5 de novembro de 2024
Álbum Entrevista Música

[ENTREVISTA] Duo Dois é Par lança novo álbum

(Capa do álbum)

 

Nove canções. Duas personalidades, Larissa Muniz e Jefté Salles acima de um álbum calcado em canções de “amorzinho” (como eles dizem), e outras reflexões profundas sobre vida, esperança, amor e desamores.

Um trabalho “sensível” demais, um convite a nove aventuras musicais. O encontro entre Rio e Ceará.

Com produção musical do produtor, arranjador e instrumentista Samuel Silva, o álbum “Dois é Par”, chama muito a atenção, por ser algo diferente, que pouco se vê por aí. Por isso, nós entrevistamos o duo. Esperamos que gostem! Confira a seguir.

 

 

Senti que a palavra “Sensibilidade” define muito bem a sonoridade e a poesia das músicas de “Dois é Par”.

O disco foi todo pensado com muito cuidado, tudo foi proposital. Dos silêncios constrangedores até a escolha do melhor microfone para cada música. Exploramos um universo de texturas, queríamos que cada canção trouxesse uma experiência sensorial ao ouvinte, queríamos que o ouvinte tivesse a sensação de ter Dois é Par cantando no pé do ouvido. A mix e a master seguiu toda essa concepção para que esse sentimento aflorasse em cada música. A gente tentou ser o mais verdadeiro possível na poesia, queríamos que antes de tocar as pessoas pudesse nos tocar e nos transformar. Fizemos um disco para dizer quem somos, e não para atender um mercado ou coisa parecida (apesar de achar válido e legítimo a outras escolha também). Quando a gente fala de amor, a gente fala de todos os possíveis, inclusive os desamores, afinal, faz parte, né? A obra trata de assuntos que o ouvinte ao ouvir pensa: “gente, porque estamos falando e pensando nisso nesse momento? Não deveríamos falar disso na minha sessão de terapia da semana que vem?” [Rs].

 

Vocês dizem ser, além de um encontro musical, também um encontro entre Ceará e Rio. O quanto há dessa mistura no álbum?

Há toda referência de quem somos. “Retalhos”, a faixa mais mpb do disco é a faixa de portfólio para eu conquistar o pai da Larissa [rsrs], pois é o que sempre escutaram a vida inteira morando no Rio. “Simples”, fala do sol no ceará que é minha terra natal além da célula rítmica invisível da música com uma toada mais nordestina. O acordeon em “1+1=2”, “Ciranda” tem um Q circense dos circos de bairro de nossa infância, enfim, creio que tudo conversa com tudo que a gente é.

 

A segunda faixa do disco é composta por uma poesia que demonstra a reflexão de vocês sobre a vida. Nessa música, eu achei incrível o verso “A vida é um voo, não estore o seu balão”. Seria então, “Ciranda” uma canção com qual inspiração para vocês?

Ciranda é uma reflexão profunda sobre a vida, e normalmente o sentimento que nos leva para essas reflexões é a dor. E essa parte da música específica a gente tenta minimamente abordar um assunto muito delicado que é o tema do suicídio. Tanto que a primeira vez que pensamos em fazer um clipe sobre essa música, a ideia que surgiu foi de um personagem que tenta se desfazer de suas dores através da máxima da angústia que é tirar a própria vida, porém, como na época não tínhamos uma estrutura robusta tanto de equipe técnica como recursos propriamente dito, suficiente, para criarmos um clipe onde de forma alguma fosse interpretado a um estímulo à tal ato, achamos por bem abordarmos aquilo que te mantém vivo. E dentro dessa viagem profunda que a música traz, escolhemos falar do que também é latente na composição: o convite para voltarmos a olhar para nossa criança interior e termos um olhar com mais pureza para as coisas que realmente importam na vida, através do quase mantra “brinque antes que cresça”.

 

As nove faixas do álbum são autorais? Se sim, falem pra gente como foram os momentos de composição…

7 faixas são autorais, 1 cover do Jorge e Matheus com os Anjos Cantam e 1+1=2 que foi uma música feita para nós, sobre nossa história pelo nosso irmão compositor Estevão Queiroga. As músicas foram compostas desde quando começamos a nos relacionar. Nenhuma delas surgiu antes. Com isso, fica fácil notar que são todas reflexos de nós mesmos, da nossa história juntos ou separados dentro da ideia de sermos par. Cada uma delas carrega o DNA da nossa história e vê-las dentro de um álbum é quase como antigamente, quando se abria um álbum de fotos de familiar para contar a história de como quando e onde tudo começou.

 

“Simples”, é aquela canção do álbum que fala de amor, mas ao mesmo tempo, vem carregada de introspecção. É isso mesmo?

Falar de introspecção e Dois é Par é quase um pleonasmo [rs]. Apesar de expressarmos nossa melancolia de maneiras diferentes, ambos carregamos a característica da análise seguida de reflexão dos temas mais complexos aos mais simples. Com isso, podemos dizer que Simples é uma poesia que trata da perspectiva do encontro do amor em coisas simples da vida. E o quanto o “simples” não é sinônimo de “simplista” uma vez que tratando-se de amor, nada há que ver com simplificações genéricas.

 

O álbum é muito diferente do que vemos por aí. Nesse sentido, quais são as referências de vocês?

O disco apesar de ser uma obra genuinamente brasileira tem muita referência de música estrangeira, essa mistura traz um sabor diferente deixando a obra ainda mais instigante, sem muito gênero definido se é que pôde-se dizer assim. Ouvimos muito Damien Rice, Lucy Rose, Fink, Oh Wonder, Yann Tiersen, entre outros. A mix e a master tem sonoridades mais fechadas, não tão abertas como normalmente são feitas por aqui. É um verde amarelo com tons mais pastéis [rsrs].

 

“Good Vibes” é uma faixa que traz um tom mais pop ao trabalho, com letra em inglês. Falem sobre essa música, a letra…

Good Vibes foi uma canção feita para todos. Desde quando foi concebida, já tinha essa intenção de “todos cantarem juntos”. Ela reflete bastante um momento praia-setembrista que carregamos no verão nostálgico que habita na gente. No disco, ela tem esse papel mesmo. Todos as músicas tem uma vibe mais contemplativa, essa a gente queria envolver mais o público com o veneninho/sensual saudoso que ela naturalmente traz. Trazer uma roupagem mais conceitual dos anos 70, deu vida ao arranjo final. As referências icônicas de beeges, Tim Maia deixou, a nosso ver, Good Vibes temática e popular.

 

 

Como um todo, o álbum é conceitual?

Não somos defensores do termo “conceitual”. Achamos até um pouco exclusivista e não concordamos que a música precise disso. De qualquer maneira, se o termo for aplicado para definir um álbum que não é pop/rádio/música chiclete, talvez a gente possa concordar. De qualquer maneira, música é feita de forma democrática e vai chegar onde precisa chegar. Independente se a “fórmula” foi pensada ou sentida.

 

Vocês têm alguma(s) história(s) ou curiosidade(s) para nos contar?

  • As capas dos single que compõe o álbum foram todas feitas manualmente com cartolinas. Posicionamos objetos em cima das cartolinas e fotografamos. Tem formas mais fáceis de se criar esse tipo de arte, mas defendemos o orgânico e o “feito à mão” e participar desse processo foi muito significante.
  • Escolhemos não escrever o nome das músicas nas capas dos Singles. A solução foi encontrar objetos que representassem o nome de cada uma. As ideias dos objetos foram nossas, e a arte foi feita pelo design Rodrigo Mendes e finalizados pela diretora de arte Natália Jurioli.

 

  • De 9 lançamentos dos singles lançados, fomos capa do spotify 5 vezes, sendo que 1+1=2 entrou nos virais do Spotify e Good Vibes encabeçou nossa primeira playlist internacional, dividindo espaço com nomes com Lana Del Rey, RadioHead, Beirut.
  • O produtor e arranjador do disco Samuel Silva foi quem nos apresentou pela primeira vez em 2011. Ele tem nos acompanhado desde então. Entendemos que a coesão do disco se deu por essa união de 3 almas que se entendem no olhar e decifrar os sentimentos em melodias tão minimalistas não foi uma dificuldade, foi consequência.
  • Todas as faixas do álbum não ultrapassaram os números de 3 a 4 instrumentos diferentes. As estruturas de arranjo foram sempre montadas com o minimalismo e o “menos é mais” constantemente presente.

 

Fiquem à vontade para falarem algo que eu não perguntei e que vocês gostariam de ter dito.

 

Fizemos um planejamento de 1 ano de lançamento dos singles, a ideia era que cada um deles tivesse vida própria fora do disco, com seu clipe, making of e etc. Tipo uma Anitta, só que sem recursos. [rsrs]

Esse planejamento foi muito importante pois vivemos cada fase de maneira muito intensa, o trabalho foi redobrado também, e isso dificultou um pouco no final, pois acabamos ficando sem recursos para criar esse material todo pra cada música.

Mas foi um processo muito gratificante e  bonito pelas experiências vivenciadas, parcerias de trabalho que construímos pra vida o que nos impulsionou a criar o próximo lançamento que já está pronto. Um EP de 06 faixas que será lançado no segundo semestre. (ops, furo de reportagem). Paramos por aqui. [Haha]

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.