Inusitado. É uma das melhores palavras que descrevem o álbum VAZIOS, do Duo Bella e Cadu. O trabalho foi desenvolvido com nas aventuras do duo nos sons que algumas ferramentas produz, como a fita cassete, sintetizador e microfone de contato.
“VAZIOS é o primeiro registro em duo de Bella e Cadu Tenório. No lugar de intensa instrumentação ou da valorização de gestos coesos o que ganha à frente no disco são sons produzidos pelos próprios mecanismo das máquinas utilizadas. O pulso da variação de corrente elétrica, o “hum” causado pelo mal contato de cabos, sons de rolagem e da “marca d’água” do reprodutor de fita k7, suas falhas de reprodução e seus botões sendo pressionados, risos de fundo, toque, suor, silêncio e distância. A valorização do que seria maquiado ou descartado.”, comentou Cadu.
Porém, o que mais impressiona em VAZIOS, é o fato de que o que não seria música, acaba ganhando corpo musical e até mesmo ritmos e vozes. “À medida que o álbum se desenrola, começam a surgir os rastros de uma formação musical (ritmo, voz, texturas) mas que tendem a se esvaziar. Foram utilizados no processo uma bateria eletrônica, fitas cassete, sintetizador e microfone de contato.”, explica.
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Como surgiu essa ideia “maluca” de fazer um álbum com esse tipo de elementos sonoros?
Cadu Tenório: Surgiu no processo em si, queríamos trabalhar em algo juntos e estávamos buscando algo onde pudéssemos nos encontrar conceitualmente falando.
A partir da experiência de tocarmos juntos e do modo como gravamos esse encontro, foram ficando claras algumas ideias, conseguimos alguns resultados muito interessantes tendo gravado não só a sessão em si, em linha, mas também como ela era captada do lado de fora do ambiente escolhido. O fato de ter sido uma gravação sem pausas onde parávamos pra tomar água ou trocar algumas palavras, ligar, endireitar e “setar” os equipamentos também ficou gravado e fez com que a ideia fizesse ainda mais sentido na pós-produção e composição das faixas. Resolvemos que trabalharíamos com o que não eram os ápices nas sessões e sim com os espaços.
Vocês tiveram alguma inspiração, influência, ou coisa do tipo?
Cadu Tenório: As influências que partilhamos musicalmente são bem similares muitas vezes, mas acho que a influência maior para o disco foram nossas experiências tanto como ouvintes como praticantes de música improvisada. O que é uma contradição já que no fim das contas resolvemos compor o material a partir das sessões de improvisação gravadas. Porém nem tanto se pararmos pra pensar que muitas vezes o resultado de um bom show de improvisação pode-se dizer “compostos” em vários aspectos, principalmente no gestual e nos movimentos que vamos aprendendo com o passar do tempo. A percepção de que querendo ou não as vezes a repetição adquire traços de fórmula.
Como vocês se relacionaram na criação dos sons?
Cadu Tenório: Não temos papéis diferentes, temos o mesmo papel, catalisadores da mesma forma, usando as vezes os mesmos equipamentos e dividindo as mesmas funções na pós também.
Ao longo do álbum, alguns elementos musicais como ritmo, voz e textura vão aparecendo, não é? Em VAZIOS, como foi o processo de produção e edição?
bella: A gente marcou de gravar um som aqui em SP na minha casa, numa das vindas de Cadu. O sistema aqui é simples, tenho uma placa de som 4 canais, um quarto com umas caixas. Emprestei uma mesa de som pro Cadu, mas ligamos no 110v, e ela é 220v. Fizemos duas sessões de gravação improvisada. Depois quando fui ouvir, me dei conta que os sons do Cadu praticamente não foram gravados no todo do material. Dei o pontapé fazendo uma edição de cortes, e enviei pro Cadu. Começamos a nos corresponder, e Cadu fez uma mixagem evidenciado todos os “erros” da gravação. Resolvemos seguir nesse caminho. O nome VAZIOS veio de Cadu. Eu mixei algumas e ele mixou outras. A ordem foi Cadu que fez. Em resumo, foi um processo bem conjunto, desde a gravação. O processo não partiu de uma ideia e sim de irmos enfrentando o que surgia no nosso processo de realizar.
Tem alguma história ou curiosidade em relação ao álbum?
Cadu Tenório: História é basicamente o release que escrevemos durante o processo. O material em si foi gravado durante uma única sessão que ouvimos à exaustão, cortamos e gravamos overdubs, reordenamos da melhor forma possível até chegar ao ponto do que se tornou o álbum.