“MAR DE TERRA”, álbum de estreia da banda mineira Caldêra, é mais uma prova de como a música brasileira vem cada vez mais se diversificando quando o assunto é ritmo. Ao longo das 11 faixas autorais, o grupo explora rítimos afro-latinos e brasileiros ao rock progressivo e denota uma forte influência dos cantadores e cantadoras nordestinos também nas melodias
Em relação as letras, a Caldêra vai muito além de questões pessoais, trabalhando assim com até mesmo a política, tudo de forma questionadora, mas sempre muito otimista.
No CD, a banda teve a “sorte” da participação de outros músicos, como Juventino Dias no Trompete, Willian Rosa no Bandolim, Pedro Diphilips na percussão, e Marcela Nunes na Flauta.
O disco teve a mixagem de Henrique Staino e masterização de Chico Neves. Já a capa do trabalho foi desenvolvido pelo artista plástico Erre Erre.
Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com o baixista Davi Lima.
Tem muita influência em “MAR DE TERRA”, não é?
Tem sim. Nós admiramos muito as letras e melodias dos cantadores e cantadoras do nordeste, como Xangai, Cátia de frança, e carregamos também muita influência de ritmos afro-latinos, como a salsa, o baião e o maracatu que estão presentes nessa canção. Se você ouvir o cd, e a música especificamente, você também percebe uma influência forte do rock progressivo, que está na formação musical de quase todos da banda, e também de alguns artistas que já traziam essa pegada forte do rock junto com os estilos daqui, como Alceu Valença, Chico Sciense e outros.
E o álbum em si, segue algum pensamento?
O álbum tem uma identidade forte entre as músicas, tanto nas letras quanto nos arranjos. Acho que as músicas todas carregam uma forte influência da canção, que é mais forte em “INTEIRO” e “VEIAS ABERTAS”, algumas seguem uma linha um pouco mais mística, como “ELDORADO”, “CALDÊRA” e “DANÇA COM AS BRUXAS”, e outras exploram mais os rítmos latinos, como “BANCADA”, “MAR DE TERRA” e “SONHOS”, “ESQUINAS” e “PEDREIRAS”. Quanto às letras, nós falamos muito sobre nossas experiências, principalmente sobre coisas que vivemos na estrada, e sempre colocamos a estrada como um lugar central de aprendizado, de desprendimento das ilusões das grandes cidades. Falamos muito também sobre a visão que temos do Brasil e da América latina, e isso é necessariamente um posicionamento político também. Nós todos vemos muitas contradições e desigualdades no Brasil, achamos que a colonização nos marcou muito e que existe uma elite que faz questão de perpetuar essas desigualdades por aqui por interesses inconfessáveis, e você pode ver que em muitas músicas nós cantamos a utopia, como em “ELDORADO”, “BANCADA” e “RETOMADA”, sobre o dia em que a América Latina vai se reerguer contra essas opressões.
O nome do álbum, tem algum conceito?
A gente buscou no nome do disco a firmeza e a fluidez que significa essa obra e os processos artísticos que desaguaram na finalização desse álbum. “MAR DE TERRA” é uma menção direta as serras de Minas e a paisagem da qual nos alimentamos durante toda a nossa vida. É uma perspectiva mineira dessas estradas percorridas, da terra vermelha, do pé no chão e das serras, que vistas do alto, se assemelham as ondas num alto mar.
O que vocês retratam nas 11 faixas do disco? O que o público pode esperar disso ao ouvir o trabalho?
O CD é repleto de mensagens políticas misturadas com experiências vividas por nós nas estradas do Brasil. Musicalmente falando, criamos uma identidade muito forte nas letras e melodias, o que nada mais é que um reflexo da coesão no processo criativo. O público pode esperar um álbum combativo e utópico, com uma grande diversidade rítmica, mas também com reverências à música popular.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o álbum?
A relação dos membros da banda vêm de longa data, eu (Tátio), por exemplo, conheço o Davi e o Gabriel desde a adolescência. O Juliano eu fui conhecer na faculdade de Ciências Socias na UFMG. Juntos a gente cruzou o Brasil de carona e, a partir dessa parceria, produzimos mais de 50 músicas nesse trabalho compartilhado. A grande surpresa, e sorte nesse processo, foi a entrada do Dgár na banda. No carnaval de 2017 eu acabei parando num bloco com o Juliano, bloco inclusive que já tem grande visibilidade em Belo Horizonte, o bloco afro Magia Negra. Quando a gente viu o baterista rolou uma paixão à primeira vista. Acabou que a gente saiu de lá sem conversar com ele, quando começou uma perseguição nas redes sociais (risos). Depois de muito esforço conseguimos fazer um ensaio com ele e a intuição estava corretíssima. O santo bateu, o caldo engrossou e a união se fez de forma muito rápida.