É de um jeito bem peculiar, e sem amarras, que o músico Gilberto Junior, atualmente conhecido como Vidaincerta, lança o EP PESSOA TÓXICA, que faz grande alusão ao suicídio, problema recorrente em fase depressiva do cantor e compositor. Como era de se esperar, o artista resolveu lançar o trabalho no Setembro Amarelo.
“As pessoas que conviveram comigo tiveram de lidar com o meu pior lado. A depressão me fazia ter uma toxicidade que fugia do meu controle. Ninguém se sente triste ou retraído porque quer ficar desta forma”, comentou o músico.
Pré-produzido pelo vocalista e guitarrista Yago Jacques (Atlante), o trabalho conta com nove faixas ao todo.
Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com o músico.
Por que o Setembro Amarelo, que faz alusão ao suicídio, te inspirou? Você chegou a ter alguma relação com o assunto?
Quando estive com depressão acabei me expondo muito no twitter, falando abertamente sobre o quanto não estava fazendo sentido viver e esse tipo de
tweet costumava ser ignorado pelas mesmas pessoas que em setembro pediam pra todos tivessem atenção com quem está passando por transtornos psicológicos.
Os mesmos que passavam 11 meses do ano compartilhando montagens sobre a importância de se afastar de quem é negativo, de quem nunca está bem, abordando a campanha do setembro amarelo pela lacração em rede social. É muito importante a existência da campanha, a conscientização e a disposição de ajudar a quem precisa, mas nada substitui a ajuda profissional e, como no meu caso, se apegar a uma campanha pra fazer seu perfil bombar aquela semana e mais nada pode só magoar quem está vivendo isso próximo a você.
Você traz algo a acrescentar no álbum, da época em que você era vocalista da Analisando Sara?
O Álbum é o outro lado da moeda do que eu fazia na Analisando Sara, que em dado momento se tornou uma banda quase gospel na pregação em relação a acreditar em um futuro melhor.
Esse nosso trabalho me ajudava muito a me manter focado, a sentir que eu fazia a diferença na vida das pessoas, mas abordava o lado ‘livro de auto ajuda’ da coisa, o meu disco retrata o surto! O PESSOA TÓXICA é o relato de quem viveu a fundo o descontrole, a deriva de não conseguir mais se segurar a nada enquanto o mar de angustia carregava. No lado mais técnico tenho explorado uma região da minha voz que também é o inverso do que estavam acostumados a me ouvir. No rock eu transmitia muito da angustia através do alcance de notas agudas com um tom de desespero, hoje eu procuro reproduzir um sentimento parecido de forma mais pesada, mais densa, que conversa melhor com o que falo no disco.
Além do suicídio, o que mais você retrata nas faixas do álbum?
O Álbum aborda como foi pra mim ser uma pessoa tóxica, como foi destruir laços de anos em minha vida e ter que reaprender a ser eu, aceitando e admitindo todos os meus erros e defeitos até aqui, porém, sabendo identificar tudo que evolui e conquistei no caminho, e mais importante, vivo pra seguir aprendendo e sendo alguém melhor.
Como você chamaria o “som” que você faz em PESSOA TÓXICA?
Eu costumo chamar de trap pra quem é menos envolvido na música associar ao rap de agora, mas o disco tem muito um clima chill out pra contrastar com a mensagem pesada das letras. Na transição de 2017 pra 2018 fiquei viciado em canais com as chamadas mixtapes “simpsonwave”, vaporwave, enquanto também estava começando a ficar mais ligado no cenário nacional, no Konai, no Luiz Lins, o nILL, essa galera com maior exposição em relação a quem tem explorado essas vertentes dentro do hip hop e da música atual. O disco acaba refletindo isso, o fato de 6 dos 7 beats do disco terem a mão do Sérgio Kamada, produtor do disco, ajudou bastante no produto final soar coeso.
É certo que você pretende levar alguma mensagem com o disco. Qual é?
A mensagem do disco é direta pra quem se sente a pessoa tóxica do convívio, você não está sozinho! Você não é um criminoso por se sentir mal, você não é obrigado a acordar amanhã melhor e você não é anormal, você é mais um passando por dificuldades e aqui eu conto abertamente como eu passei e sobrevivi.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o álbum?
A melhor curiosidade relacionada ao disco é que a mensagem de áudio no começo foi enviada por quem realmente me fez escrever a música!
Fique à vontade para falar o que quiser.
Obrigado pelo espaço e a oportunidade de falar um pouco mais sobre o que me levou a por esse trabalho na rua!