(Divulgação)
Fruto de um financiamiento coletivo de sucesso, o álbum de estreia da banda Carcaju mostra sua identidade, fazendo contraponto entre a música brasileira, o rock progressivo e a cultura pop.
Com uma poesia robusta e cheia de significados e com o uso atípicos dos instrumentos, o grupo representa o cenário paulistano ao longo das dez faixas inéditas, produzidas pela própria banda desde 2017, e gravadas no Estúdio Submarino Fantástico.
A seguir, você lê na íntegra uma entrevista que fizemos com Claudia Dantas, vocalista da banda.
O disco é um fruto de um financiamento coletivo de sucesso. Conte para nós como foi todo esse processo de arrecadação.
Claudia Dantas: A experiência toda do Catarse foi muito chocante, porque a gente não esperava que fosse ter tanto retorno! Cada nominho que apareceu lá que contribuiu doo ao mesmo tempo um choque e uma gratidão eterna. Claro que nosso objetivo final sempre foi que desse tudo certo, mas não esperávamos que fosse dar TÃO certo! Ultrapassamos nossa meta e chegamos a 120 poucos %.
A campanha foi o único meio que encontramos pra finalizar o disco, já tínhamos pago a gravação em estúdio do próprio bolso e vimos no Catarse uma maneira de arcar com os outros custos todos (são muitos!) que envolvem o lançamento de um disco, como mixagem, masterização, prensagem, arte, divulgação, etc.
Também foi um jeito legal da gente sentir que estávamos construindo isso junto, que o som não é só nosso, com cada um contribuindo da maneira que pode. Cada um deu um pouquinho, curtiu, compartilhou e juntos fizemos um lindo disco.
Quais são os assuntos (objetivos e subjetivos) presentes nas letras do álbum?
Claudia Dantas: Acho que os temas são variados mas quase todas passam por uma espinha dorsal em comum que é o feminino e as várias formas como ele se manifesta. Seja pelo sagrado, pelo desejo, pela maternidade ou mesmo pelo meio urbano, já que somos todos bem paulistas. Muitas letras falam de experiências transcendentais que envolvem auto-conhecimento, tanto ancestral quanto contextual (do que somos hoje) mas sempre passando por esse filtro do feminino, já que sou mulher esse parâmetro está presente em todas as minhas vivências.
Acho que tem tudo a ver com o nome da banda em si. Pra mim cantar é o jeito que encontrei de expressar minha essência mais primordial, de mulher selvagem mesmo. Esse lado foi algo que eu descobri cantando e compondo.
Certamente vocês pretendem passar alguma mensagem com as canções, não é?
Claudia Dantas: Acho que a principal mensagem é essa, do despertar. A proposta de se compreender o meio que envolve, com um foco maior no feminino.
Quais foram suas inspirações?
Claudia Dantas: Pra mim Milton Nascimento é sem dúvida a maior de todas. Gil também. Tem algumas banda gringas, como Fleet Foxes e Radiohead que considero bastante também, mas o que eu gosto mesmo é da mistura das coisas. Gosto da Beyoncé, da Rihanna e isso não poderia deixar de influenciar as minhas escolhas estéticas musicais.
Eu comecei a usar o sintetizador para abarcar esse lado pop, que tem tudo a ver com a contemporaneidade, e com São Paulo. Mas eu acho que cada integrante acaba trazendo um pouco de suas próprias referências, que são muito variadas, e no fim a gente vai criando com isso uma mistura que é só nossa. Eu amo mato e amo a cidade, é isso!
Como vocês definiriam o álbum musicalmente? Ou não teria uma definição?
Claudia Dantas: No nosso release mesmo falamos um pouco disso:
“Partindo da mistura de diversos gêneros e ritmos da música popular brasileira, Carcaju conta também com a experimentação de arranjos não convencionais, trabalhando com ambientações ruidosas e texturais. A utilização de guitarra elétrica distorcida, contraponteada com o violão acústico, batuques brasileiros e linhas de baixo elaboradas, apresentam uma forma alternativa de fazer música brasileira, dialogando com o rock progressivo e a cultura pop.”
Vocês têm alguma história ou curiosidade interessante para nos contar?
Claudia Dantas: Quando nos conhecemos eu (Claudia) cheguei com uma música sem expectativa nenhuma. Na época eu pensava em arranjar ela em duo com o Rodrigo, que do nada viu potencial em fazer ela com banda. Juntamos um repertório que finalizamos pro meu recital de formatura da faculdade (todos estudamos música na Santa Marcelina) e daí vingou!
O repertório autoral fechou quando fui convidada para tocar no festival SONORA do Rio, pro qual precisávamos que todas as músicas fossem autorais. A ideia de um álbum veio logo depois disso, pois estávamos super bem ensaiados e engatilhados. Fomos meio loucos, e gravamos tudo ao vivo porque era o que cabia no nosso bolso, sem saber o que íamos fazer depois. Aí veio a ideia do Catarse.