“Preto” e urbano, é assim que a cantora e compositora Da Cruz (como é conhecida no exterior) define o seu novo álbum, ECO DO FUTURO, com forte teor de crítica política em suas letras, entre outros assuntos relevantes.
Brasileira, mas radicalizada nas Suíça há dez anos, Da Cruz tem seu estilo musical chamado de “afro-brazilian bass music.
No exterior, na Europa, Da Cruz ficou conhecida por trabalhar com temas como o racismo e a violência contra a mulher. Seu nome também está relacionado a valorização da cultura afro-brasileira, difundida em países como a Inglaterra e Estados Unidos.
Da Cruz cresceu ouvindo de sua avó que o “Brasil era o país do futuro”, e agora percebendo a atua situação, a cantora enxerga em ECO DO FUTURO uma nova forma de protesto, conscientização e mudança.
Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com a cantora.
Em release você diz que o álbum é “preto”, indicando a influência do black music no álbum ECO DO FUTURO. Fale um pouco sobre o quanto este seu quinto trabalho tem disso tudo.
Ele é uma mistura da batida Africana, das festas black onde meus heróis como Fela kuti gritavam por Igualdade. ECO DO FUTURO sons que chegam ao seu corpo e massageando sua mente. Eu sou negra sim querendo um futuro mais justo e imediato para hoje. Transporto minhas Raìzes Ancenstrais.
Você é radicada na Suíça, mas nasceu no Brasil. O que você considera que ECO DO FUTURO tem dessas duas influências geográficas e étnicas?
Sim moro na Suíça há 17 anos, tive que renascer de novo nada fácil se adaptar, a língua e cultura. Amo o Brasil onde cresci e vivi, tenho minha família e amigos onde jamais esquecerei. O foco do álbum ECO DO FUTURO está no Brasil, como as coisas se passaram no Brasil e logo como o mundo inteiro também abriu os olhos de como as coisas na realidade funcionam no Brasil. Como por exemplo: a questão da ideia de como as classes convivem todos juntos, sem racismo, ou igualdade social, de como o povo brasileiro deixou de sorrir. A sociedade se dividindo em dois lados políticos sem possibilidades de diálogo. A população deixando se distanciar pela classe política. Na Suíça também existe falsas decisões mas entre o sistema da democracia direta, a população tem a possibilidade de participar das decisões. Eu gosto deste sistema pois a população não se frustraria no cotidiano político.
Certamente, o álbum tem um conceito. Qual é?
A curiosidade me expulsou do Brasil, pois resolvi ir para Lisboa conhecer a língua de Saramago e suas ex-colonias africanas, em busca das minhas raízes afro descendentes. Aprendi muito viajando e convivendo com culturas de Angola, Cabo Verde, Africa do sul Burkina Faso… As suas diversidades e influências musicais. Gosto muito da fusão que posso trazer para minha música juntando as batidas africanas com o Dub europeu que me fazem sair do chão, criando forças passando essa energia com o público. Como moro fora do Brasil tenho mais liberdade de criação e ousadia para experimentar novos sons sem medo de ser feliz.
As letras das músicas falam de que?
Nas canções enfrento o racismo oculto entre as elites políticas e as pessoas comuns, a revolta contra a injustiça econômica. De um País cambaleante entre a revolução e resignação de uma geração que acreditou num Futuro a qual nunca chega… De um vírus que não nos deixemos contaminar pela intolerância e o ódio dividindo a cabeças das pessoas. A força da mulher e mesmo nos dias de hoje sendo maltratadas e assassinadas pelo machismo embutido em nossa sociedade. Do relato de uma mulher negra que vê como seu País está sendo roubado e governado por homens brancos e privilegiados. Do Amor dos tempos difíceis.
E a parte rítmica, como você diria que ela é?
Como disse é um disco “preto” urbano, onde a batida africana estão presentes. Você ouvi afro- beat da Nigeria, Kvaito de África do sul, mas também Dub , Hip-Hop e baile funk …
Como o álbum vem sendo recebido por onde você passa?
Os grandes jornais e revistas da Europa e U.S.A , escreveram positivamente. Rádios do mundo inteiro tocando nossa música. E nossa turnê pelo Brasil, França, Alemanha, Holanda, Espanha, Portugal e Canadá sendo recebidos com muito público, curiosidade pela música. Claro canto todas em português mas me comunico e explico ao público o teor das letras em inglês ou alemão. Eles interajem juntos pois estão atentos sobre a realidade.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o álbum?
ECO DO FUTURO, eu já havia começado a escrever há uns anos atrás e todo o processo de escrever me vinham em flash de situações vividas, meu corpo presente estava aqui, mas meu espirito estava vivenciando ai no Brasil no mundo. Na mediação no transporte de novas ideias e o conforto de estar sendo o portal para essas vozes.
Fique à vontade para falar o que quiser.
Da Cruz procurou ficar longe dos clichês brasileiro começando agora a fazer e criar novas Pontes e linguagem onde todos no Coletivo possam cruzar e se conectar com todos no Mundo.