beleza de ver minha filha dormindo na mais perfeita harmonia”, é esta a fala de Danilo Martire.

LEIA MAIS

Podcast Investiga: A arte como resistência política e social (com Gilmar Ribeiro)

Se a arte é censurada e incomoda poderosos do capital, juízes, políticos de todas as naturezas, chefões do crime organizado,.

LEIA MAIS

Gabriel O Pensador, sempre insatisfeito em “Matei o Presidente”

Reportagem escrita por Nathália Pandeló em outubro de 2018 e editada por Matheus Luzi   Há quem diga que o.

LEIA MAIS

Entre a sinestesia e a sistematização, Zé Ibarra se consolida como voz de sua geração

PERFIL ⭐️ Em meio a exuberante flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Zé Ibarra comenta com fluidez e.

LEIA MAIS

A nossa relação com os livros 

Como diz um autor anônimo, “a leitura nos traz amigos desconhecidos”, e de alguma forma inesperada constrói essa relação “leitor.

LEIA MAIS

CONTO: O Grande Herdeiro e o Confuso Caminhoneiro (Gil Silva Freires)

Gregório era o único herdeiro de um tio milionário, seu único parente. Não tinha irmãos, perdera os pais muito cedo.

LEIA MAIS

Produzido por alunos do ensino público, Jornal PUPILA CULT está disponível em plataforma digital

Jornal PUPILA CULT é uma realização da OFIJOR – A Oficina de Experiência Prática de Jornalismo (OFIJOR) é um projeto social,.

LEIA MAIS

Podcast Investiga: As artes quilombolas (com Nino Xambá)

Este episódio tem como finalidade desbravar as artes quilombolas. São mais de 35 minutos de conversa entre o jornalista Matheus.

LEIA MAIS

A invisibilidade da mulher com deficiência física (por Clarisse da Costa)

Eu amei o tema da redação da prova do ENEM de 2023: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho.

LEIA MAIS