(Crédito: Carol Bergallo)
Uma frase do tipo “Som leve, me leva”, tem tudo haver com a proposta musical do compositor Roberto Barrucho em “Ouvindo Vozes”, álbum que lança o projeto DOSSEL. Com nove faixas autorais e inéditas, o título é certamente sugestivo: várias vozes cantam junto com Roberto; “vozes” interiores, da intuição e da inclinações naturais; e “vozes” exteriores, inspirações sobre acontecimentos do passado que resulta em nosso presente.
A musicalidade de “Ouvindo Vozes” apresenta uma imersão auditiva, guiada por diversas referências da música brasileira, tanto a atual quanto a tradicional. Enquanto isso, a letra dialoga um olhar sensível sobre a natureza e as relações humanas em diferentes contextos.
“Ouvindo Vozes” terá show de lançamento em 30 de agosto, no Sesc Engenho de Dentro (Rio de Janeiro).
SERVIÇO
30 de agosto, às 19h30
Sesc Engenho de Dentro (Av. Amaro Cavalcanti, 1661)
Ingressos de R$2,50 (credenciado Sesc) a R$10 (inteira na bilheteria)
Lista amiga (ingressos a R$5): 2dossel@gmail.com
Evento: Facebook
UMA BOA RAZÃO PARA ESTE LANÇAMENTO
A obra é dedicada ao músico Fernando Grilo, cujo a convivência e trabalhos realizados, assim como a atuação na cidade do Rio de Janeiro, ampliou seus processos de observação das relações interpessoais e deu-lhe um novo olhar para a música, a partir também do histórico de parceria entre os dois artistas – Roberto foi seu produtor, além de produtor técnico e executivo em seus trabalhos. O disco em si é resultado de uma trama de relações profissionais e de amizade oriundas desta relação.
UM POUCO SOBRE O ARTISTA
Barrucho foi produtor cultural e curador no coletivo Norte Comum, à frente de projetos como Geringonça (SESC Tijuca) e Contemporâneos (Funarte). Antes de atuar sob alcunha DOSSEL, seus trabalhos mais conhecidos como compositor foram ao lado de Marcela Vale (Mahmundi), com quem e apresenta mais de 10 canções em parceria. e ganhou, em 2013, o Prêmio Multishow na categoria “Novo Hit”, com “Calor do Amor”.
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A sexta faixa “AMNST” (Roberto Barrucho e Lucas Vasconsellos), expressa uma dor pessoal ou uma dor por o mundo andar mal? Ou seria os dois?
Essa música foi essencial pro início do projeto, a lançamos como o primeiro single. Ela me deu uma motivação imensa pra de fato por o “DOSSEL” na rua, a princípio veio como um recado pra mim mesmo, daquelas coisas que escrevemos como se fosse para não esquecermos. Refletiu um momento mais pessoal e por isso veio com tanta força, com impulso, e necessidade de falar de um sentimento que eu via que abarcava muitas pessoas e reflete o momento que estamos vivendo. Ela é um convite ao sensível, à desacelerar, a olhar pra dentro, pros cantinhos, pra nossa sombra, pro que temos dificuldade de aceitar e cuidar em nós.
A letra de “Canoa Nova” (Roberto Barrucho) é uma verdadeira prece à calma, a paciência e a paz. Estou certo?
Sim, é uma boa forma de ler essa letra. Mas acho que desta maneira fica um pouco simplista, ela é também uma afirmação que – parte de nós, para nós mesmos, que podemos acreditar na nossa maneira de conduzir as coisas, de encontrar uma verdade própria, um propósito, no qual seguimos com a mistura de afinco e tranquilidade. Até na própria impostura de voz que defini para registrar no disco, busquei uma maneira que passasse uma firmeza, em forma recado, um pedido para que cada um encontre essa paz no caminhar, o que definitivamente não é algo fácil ou simples. É um processo dolorido, que então merece celebração ao atravessá-lo.
“Ijexá de Fevereiro” de Carolina Turboli, me parece ser uma declaração de amor ao mar e sua rainha.
Essa canção começou com o próprio ritmo ijexá. Criei um tema no violão no qual eu persegui tocando e criando melodia, cantarolando por um tempo até receber a letra da Carol. Foi uma alegria tremenda esse casamento de letra e melodia, harmonia. O ijexá é um ritmo trazido de Nigéria por nações Yorubá que foram escravizadas e trazidas à Bahia. O ritmo atravessou continente e depois os limites das casas de santo e ganhou as ruas pelos Afoxés, nas ruas da bahia. Então é um tema muito especial, no qual tenho um carinho e cuidado imenso. Ele é dedicado a Iemanjá, mas pede licença a todos orixás cada vez que é tocado.
A próxima faixa, a protagonista é “Guiomar”. Quem é essa personagem? Ou essa personagem foi usada de forma metafórica?
Guiomar é uma personagem real, imensa, na qual passei a ter maior admiração e respeito conforme fui entendendo um pouco mais da história social do Rio de Janeiro. Hesitei em colocar na letra outras coisas que seriam importantes a dizer, no entanto, muito pessoais, apesar de comum à história de muitas famílias que vivem nas comunidades do Rio de Janeiro e todo Brasil. Adicionei um pouco de poesia e fantasia na letra, a coisa foi ganhando uma forma encantada enquanto criava, remete muito à minha infância, ao lugar onde cresci, então realidade e ficção acabam se misturando,
Explica aê a música “Agridoce” (Roberto Barrucho).
“Agridoce” é talvez, a música mais antiga do disco, que sofreu algumas atualizações, tanto rítmicas, quanto na letra. “Agridoce” trata daquela saudade boa, de um tempo que passou, de verões intensos. Onde hoje é o sertão, Cariri, em uma primeira versão o lugar era outro, o Caribe, isso reflete uma necessidade minha de falar das coisas do nosso país, das riquezas nas coisas mais simples e naturais, tradicionais, que muitas vezes são esmagadas pelo modo de vida nas grandes cidades.
Quais as inspirações que vocês tiveram para compor “Matamba” (Roberto Barrucho e Gabriel Marinho).
Comecei essa letra de forma muito íntima, diria até espiritual, ela me veio num momento onde buscava (e ainda busco) desenvolver minha religiosidade. Ela foi tomando forma de um jeito muito natural e até rapidamente, daí compartilhei com o Gabriel, que é um produtor muito próximo, me conhece bem, e tinha certeza que ele sabia do que eu estava falando, ele continuou a letra trazendo mais luz e brilho para faixa, trazendo esperança de novos tempos, não poderia ter completado de forma mais bonita.
“Lasciva” (Roberto Barrucho) tem uma letra com uma pegada bem sexy, eu diria… Comente.
Nessa faixa me permiti me desnudar. Tanto na poesia quanto na forma, mais livre, experimental.
Para mim, a faixa que encerra o álbum pode ser interpretada como o “fim de algo muito importante”. Mas na real, o que essa letra quer dizer?
Essa letra é um poema-presente, veio num momento especial, como o romper de uma barragem, de uma vez só e intensamente, para uma pessoa igualmente especial e importante.
Fiquem à vontade para falarem algo que eu não perguntei e que vocês gostariam ter dito.
O disco é dedicado ao músico Fernando Grilo, com quem minha convivência e pessoal e os trabalhos realizados, assim como a atuação na cidade do Rio de Janeiro, ampliou meus processos de observação das relações interpessoais, e me trouxe também um novo olhar para a própria música. O disco em si é resultado de uma trama de relações profissionais e de amizade oriundas desta relação. Grilo vive em nós.