(Foto/Assessoria)
Um trio em combinação e sintonia, e a vontade de sair do comum. É assim que nasceu o EP de estreia da banda Buffalo Lecter, 100% independente e com praticamente todos os processos feitos pelos próprios integrantes, sempre preocupados em gravar um som orgânico e o mais natural possível, ao longo das quatro faixas que compõem o trabalho.
Formada por Jadie Tavares na bateria, Laio Orellana na guitarra e Marcelo Duva no contrabaixo, o grupo entende que o desafio de gravar um álbum dedicado ao rock instrumental é sinônimo de evolução e realização pessoal e profissional..
Esse trabalho contou com a captação do Estúdio Carranca e a edição, mixagem e masterização do estúdio Darkside, ambos em Recife/PE, e foi gravado em uma única sessão e ao vivo, o que lhe confere uma energia única.
TODAS AS RESPOSTAS SÃO DE MARCELO DUVA, BAIXISTA E PRODUTOR DA BANDA.
Como vocês encaram o desafio de levar ao público um som 100% instrumental? De onde vem a inspiração pra esse tipo de música?
Esse desafio é o motor do projeto, se reinventar no rock e se recriar na música instrumental foi o que nos moveu no início do projeto e o que nos mantém na labuta até hoje.
A opção pelo instrumental surgiu muito naturalmente, foi cogitado desde as primeiras conversas antes mesmo de banda sair do papel. A incógnita de que musicalidade alcançaríamos com a proposta instrumental nos seduziu bastante e então decidimos que assim seria, de modo que o projeto efetivamente já começou com a certeza de que seria uma banda de rock instrumental.
Desde então trabalhamos para consolidar essa perspectiva e interagimos muito bem pra cumprir esse propósito. O trio é uma relação intermediada pela música que com muita cumplicidade e trabalho em equipe formou essa coalizão chamada Buffalo Lecter. Seguimos nossa jornada, resistindo na ousadia que é fazer música instrumental a partir de Recife, desafio que é a maior inspiração da banda.
Além disso, explorar a capacidade da música instrumental refletir paisagens, estados de espírito, sentimentos e emoções foi um grande desafio e aprendemos bastante um com o outro no empenho em conjunto para alcançar a musicalidade registrada em nosso primeiro EP.
Nos lançamos ao desafio de se expressar através da mais abstratas das artes, a música em seus elementos essenciais, vetor impõe uma percepção diferente do que ocorre com a comunicação verbal presente na maior parte da música consumida pelo ouvinte médio.
Acreditamos que uma outra experiência também pode ser muito positiva e nossa trajetória é um convite a se permitir a capacidade da música instrumental, no seu potencial de refletir estados de espírito, evidenciar sentimentos, tocar na alma, provocar a imaginação contra a lógica, induzir estados mentais e reportar paisagens.
A música instrumental tem todo esse poder e levar cada vez mais pessoas a se permitirem a experiência de uma música dissociada do texto nos move.
Vocês ficaram mais de um ano imersos nesse projeto. Quais foram os aprendizados e as dificuldades?
Exatamente. Foi nosso primeiro período criativo, bastante profícuo. Aprendemos a nos relacionar musicalmente e a conviver um com outro, foi um período de experimentações e pesquisas fonográficas que teve como resultado tanto nosso primeiro EP, como o repertório que levamos para as apresentações atualmente.
Poderia dizer que as dificuldades e aprendizados concentraram-se nesse primeiro momento na formatação da linguagem, compor música instrumental na nossa leitura demanda bastante movimento aos arranjos, queríamos imprimir dinamismo as nossas composições, bem como desenvolver nossa musicalidade de modo que ela refletisse as influências multifacetárias dos integrantes.
Acho muito interessante o fato do EP ser lançado de forma independente, com praticamente tudo feito por vocês mesmo. Parabéns!
A opção pelo independente confere ao projeto uma liberdade única, muito mais viável hoje do que já foi um dia e aproveitamos esse momento. Além disso, o “faça você mesmo” promove uma interação muito mais sincera e orgânica com os resultados alcançados, permitindo um domínio maior das atividades do projeto e das operações artísticas aos quais a banda se integra.
Nossa trajetória vem sendo trilhada pelo caminho do independente, gostamos muito disso. Sabemos bem que “nem tudo são flores”, mas acreditamos nesse percurso e estamos caminhando ao lado de muita gente arretada que aprecia uma música fora do eixo e de artistas que gostam de sair da zona de conforto, o que nos deixa bastante realizados e com uma crença muito positiva no futuro.
Não dá pra negar que vocês fugiram das amarras e dos padrões…
Atribuo essa característica ao somatório de esforços da banda no sentido de desenvolver uma sonoridade que lhe seja peculiar, de imprimir na nossa música a personalidade da banda sem perder de vista nossas referências, todo esse complexo de influências que permeiam nosso processo criativo e que vem sendo processado dentro da nossa experimentação.
É o exercício de se expressar artisticamente, no fim de tudo. Não se trata de buscar a singularidade pela singularidade, e sim de explorar a habilidade criativa com muita liberdade e fugir da comodidade das fórmulas pré-concebidas.
Nossa música é produto direto dessa liberdade e desse desejo de se lançar a novos desafios sem nada temer, porque composição pra gente é experimentação e liberdade, bem como originalidade tem a ver com o esforço de cada integrante em imprimir sua personalidade nas composições da banda.
Apesar da ausência da poesia, as quatro faixas do EP levam quais mensagens ao público?
De liberdade, de rebeldia, de que somos capazes, de que é urgente acreditar num amanhã em que não seremos obrigados a atender as expectativas de um mundo limitante e de pessoas limitadas.
E assim foi a banda desde os seus primeiros passos, remando contra a maré e buscando expandir os horizontes, alcançar novas possibilidades. A nossa música é um ponto de tensão na subjetividade da interpretação, um convite a relação com o abstrato, um ato contra majoritário.
Vocês têm alguma(s) história(s) ou curiosidade(s) interessante para nos contar referente ao EP?
Algo interessante de compartilhar é que esse EP foi gravado ao vivo e que não levamos ele 100% fechado para o estúdio. Na pré-produção foi definido todo o roteiro e estabelecido o que entraria em estúdio definido e o que seria espaço para improvisação na hora da gravação.
A improvisação não é só um dos métodos de composição que utilizamos, ele é também parte de nossas músicas, trechos abertos que permitem a execução de algo que não foi previamente elaborado.
Então deixamos espaço para a criação em algumas partes do EP que seriam realizadas somente no momento da captação, o que confere a esse registro uma singularidade radical e uma energia que lhe é bastante peculiar.
Entramos no estúdio no início da noite e saímos de madrugada… Nossa maior preocupação era com a execução, porque queríamos demandar da pós o mínimo de edição possível, então tudo tinha que ser preciso na execução, até o improviso, foi muita energia envolvida e valeu super a pena.
Fique à vontade para falarem algo que eu não perguntei e que vocês gostariam de ter dito.
Seria interessante registrar também que a captação das músicas do EP foi realizada no estúdio Carranca, em Recife, sob a responsabilidade técnica de Vinícius Barros Aquino.
Já a edição, a mixagem e a masterização se desenvolveu no Estúdio Darkside, também em Recife, com Diego DoUrdem, músico e produtor fonográfico que acompanha a banda desde os primeiros ensaios e foi muito importante para a construção da sonoridade do EP.
Queríamos alcançar um resultado orgânico, o mais natural possível, um fonograma que refletisse toda a dinâmica, as escolhas de timbres e perspectiva de amplitude que planejávamos soar desde a pré-produção até a captação, e Diego entendeu bem a proposta.