A viagem que Angélica Duarte fez para o Rio de Janeiro em 2015, foi claramente uma expressão do que ela estava se tornando: compositora e intérprete da música popular, indo contrário aos trilhos da música erudita, na qual atuou durante muito tempo. “Odara”, um disco popular, com releituras de clássicos de Caetano Veloso, é também o que a cantora aprendeu em toda sua trajetória e inspirações por meio das canções do cantor baiano.
“Penso que seria mais fácil fazer um disco com minhas composições, sou compositora também, mas antes disso sou cantora, intérprete. Caetano é o compositor que mais me inspira, que mais me ensina, acredito que aprendi a cantar escutando suas gravações. Acho Caetano muito verdadeiro, e me identifico com essa característica dele. Já que é pra reproduzir suas palavras, que seja com franqueza.”, conta Angélica Duarte.
Como Caetano Veloso entrou para sua vida?
Ganhei o “DVD Prenda Minha” logo quando foi lançado. Escutava “Sozinho” repetidamente, cantando e falando de cor com Caetano, aí um belo dia resolvi assistir ao show todo e me surpreendi com a força das canções. Mais tarde fui conhecendo os álbuns, ouvi muito o “Qualquer Coisa” e “Joia”. Comecei por esses.
E mais, como as obras de Caetano entraram para o álbum? Como essa ideia surgiu?
O álbum ainda é um sonho e espero que seja um próximo passo, atualmente estou lançando um EP com três faixas. A origem dele é o show “Deixa o Pagode Romântico Soar”, que é uma coleção de canções do Caetano que conversam com meu momento de transição para o Rio de Janeiro. Falo sobre paixão, novidade, família, medo… é uma viagem psicanalítica, sempre entendo muito sobre mim e sobre as relações que faço quando canto este repertório.
Vi que este show foi determinante no meu crescimento como intérprete e tive vontade de registrá-lo, então no início deste ano arregacei as mangas e agitei tudo.
Quais foram as “releituras” que você e a produção do álbum fez nas músicas de Caetano Veloso?
Escolhemos três canções. “De Manhã”, samba que escutei muito na voz da Bethânia e que influenciou demais meu canto; “Odara”, que tem um arranjo bem diferente do original e que dá nome ao EP e a essa “jornada” que vivi, de São Paulo pro Rio; e “Tigresa”, canção de 77 que fala sobre uma mulher forte, com opinião, sensualidade e estrada.
Fale também sobre seu papel de intérprete em “Odara”.
Sou eu.
E o processo de curadoria, das escolhas das músicas do compositor baiano, como foi?
A construção do repertório do show foi fácil, fui costurando minha história com músicas que faziam sentido para mim e que precisei cantar, pelo motivo mais bruto: porque sim. Agora, selecionar as três para o EP foi jogo duro, não posso nem entregar muito aqui o porquê da escolha, acho que vale ouvir as faixas na sequência e sentir. “Odara”é uma espécie de “teaser” do show.
“Odara” surge após quase 10 anos de seu trabalho na música erudita. Por que decidiu seguir pelo caminho das canções populares neste novo trabalho?
Na música erudita, sempre me considerei uma estudante em formação, acho que estava muito próxima de me tornar profissional quando decidi que meu coração não estava ali, naquela carreira. Fiquei paquerando a música (e os músicos, rs) popular e me joguei de vez. A mudança para o RJ tem a ver com isso também.
Não abandonei nada, tudo o que aprendi, cantei e ouvi está muito vivo em mim, inclusive neste trabalho. Amo a canção em todas as suas formas: barroca, rock, caipira, pagode, dodecafônica, não importa. Essa versatilidade é importante para o que eu faço como intérprete e também compositora.
O quanto Pedro Franco (que toca também com Maria Bethânia) influenciou no resultado final do álbum?
Influenciou demais, construímos juntos esse trabalho, eu cheguei com a história e as canções e ele ilustrou isso em seus arranjos com muita sensibilidade.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o álbum?
Preciso falar sobre a arte de “Odara”. Trabalhei em conjunto com duas mulheres incríveis e artistas que admiro muito: Amandha Levandowski e Verônica Berta.
Conheci a Amandha aqui Rio e ela se tornou uma grande parceira, convidei-a para fazer a foto da capa e a Verônica, que é uma quadrinista incrível de São Paulo, fez a arte a partir desta foto e das referências que dei para ela, discos dos anos 70, cores, ideias… ela transpôs bem a sonoridade do trabalho para a capa, é uma visita ao passado com olhar de agora.
Fique à vontade para falar o que quiser.
Quero agradecer a todos que trabalham comigo no projeto e também àqueles que me apoiaram e incentivaram. “Odara” nasceu e estou muito feliz por isso.
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