5 de dezembro de 2024
Entrevista Música

[ENTREVISTA] Mário Wamser embarca questões íntimas e universais no álbum “Incertezão”

(Capa do álbum)

“Incertezão”, o novo álbum de Mário Wamser é uma declaração pro mundo de suas dúvidas, da sua poesia pessoal e universal. 

 

O lançamento do selo Sagitta Records traz a lírica afiada do cantor e compositor mineiro radicado no Rio de Janeiro, acompanhado de músicos experientes e outros letristas de destaque nacional – entre eles, André Prando, Mihay, Mari Blue, Marco Lobo, Federico Puppi e banda Dônica, cujo vocalista, Zé Ibarra, também aparece no single “Um só”.

Wamser amplia a sonoridade apresentada nos singles “Embriagar em BH”, “Engole com angu” e “Um só”, onde explorava contradições, desdenhava de discursos saudosistas e se entregava ao escapismo. Sem desmerecer o passado e mirando na contemporaneidade, o artista entrega um álbum que é um produto de seu tempo. Ao longo de 14 canções, as letras passeiam por questões íntimas e universais, melancólicas e irônicas, refletindo o contexto social e político atual. 

Ao olhar para o panorama da sociedade, Mário provoca contrapontos sem se propor dono da verdade. Após expor a mercantilização da fé (“Putrefato”), a superficialidade dos relacionamentos humanos (“Balada”), o fim do debate entre diferentes pólos políticos (“Vou Mitando”) e abusos psicológicos sofridos por mulheres (“Gaslight”), ele aceita o desconhecido e sentencia: nem tudo é como imaginamos.

‘Incertezão’ é uma palavra inventada que vem trazer o sentido de uma grande incerteza, e ao mesmo tempo um tesão pela dúvida”, traduz Mário, que divide a produção do disco com o violoncelista Federico Puppi, indicado ao Grammy Latino pelo álbum “Guelã”, de Maria Gadú.

Recebendo ainda a participação de instrumentistas convidados como Marco Lobo (percussão), Miguel Miguima (baixo), Lucas Nunes (sintetizador, guitarra) e Pedro Aristides (trombone), “Incertezão” é um álbum construído a muitas mãos que estabelece Mário Wamser como uma voz de frescor e inovação no cenário da nova MPB. 

 

 

Qual o conceito do nome do álbum? O que você quer dizer com “Incertezão”?

Sempre gostei de inventar palavras e essa foi mais uma delas. Brincando com um aumentativo errôneo, ela ganha a conotação de uma grande incerteza e ao mesmo tempo um tesão pela dúvida, significando assim algo muito presente nos discursos textuais deste álbum. 

 

O que este álbum representa para você, para a música brasileira e para o Brasil como um todo?

Pra mim, significa um salto para um ambiente mais moderno, tanto no meu jeito de fazer música, quanto de fazer textos, que abordam agora necessidades mais reais e atuais. Sendo assim, contribuem com análises filosóficas sobre temas mal resolvidos na sociedade.

Sobre sua relevância para a música brasileira e para o Brasil como um todo, seria muita pretensão de minha parte dissertar algo sendo esse trabalho tão novo. É melhor esperarmos um pouco e deixar que a resposta venha de quem ouví-lo. 

 

Ainda na pergunta anterior, como vocês trabalharam as composições e como foi a produção do álbum?

As composições nascem de um processo mais íntimo meu, junto às minhas poucas parcerias presentes no disco e quase sempre já eram levadas para a produção com estruturas bem pensadas pré-álbum.

Sobre a produção do disco, eu já trabalhei inúmeras vezes com o Puppi, somos parceiros em algumas composições no álbum dele também, “Marinheiro de Terra Firme”,  e foi tudo muito tranquilo. Nos permitimos cair em experimentalismos musicais, o que trouxe muito frescor ao álbum como um todo. E tudo isso é fruto das genialidades do Puppi, que além dos cellos, brilha nos maquinários também.

 

 

Quais foram as inspirações para este álbum, musical e poeticamente?

Há muitas inspirações. Poderia dizer que há um resgate de um lado mais rock n’ roll meu em algumas faixas, por exemplo, “Nada pra Comemorar” e “Engole com Angu” trazendo uma sonoridade mais grunge, mais suja. Em outras, como “Um Só”, “Comigo Mesmo” e “Vou Mitando”, mostro concepções mais modernas e eletrônicas vindas talvez de Bjork e Asgeir.

E obviamente, sendo eu um mineiro, o Clube da Esquina sempre aparece como influência nas harmonias e em determinadas escolhas estéticas.

Poeticamente não sei apontar exatamente alguém, mas posso dizer que nele há textos mais diretos.

 

De forma resumida, como você enxerga as letras das canções de Incertezão”?

Se comparadas às letras do meu primeiro disco, temos um choque, onde elas passaram a ser mais provocantes, questionadoras e ácidas neste novo álbum.

 

Você tem alguma(s) história(s) ou curiosidade(s) interessante para nos contar?

Tenho, pra vocês entenderem a sonoridade do álbum, era muito constante escutar a frase dentro do estúdio Ouvido em Pé durante as gravações: “Muito bom, hein? Agora que ficou tudo bonito, bora começar a estragar logo pra chegar onde a gente quer”.

 

Fique à vontade para falar algo que eu não perguntei e que você gostaria de ter dito.

Gostaria de dizer que uma das minhas músicas prediletas do disco se chama “Um Só”. Ela é uma parceria com Tulio Lima, da banda Daparte, e conta com a linda participação de Zé Ibarra, da Banda Dônica, essa também presente na faixa “Gaslight”. Acontecem participações também em “Nada Pra Comemorar” feat André Prando e “Embriagar em BH” feat Mihay. 

 

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.