Gravado em vários lugares e com várias etapas, o novo EP UNIVERSO SEM FIM da banda Paradise Sessions chegou ao Brasil e ao mundo com um amadurecimento musical, tanto nas letras, quanto nos arranjos, instrumentos e melodias. Isso pode ser explicado quando observamos o ultimo álbum CUBO, que tinha mais peso nos arranjos e as letras eram em inglês, e que agora a “coisa” ficou menos complexa e a poesia das músicas pode ser entendida melhor entre nós brasileiros.
Adotando as inúmeras vertentes do reggae, o EP foi produzido pelo famoso vocalista da banda Fresno, Lucas Silveira e mixado por Pedro Garcia, baterista do Planet Hemp. Analisando esses detalhes, fica evidente o quanto o EP é variado em questão de ritmos. A ideia dos integrantes da banda foi trabalhar com alguns estilos musicais de forma mais espontânea, enquanto que Lucas e Pedro deram sua perspectivas às músicas, diferenciando o álbum de muita coisa que se escuta por aí.
A seguir, veja uma entrevista na íntegra com Caio, vocalista e baixista da Paradise Sessions.
Vocês dizem que o novo EP da banda evidencia uma evolução e mudança da Paradise Sessions. Que evolução é essa?
Aqui evolução significa mais uma mudança do que um progresso, mas também pode ser um progresso, pois nos dedicamos como músicos a sempre melhorar nossos conhecimentos e habilidades musicais.
Mas comparando com o nosso álbum anterior, o CUBO, a primeira mudança mais evidente é a das letras que agora são todas em português. Isso determinou uma mudança de atitude na banda, pois agora temos que “dar nossa cara a tapa” e expor nossos pensamentos pros ouvintes do nosso país sem nenhum filtro de língua estrangeira. A mensagem vai direta pro ouvinte de língua portuguesa e isso é legal pelo lado da identificação, que agora se cria mais facilmente. Temos notado isso nos shows principalmente.
De outro lado, a nossa sonoridade também ficou mais objetiva e menos “pesada”, menos rock, com menos distorções de guitarras e mais imersão nos ritmos do reggae. As músicas ficaram com estruturas mais pop, com menos partes e menos riffs virtuosos.
Os 4 integrantes da banda são também os quatro compositores do grupo. Como funciona essa relação de compositores entre vocês neste novo trabalho? E o processo criativo, como aconteceu?
Sim, os 4 integrantes são os compositores. Algumas ideias surgem individualmente, mas tudo passa pelo filtro dos 4, arranjos, estruturas e letras. Basicamente, tem que rolar um OK geral de todos pra todas as partes, mas isso não é rígido. A partir das ideias individuais gravamos uma pré no estúdio do Soneca, nosso tecladista. Fizemos toda pré-produção das músicas nesse estúdio, desenvolvemos mais ou menos umas 20 ideias de sons e mandando pro Lucas em São Paulo pra ele selecionar. Algumas músicas nós tínhamos em inglês, com uma letra provisória ou indefinida e, de acordo com a ideia de escrever letras em português, fomos definindo as temáticas das letras na língua portuguesa.
“O álbum é divertido e apresenta um som original de reggae, rock, ska e dub.”. Gostaria que vocês comentassem essa passagem.
Não queremos dizer com essa frase que nos destacamos pela originalidade sonora, até porque tudo que se produz acaba tendo referências e ter as referências de qualidade é fundamental pro resultado do trabalho ficar sólido. Ao mesmo tempo, todo trabalho busca um determinado nível de originalidade e novidade e eu acho que a Paradise Sessions demonstra isso na mistura dos ritmos que utilizamos. Cada música tem um ritmo diferente, com vocalistas diferentes e isso traz uma dinâmica pro álbum. Nenhuma música é igual, todas apresentam um ritmo levemente diferente, apesar da predominância das variações reggae como o ragga, o dub e um pouco de ska, do qual o reggae é uma variação. Essa mistura é o traço de originalidade do ep e ao mesmo tempo, as músicas são divertidas por serem diversas.
O EP foi produzido por Lucas Silveira, vocalista do Fresno e a mixagem ficou por conta do baterista do Planet Hemp, Pedro Garcia. Como conheceram eles e o que eles proporcionaram ao todo no EP?
A gente acompanha a carreira da Fresno desde o início e temos um amigo em comum com o Lucas Silveira, que é o Iuri. O Iuri sugeriu que eu mandasse o som pro Lucas como uma indicação dele e a partir daí o Lucas ficou ligado na banda e eventualmente compareceu num show nosso. Nesse show conversamos por cima sobre gravar algo com ele produzindo e combinamos o contato assim que o projeto tivesse pronto. Quando começamos a idealizar a gravação do EP, fizemos uma reunião com o Lucas e o Rick, produtor pessoal e do estúdio do Lucas, o Dark Matter, que fica na casa dele em São Paulo. Uns 3 meses depois já estávamos entrando em estúdio em São Paulo.
O Lucas foi determinante em diversos aspectos como a definição das estruturas das músicas, deixando elas com a sonoridade mais objetiva que comentei, mais enxutas. Ele também conseguiu escolher um conjunto de músicas que fizesse uma unidade e demonstrasse bem essas vertentes da banda com o reggae, apesar de não sermos uma banda de reggae roots, por exemplo. Depois disso, fomos definindo arranjos, melodias e letras desses sons até entrar em estúdio, onde o Lucas também modificou alguns arranjos e passou a produzir de fato as músicas, desde a definição dos timbres, a partir de testes, usos de pedais e técnicas digitais disponíveis.
Na produção, o Lucas é muito espontâneo e totalmente sem regras na ordem de gravação dos instrumentos por exemplo. Gravávamos uma guitarra, depois uns teclados, aí uma linha de baixo, e algum take de voz. No meio disso, íamos discutindo e mostrando referências diferentes. Acho que o fato de o Lucas não ouvir muito nossas influências diretas ajudou bastante na troca de referências, pois ele acabou tendo que escutar outros sons e ao mesmo tempo mesclar com as referências que ele trouxe pro EP, como Beck e Radiohead.
O Lucas disse que falou sobre o projeto com o Pedro Garcia em um Festival de Salvador e ele gostou da ideia de mixar, o que pra nós foi muito gratificante já que a gente é bastante fã de Planet Hemp e também dos trabalhos de mixagem do Pedro, principalmente o primeiro álbum do Braza. Acho que o Pedro foi fundamental na mixagem porque ele é totalmente inserido nesse universo dos nossos ritmos e das misturas entre os estilos, então, no fim, ficou um baita trampo.
Geralmente, os EPs contém uma relação entre uma música e outra. Com UNIVERSO SEM FIM, acontece o mesmo? Gostaria que vocês comentasse essa relação entre uma faixa e outra.
A gente tentou guiar um pouco a unidade temática das letras, mas ao mesmo tempo há uma pluralidade de temáticas entre os sons. O que foi mais definido talvez foi o tipo de linguagem que decidimos utilizar nas letras, tentando achar um meio termo entre uma linguagem mais coloquial e um vocabulário mais rebuscado, com uma preocupação de trazer rimas ricas em frases de linguagem objetiva, mas com bastante significado. Em Mureta, por exemplo, “Eu vou buscar/onde estiver/ficar em paz/num lugar qualquer” é uma maneira poética e simples de dizer que se está na busca de um equilíbrio mental e vital não importa onde se esteja. E assim, poderíamos dar outros exemplos, mas é legal cada um achar por si e viajar nas interpretações.
A capa do álbum tem alguma relação com a ideia das 6 faixas do EP?
Na realidade, a capa do álbum surgiu de uma das nossas sessões de fotos. O Rafa Rocha, que fez a direção de arte do álbum e a nova identidade visual da banda, teve a ideia de fazer fotos no deserto, com simplesmente uma placa laranja gigante atrás da banda. Essa placa laranja eram formadas por 4 placas de madeira que tivemos que levar por alguns kilômetros nas dunas. A capa surgiu depois dessa sessão de fotos. As mãos representam o esforço de carregar o material necessário para se atingir o objetivo e o fato de na capa as placas estarem sendo sustentadas sem contato direto pode representar a superação e o domínio de uma situação desafiadora que agora está em equilíbrio. Mas essa é só uma das interpretações possíveis.