(Capa do EP)
O título dessa reportagem é a mais pura realidade de Analuh. A cantora, e também compositora, usa a música como forma de discutir as questões políticas e sociais que rodeiam o Brasil, e quem sabe, até o mundo.
Em sua “retórica musical”, há espaço para a discussão do feminismo, das lutas de classes, do preconceito, da meritocracia, do racismo, e até percebe-se forte influência de karl marx.
De certa forma, também não é diferente na questão musical e rítmica. Analuh desfruta do melhor da música brasileira, resgatando gêneros e pagadas, que de alguma maneira se encontram desvalorizadas.
Um EP interessante, que vai além da música, nos chamou muito a atenção, e por isso, nós entrevistamos Analuh, e ela deu alguns detalhes sobre o EP. Confira logo após o vídeo.
O quanto a sua militância política influenciou na criação do EP “Revela a Ferida”?
A inspiração para a composição das faixas vieram todas devido a estudos sobre política, educação, feminismo, enfim, sobre os mecanismos que constroem nossa sociedade. Acho que é a forma de eu demonstrar minha indignação.
Ainda nessa pergunta, o título do EP tem algo a ver com esse interesse pela política? Qual seu conceito?
A princípio o nome do EP ia ser Cutuca a ferida, porque ela fala das feridas sociais que enfrentamos, ou que pelo menos deveríamos enfrentar. Mas achei que Cutuca não daria certo porque eu não estava cutucando o assunto, eu queria cutucar o ouvinte, falar pra ele: mano isso tá errado, tu vai ficar aí parado? Aí veio revela a ferida.
Em “Revela a Ferida”, você tem a intenção de mostrar alguma realidade ao seu público, como o os problemas sociais, certo?
Sim, a intenção é dar um chacoalhão mesmo. Acho que as composições vêm de todo um processo meu, é uma forma de entender o mundo e ao mesmo tempo desabafar. E conscientizar quem escuta, trazer pra reflexão.
Em “Oh Muleque!”, você faz uma severa crítica a meritocracia. Como esse assunto te inspirou na criação dessa faixa?
A sociedade trata os desiguais como iguais, e valoriza excessos que muitas vezes são desumanos, chamando de esforço. Como se fosse fácil se tornar um grande milionário. E a educação muitas vezes reforça essa ideia, infelizmente. A nossa educação não educa as pessoas para lutar contra o sistema injusto, mas sim pra adequá-lo, engessá-lo e culpa-lo.
Já em “Maquiagem”, você entra na questão da desigualdade entre homens e mulheres…
“Maquiagem” fala de violência mesmo, de misoginia, de feminicidio.
Eu fiquei pensando como deve ser angustiante a vida de uma mulher que sofre violência, e nem só violência física, a música fala de mentira, de ofensa, de abuso. É uma música muito pesada de se cantar, mas penso que é preciso. A gente tá morrendo cara, todos os dias. Estamos evoluindo, mas ainda tem um longo caminho.
De uma forma geral, você é muito inspirada em Marx e na esquerda, pelo menos foi o que percebi no contexto das quatro faixas do EP. Isso tudo é impressão minha?
Não é impressão não (risos). Eu acredito na organização da classe, na luta política, na conscientização. O que vejo é cada vez mais o trabalhador acomodado, e as vezes até legitimando toda a injustiça que ele passa, porque as pessoas acham que não é possível todo mundo ter uma vida digna. Como se fosse natural existir gente que não tem casa digna, que não tem o que comer, que não tem água limpa psra beber. A culpa é sua fala muito disso, dessa culpa que a nossa classe carrega e que não é nossa, é só uma ferramenta pra fazer a gente achar normal manter esse sistema.
Parece ser bem interessante toda essa mistura de ritmos presentes no EP. Fale um pouco sobre isso.
Eu tenho um gosto muito eclético, posso ouvir horas ouvindo um jazz, uma música bem alternativa. Mas também adoro quanto toca um funk, um forrózinho (risos). Os artistas que eu escuto também misturam muito os ritmos, e essa influência veio pro EP. É muito bom fazer uma música e poder misturar baião e rock n Roll.
Fique à vontade para falar algo que eu não perguntei e que você gostaria de ter dito.
Espero que as pessoas ouçam e curtam o EP, meu trabalho depende disso (risos). Mas se o EP conseguir mudar um pouquinho o modo de pensar de alguém, já me sinto de missão cumprida. Obrigada a revista por me ouvir, foi uma honra imensa.