(Divulgação)
O primeiro disco solo do saxofonista Douglas Braga é repleto de ritmos, indo da música clássica, passando pela música brasileira e o jazz.
O trabalho conta com 9 faixas inéditas e também de vários autores, como as obras de Proveta, Felipe Senna (que assina a produção do álbum), Rodrigo Lima e Gian Correa, além de algumas composições do próprio Douglas.
Nas gravações, Douglas teve o apoio de grandes músicos, José Luiz Braz no clarinete, Marcos Braga fazendo seu espetáculo no trompete e no flugelhorn, Gian Correa no violão de sete cordas e Nath Calan e Cleber Almeida na percussão.
O projeto foi realizado com apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, via ProAC.
Primeiramente Douglas, obrigado por aceitar essa entrevista. A primeira pergunta: o nome do álbum “Música Livre” quer dizer que as músicas que você toca são “livres” de algum padrão musical?
Isso seria impossível, já que todos nós fomos e somos influenciados pelo meio. Na verdade, trata-se da união e mistura de diversos padrões. Nesse trabalho, cada músico veio de uma estrada diferente, produzimos assim uma sonoridade original. O título “Música livre” está associado à liberdade do discurso musical, conceito usado em todas as obras do disco.
O álbum é fruto da sua bagagem musical, que traz a música clássica, o jazz, e a música brasileira. Gostaria que você falasse um pouco dessa mistura de ritmos dentro do trabalho “Música livre”.
Sempre estudei música erudita e contemporânea, trabalho unicamente nessas áreas, mas também sempre gostei muito da música popular brasileira e do jazz. Há muitos anos componho propondo essa mistura, procurando uma música de fronteira que reúna todos esses elementos. Creio que a vida paulistana nos leve a esse caminho plural.
Neste álbum (meu primeiro) não poderia falar de outra coisa! Para isso convidei músicos e compositores expoentes de diferentes gêneros musicais (choro, jazz, clássico, contemporâneo, etc.)
Como foi o processo de escolha dos músicos que participaram das gravações do disco? E mais, como foram os momentos de gravações?
Tive a sorte de contar com artistas (músicos, compositores e fotógrafa) de qualidade reconhecida em suas respectivas áreas.
A formação base, nada convencional, composta de saxofone, clarinete, trompete, violão de sete cordas, percussão erudita e popular só funcionaria no repertório proposto nas mãos de músicos, que assim como eu, buscassem esse encontro de linguagens.
Quando pensei em um trompete, o primeiro som e maneira de tocar que me veio à cabeça foi do meu irmão Marcos Braga, cresci ouvindo muitos solos de Hubbard, Miles e Dizzy, graças a ele.
No clarinete, José Luiz Braz, que dirige e atua em um lindo trabalho de música contemporânea, propondo o diálogo da moderna música brasileira com outras artes (dança, grafite, mímica, poesia).
Gian Correa me presenteou com uma obra linda (uma ideia de samba) e também tocando seu violão de sete cordas! Virtuoso instrumentista e compositor nato. Há muitos anos quando ouvi seus discos incluindo o quarteto de saxofones, propondo uma nova proposta sonora para o choro, tive certeza que ainda participaríamos de algum projeto juntos.
A minha querida amiga Nath Calan na percussão, reconhecida por sua versatilidade musical, atua desde orquestras sinfônicas à bandas de rock, vai do samba a música contemporânea com excelência.
Pra fechar o time, o grande percussionista/baterista Cleber Almeida. Nos conhecemos em uma ocasião rara, interpretando uma obra do mestre Nailor Proveta que incluía a livre improvisação entre saxofones e percussão. Fiquei impressionado com sua maneira única de fazer música.
Temos ainda a participação especial do genial Nailor Proveta, que dispensa apresentações, que me orientou em todo o processo, me dedicou sua composição “Delta” e também me presenteou tocando clarinete na minha composição “Livres Variações”, e do baterista Daniel Silva, amigo que conheci no curso de música da UFMG e que hoje desenvolve intensa atividade musical em Nova Iorque.
No CD ainda conto com a visão urbana e linda da fotógrafa Alle Manzano.
As gravações fluíram como amigos que conversam, evidentemente com uma direção, precisa e fundamental que nos foi dada pelo Felipe Senna, que além da direção musical e mixagem, também nos brindou com sua música Provokationen. E com a masterização feita pelo craque Hometo Lotito.
A criação das faixas do álbum vem de vários compositores, além de músicas autorais suas. O que você tem a dizer sobre as criações que vingaram em “Música livre”?
Quando conversei com os compositores, falei sobre o conceito musical proposto, do diálogo e do encontro. Cada um com sua bagagem falando a respeito com sua música. Provakationen de Felipe Senna, como o nome diz é uma provocação, que utiliza a estética musical contemporânea, porém flertando todo o tempo com a música popular. Em “Delta” de Nailor Proveta, a água é o elemento chave, flui como a foz de um rio, as águas se encontram nessa música. Paisagem “Sonora n.6” de Rodrigo Lima foi a única obra que já estava escrita antes do projeto, em caráter improvisatório, a música se desenvolve de maneira orgânica e sem fronteiras. “Uma ideia de Samba” de Gian Correa, começa com um ostinato que se desenvolve, cresce e desemboca no samba, que assim como foi construído se desconstrói. Escrevi duas obras, “Livres Variações”, que propõe o diálogo da música popular brasileira com a música contemporânea, com momentos de improvisação livre. E a “Sinfonia Urbana de Câmara”, que conta à minha maneira, como foi nascer, crescer e têm sido viver em São Paulo, os movimentos falam do Corpo, da Mente, da Periferia e da Cidade.
A direção musical é do maestro Felipe Senna. O quanto ele acrescentou no resultado final do álbum?
Sou fã do Felipe há muito tempo, tenho o prazer de trabalhar sob sua direção no Ensemble Câmaranóva. Seu trabalho sempre é fantástico, com música popular e erudita, tocando, compondo, regendo e gravando. Sua visão de música é plural, não pensei e não havia outra pessoa senão ele! Sua participação não acrescentou, ela gerou o resultado final!
Acho muito interessante você contar como foi conseguir o patrocínio via ProAC para o projeto “Música ivre”.
Isso se deve a Dani Godoy (minha produtora), que me convenceu a inscrever o projeto no edital. Contei à ela da proposta e ela me disse que deveria inscrever o projeto imediatamente. O patrocínio via lei de incentivo é sempre muito importante para a cultura. Esse apoio me permitiu concretizar essa ideia para o mundo.