Gui Hargreaves tem muito a comemorar. Não é qualquer um que grava um disco na Inglaterra, e consegue alcançar um resultado tão bem feito como VOLTA, que começou a nascer este ano, quando Gui fazia uma temporada de shows na Itália, por influência de sua mentora vocal, a italiana Francesca Della Monica. O mineiro despertou o interesse de Howard Turner, um saxofonista aposentado, que lhe apresentou Ed Scull, dono de um estúdio na Inglaterra e de um galpão de aluguel de instrumentos para orquestras e gravações. A possibilidade de usar os instrumentos que quisesse, do mundo todo, traduz um pouco a mistura que VOLTA traz.
Convidamos o músico para uma pequena entrevista, na qual ele comentou alguns dos desafios, experiências e bastidores do álbum. Lembrando.
Abaixo, veja a entrevista na íntegra.
O disco foi gravado na Inglaterra. O quanto isso influenciou no resultado final?
A influência de gravar esse disco na Inglaterra foi total. Primeiro porque a família da minha mãe vem de lá, meu sobrenome é de lá e eu sempre fui curioso sobre a relação que isso tinha na minha formação no sentido cultural, familiar, o que isso tinha de influência nessa origem. Eu fui em busca disso quando era adolescente, foi fazer intercâmbio lá e depois voltei sempre que pude.
Toquei muito lá em algumas viagens também. E nessa última vez, acabei encontrando uma oportunidade muito incrível de poder realizar esse projeto em um lugar tão importante prá mim.
A outra grande influência foi a relação com os músicos, esse trabalho só foi possível ser realizado da maneira que foi por causa das pessoas que estavam lá naquele momento. Foi um trabalho em equipe, muito experimental no processo. A gente trabalhou muito diariamente para concluir o que faríamos.
São seis faixas que contemplam o disco. Fale um pouco sobre elas, e como foi a suas criações?
As faixas que eu selecionei para gravar são em parte músicas que eu já havia escrito antes de sair em turnê com o meu primeiro disco e antes de ir para a Itália/Inglaterra e em parte músicas que eu escrevi durante o tempo que estive lá.
Isso também se relaciona com a escolha do nome, na ideia do projeto artístico em si, porque existe um ciclo geográfico, ela traça um caminho de onde eu escrevi cada coisa. Tem uma vertente temporal.
Faixas como I Can Forgive eu havia escrito em Belo Horizonte há uns 4 anos. E foi uma faixa que saiu de cara com o refrão em inglês e eu nunca tinha feito isso até então. Estando lá no estúdio em Londres decidi deixar assim.
Outra faixa que eu escrevi no Brasil foi Colagem, que tinha 3 anos, e fazia um jogo mais fluido entre as estrofes. Alone With You eu escrevi em janeiro, eu acho, de 2016, foi a última faixa antes de viajar.
Chegando na Itália eu escrevi Saudade, durante o tempo em que fiquei na residência artística, que é uma faixa que tem muito a ver com as grandes emoções que eu vivi lá.
Fim do sem Fim eu escrevi em Florença; eu tive dois shows cancelados lá, eu uma casa de show que tinha sido fechada e resolvi trabalhar em algumas canções.
E, por fim, Jamais Oublier Você eu escrevi logo que cheguei em Londres, então foi a última música. Ela não tinha nem nome quando eu gravei.
O disco parece ser uma mistura entre a MPB e o folk…
Acho muito difícil falar de referências no geral, prefiro fazer um corte relativo a esse trabalho mesmo. As referências que dialogam mais com esse disco são de um novo folk, que tem a ver muito com Devendra Banhart, Amarante, que puxa também para MPB. Tem um pouco do disco Transa, do Caetano, que foi concebido em Londres também. Tenho um pouco de referências de um jazz brasileiro, tem uma pegada do folk pop que vão pro lado de Kings of Convenience e Jose Gonzalez.
Como conheceu o produtor Ed Scull? E como foi o trabalho dele na produção do disco?
Eu conheci o Ed através do Ned, que foi aprendiz de jardineiro do Haowrd, que foi um senhor inglês que eu conheci durante um show no sul da Itália. Assim que cheguei em Londres, conheci ned e ele me levou para conhecer o Ed Scull que era um grande amigo dele.
Logo nos tornamos grandes amigos. O trabalho do Ed no disco foi extensivo, além de ser produtor no sentido executivo, ele foi quem juntou todas as pessoas que participaram do disco. Eram músicos amigos dele que já trabalhavam juntos.
Além disso, ele foi co-autor dos arranjos comigo e a gente discutia sempre tudo o que era gravado. Ele foi também o percussionista do CD e a formação erudita dele se adaptou muito bem ao projeto.
Ele foi uma peça fundamental para a realização desse trabalho.
Quais instrumentos foram usados nas gravações?
Nós experimentamos todos os instrumentos que podíamos. Tinha um galpão ao lado do estúdio, com uma coleção absurdamente gigante de instrumentos de todos os cantos do mundo, que o Ed aluga para produções nos Teatros, Orquestras, gravações de trilhas e tudo mais.
A instrumentação foi bem diversa. Eu quis manter nas canções a base de voz e violão e a partir dessa base construir atmosfera individuais para cada música. Essas atmosferas tem muito a ver com a parte percussiva e por isso a importância do Ed.
Tivemos também saxofone, baixo elétrico, acústico, vibrafone, marimba e por aí vai…
Acho que você tem alguma história interessante para nos contar sobre os bastidores do disco…
Acredito que o mais interessante foi eu ter chegado ao estúdio do Ed, despretensiosamente, para gravar uma música, e sair de lá com um disco completo. A cada música que eu gravava, eles pediam mais uma, ia chegando mais um músico diferente e de repente tínhamos material suficiente para produzir o disco. Foi algo inusitado e muito enriquecedor.