O título dessa reportagem é tão verídica, que não é preciso muito para perceber. Logo na faixa de entrada do disco, podemos perceber o quanto DESASTRE SOLAR é intenso, explosivo, e muito diferente do que costuma-se ver rodando por aí.
DESASTRE SOLAR é uma expressão intensa de quem é Laura Lavieri, que se entrega ao disco como intérprete e claro, a grande idealizadora do projeto.
Composto por 11 faixas de variados compositores, o álbum tem o sentimento de “descoberta” como o mais evidente, segundo a própria cantora. “Descobrir a mim mesma, descobrir o ofício, trabalho, percurso, o desafio que é fazer um disco. Tornar real e material algo que já foi simplesmente uma sensação”, comenta a intérprete.
Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com Laura Lavieri.
Acredito que tem algum conceito bem interessante por trás do nome do álbum, não é?
A primeira coisa que me movimentou em direção a esse nome, foi a descoberta da etimologia da palavra DESASTRE. É sobre a má estrela, um astro sofre um mau encontro. Algo como um meteoro, um big bang. Bom e ruim: valorações tão humanas. o que é bom ou ruim pra uma estrela? no universo, tudo apenas é. E se de uma grande explosão destrutiva nasce toda a possibilidade de vida de um novo planeta, como poderíamos achar ruim tal movimento? O próprio sol que é a fonte de energia de todo nosso sistema, é um caldeirão de explosões desastrosas. Uma depressão, uma frustração, o fim de um amor, muitas vezes podem ser o começo de uma nova felicidade. Em tudo que há vida, há morte em seu avesso.
O álbum contém 11 faixas de diferentes compositores. Como foi fazer essa seleção? O que você levou em conta nesse momento?
Existia o tema, a alegoria central que era o sol. A ideia era que fosse um disco extrovertido, quente, expansivo, explosivo, que firmasse uma identidade. A parte do “desastre” seria contemplada pelas escolhas estéticas (tanto da sonoridade e produção, quanto da parte visual). Então o tema foi um guia central pra todas as decisões, mas as escolhas de repertório essencialmente passam por um crivo muito subjetivo e simples que é se eu posso ou não me apossar da canção, e cantá-la como se fosse minha.
Pra além disso, foi uma escolha que o disco fosse equilibrado entre versões (a importância de recontar historias, com outras interpretações mas as mesmas histórias que compõe nossa cultura) e inéditas (a importância de exaltar os compositores contemporâneos). Algumas vieram indicadas, outras como presentes. Algumas eu encomendei, outras foram descobertas de pesquisas.
Em release, você diz que o sentimento de “descoberta” é um dos maiores e mais abrangentes do álbum. Comente.
Descobrir limites e definições, dar corpo a um trabalho, uma expressão, entendendo quem eu sou e o que quero expressar agora.
Quais são os outros sentimentos de DESASTRE SOLAR?
O sentimento de me apossar do papel de cantora, interprete, e dos meus sentimentos. Finalmente dar voz às minhas emoções (diferente de dar voz às emoções de artistas que me convidavam, ou das canções do Marcelo). É deixar pra trás um momento mais melancólico e contido, nostálgico. Para encarar o sol, uma nova fase, minha identidade que agora se apresenta mais explosiva … e solar.
tem muito sentimento de libertação, por conta de tanta descoberta e definição.
O quanto tem de “Laura Lavieri intérprete” em DESASTRE SOLAR?
Tudo. É um disco de interprete.
interpretar não é somente executar a canção em sua estrutura, mas dar voz a ela, imprimir minha identidade e minha leitura na expressão do personagem ou da trama da canção.
E meu papel de interprete não se limita apenas ao cantar. Começa nas escolhas de repertório, na construção do álbum, como um elemento, com uma narrativa completa, e passa por tudo que envolve essa construção: escolha da banda, dos instrumentos, timbres, definição das estéticas, a forma como iriamos gravar, a arte gráfica inteira, etc…