5 de novembro de 2024
Música

Duo de rock alternativo aposta em disco gótico tropical [ENTREVISTA]

 

GUACHE é um Duo de Luciana e Gil, que juntos, criaram mais uma pérola do rock nacional, o álbum O QUE VEM, editado, gravado, produzido e mixado na própria casa de Gil, que também usa o seu dom para tocar o pouco usual baixo de 6 cordas.

Vindos do Rio de Janeiro, o Duo traz nas letras uma poesia inconfundível, aliado a vocais etéreos que se encontram em canções urbanas. 

O lançamento é pelo selo Rockit Digital.

 

Abaixo, você verá na íntegra uma entrevista especial que fizemos com o Duo. 

 

 

 

Esse disco é recheado de poesia, o que me chamou muita a atenção. Como foi o processo de criação das músicas, poeticamente?

Luciana: Valorizamos muito o poder da intuição e a força do acaso. Desde bem pequena sou fascinada pelo desenho das letras, pelo som das palavras e pelo objeto livro. Sempre gostei muito de ler e principalmente escrever… Tenho uma mente hiperativa e escrever ajuda a organizar e esvaziar a cuca… E a sonoridade das palavras é algo que me impulsiona ainda mais… Então o jogo de palavras é quase que um passatempo… Um modo de brincar sozinha… Me divirto muito deixando as palavras brotarem da mente e quando tenho um bloquinho por perto então…  Quanto mais boto no papel, mais vem… Uma palavra puxa a seguinte e assim vai… Também o ao redor estimula… O que vejo, ouço, lembro, sinto… Tudo vai se misturando no papel… Aí vem o Gil com seu incrível talento de editor e transforma esse fluxo em letra de música propriamente dita. Geralmente, só na fase do arremate final é que trabalhamos juntos, ajustando o pitaco de cada um até chegarmos num consenso.

 

E musicalmente, como foi?

Luciana : Assim como na parte escrita, na sonora também funcionamos muito um complementando o que o outro traz. De improviso, o Gil cria estruturas harmônicas no baixo de 6 cordas e beats e eu melodias na guitarra ou teclado. Gravamos dezenas de fragmentos e depois escolhemos para desenvolver, arranjar e letrar.

 

O QUE VEM é o álbum de estreia de vocês. Tiveram alguma dificuldade por ser o primeiro? Quais foram os desafios?

Gil: Nos descobrir como um projeto artístico em dupla após tantos anos juntos gerou uma ansiedade de realizar gigantesca, quase paralisante. As possibilidades de experimentação eram infinitas e vencer essa ansiedade, ter serenidade e deixar fluir produzindo no dia a dia, harmonizando as diferenças foi nosso maior desafio.

 

E as recompensas?

Gil:  A principal recompensa é o prazer de perceber que o disco nos representa.

 

Por que vocês dizem que fazem canções urbanas?

Luciana: A suavidade e a introspecção nas canções são uma resposta, uma busca por equilíbrio à vivência conturbada nas metrópoles. Até agora toda nossa experiência de vida se deu em meio à beleza e ao caos da cidade grande. Falamos do que vivemos e sentimos. Há também um dado de estética industrial bastante presente em nossas canções que vem das repetições, ruídos e ambiências artificiais.

 

 No álbum, temos a presença de um baixo de 6 cordas. Como foi trabalhar com isso?

Gil: Sempre fui fascinado por guitarra. Me lembro, criança, arrepiado ouvindo o som rasgado do riff de MONEY FOR NOTHING do Dire Straits. Meu violão me deixava decepcionado. Daí em diante toquei  guitarra, fiz guitarra, customizei guitarra minha vida inteira. Há uns oito anos atrás, Marcelo Frota, o Momo, grande compositor e querido amigo me chamou para tocar em seu projeto. Na época eu usava uma guitarra improvisada, adaptada uma oitava abaixo em meu projeto experimental IN-SONE e decidi usar com Momo. Às vésperas de um show importante, para não correr risco, construí o baixo de 6 cordas e me apaixonei – com mesmo instrumento eu podia encher o espaço com frequências graves ou flutuar melodias médias e agudas que soavam como um piano. Ele é fundamental no GUACHE, ora uso quase como um violão estruturando as composições, mas com uma sonoridade menos óbvia, ora como um sintetizador sobrepondo camadas.

 

Qual o carro chefe do disco? E Por que?

Luciana: CHÃO E CÉU, a segunda música do álbum, tem uma leveza que convida a experimentar a introspecção das outras músicas.

 

Vocês gravaram, editaram e mixaram na casa de Gil. Como foi fazer isso?

Gil: Foi inevitável. Para descobrirmos a sonoridade de músicas com tão poucos elementos era fundamental que encontrássemos o ponto certo de cada timbre, cada instrumento e seu lugar na mixagem. Não teríamos essa possibilidade na objetividade de um estúdio profissional com hora de começar e acabar. Nós moramos juntos e fomos gravando, conciliando com os outros afazeres, respeitando a inspiração. É possível gravar em casa e contornar quase todos os problemas técnicos que surjam desde que se saiba bem o que se quer.

 

Tem alguma história que envolva o disco?

Gil: Muitas vezes, durante as gravações, vinham ideias musicais que requisitavam algum equipamento que nós não tínhamos. Inacreditavelmente, inúmeras vezes, naquela mesma semana, a oportunidade de adquiri-lo se dava. Aparecia um amigo vendendo, ou na loja de usados que frequento… Tipo uma atração cósmica.

 

Fale mais sobre (coisas que eu não perguntei, e que vocês gostariam de dizer).

Luciana: “A mente é como um iceberg que flutua com 1/7 de seu volume acima da superfície… Poetas e filósofos descobriram o inconsciente antes de mim; o que eu descobri foi um método científico para estudá-lo.” (Sigmund Freud)

Gil: “É só no devaneio que somos livres” (Gaston Bachelard)

Luciana: “Os sentidos não estão prontos, mas se configuram no acontecimento. A narrativa acontece nos cruzamentos, diagonalmente, incorporando sobreposições, fragmentações, repetições, simultaneidade de tempo e espaço – enfim, todo o jogo que pode fornecer elementos para a criação de uma obra de sentido aberto, onde cada um constrói, durante a relação, sua própria narrativa.” (Katia Canton)

 

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.