5 de dezembro de 2024
Música

Ícones do rock progressivo instrumental nos anos 1980, Vitral volta em 2018 com novo CD [ENTREVISTA]

Crédito – GABRIEL SKINNER

 

Raridade. Podemos considerar assim o que aconteceu com a banda VITRAL. Formada no início dos anos 80, o grupo liderado por Eduardo Aguilar, voltou à cena, e logo de cara, com um CD novo, contendo 3 faixas, PETALA DE SANGUE, ENTRE AS ESTRELAS e VITRAL (que dá nome ao conjunto).

A banda sempre foi diferenciada, principalmente por produzir o pouco usual no Brasil, o rock progressivo instrumental. Foi depois de achar alguns registros (que deram muito trabalho para serem organizados), que a Vitral teve novos rumos, apesar de que apenas 2 dos integrantes da banda original fazem parte hoje do novo projeto.

“Sabemos que é um grande desafio fazer música progressiva no Brasil, e quanto mais um trabalho totalmente instrumental. Mas, estamos prontos para o desafio. E este desafio está sendo muito prazeroso.”, comentou Luiz Zamith, guitarrista da banda.

 

Para ouvir o CD, clique aqui.

 

Abaixo, você confere um teaser do CD.

 

Para começar a nossa entrevista, nos diga como foi a interrupção da banda. Por que isso aconteceu? Tem algo a ver com o estilo musical de vocês?

Eduardo Aguillar – O VITRAL surgiu no início dos anos 80 de forma despretensiosa. Éramos amigos músicos e estávamos sempre juntos. Aos poucos as composições foram chegando, o que era ‘levar um som’ passou a ter jeito de ensaio, a música VITRAL foi composta e seu nome foi adotado pelo grupo. Fizemos alguns shows e o tempo começou a ficar escasso para todos devido ao trabalho de cada um e aos rumos que a vida estava nos conduzindo. Foi uma época maravilhosa e guardo muito boas lembranças.

 

Foi por meio de alguns registros encontrados por Eduardo Aguillar, que vocês tiveram a ideia de retomar a banda. Quais registros foram esses?

Eduardo Aguillar – Em 2014, eu atualizei o arranjo e gravei a música VITRAL, um tema simples que ainda se mantinha presente na memória. Acredito que isso tenha marcado o recomeço da banda. A ideia de produzir um álbum com as músicas que eu havia composto na época estava nascendo. Eu havia ficado mais de vinte anos distante da música, mas havia resolvido retomar aos poucos o que eu havia deixado para trás. Enfim, em 2016, encontrei em uma pasta guardada que resistiu às minhas muitas mudanças, trechos de partituras, algumas fitas K-7 com gravações domésticas da época e até mesmo a logo original da banda. Era o sinal que faltava. Estava na hora de começar os trabalhos.

 

E como encontrarão eles? Em que estado estavam? De que época se tratava?

Eduardo Aguillar – Eram fragmentos de partituras, muitas fora de ordem e sem marcação de página. Foi um verdadeiro quebra-cabeça arqueológico.

Havíamos realizado um show que alguma boa alma resolveu gravar. Alex Benigno, um dos músicos fundadores da banda, conseguiu resgatar esse material e eu guardei. Outras fitas também tinham registros de mais algumas músicas, sendo que muitas já com partes consumidas pelo tempo. Colocar tudo em ordem e resolver como trabalhar esse material foi um belo desafio.

 

Inicialmente, você teve a ideia de tocar as músicas em carreira solo, mas acabou decidindo unir a galera da banda. Como foi tomar essa decisão e por que dela?

Eduardo Aguillar – Sempre tive muito carinho pela música e por todos do VITRAL. Definitivamente, foi uma das maiores e melhores experiências que já tive. Quando comecei a colocar o material em ordem pensei na possibilidade da participação dos antigos integrantes. Afinal, não custava tentar. Elisa Wiermann, tecladista da formação original, estava envolvida em outros projetos além do seu magnífico trabalho com o Quaterna Réquiem e não teve como participar. Os guitarristas Alex Benigno e Luis Bahia chegaram a embarcar no projeto, mas com agenda complicada para investir na jornada. Claudio Dantas, baterista, embarcou de primeira e demos início às gravações de baixo, bateria e teclados.

 

 

Qual foi o maior desafio em retomar com a banda?

Eduardo Aguillar – Na verdade não existia inicialmente a ideia de retomar a banda. Eu pensava apenas em registrar com a qualidade que hoje a tecnologia nos proporciona aquelas músicas que ficaram perdidas e praticamente esquecidas. Quando estávamos finalizando essa primeira fase das gravações, o Claudio veio com essa ideia que, confesso, me pegou de surpresa. Já eram mais de vinte anos sem pisar em um palco e pensar em toda a logística que implica em uma apresentação de uma banda me deixava meio perdido. Mas, aos poucos, fomos nos organizando, entrando em contato com músicos, explicando a proposta e hoje o VITRAL, além de uma banda, mantém seu objetivo inicial de ser um grupo de amigos acreditando em uma mesma proposta.

 

E o que essa banda de hoje tem de diferente daquela formada nos anos 80?

Eduardo Aguillar Acredito que hoje somos mais objetivos. Todos temos outros compromissos que tomam tempo, inclusive com trabalhos solos, outras bandas e até mesmo com orquestra. Aceitamos o desafio de acrescentarmos o VITRAL as nossas vidas e estamos empenhados em executar e divulgar o máximo possível o trabalho que acreditamos mesmo em um cenário musical tão difícil.

Luiz Zamith – A banda com 2/5 da sua formação original remanescente da década de 80 consideramos que esta nova formação, com as suas características próprias e de cada um dos músicos envolvidos está trilhando um caminho totalmente novo para o VITRAL.

 

De uma maneira geral, como é o disco ENTRE AS ESTRELAS?

Luiz Zamith – Embora as muitas influências do progressivo mundial estejam presentes nas faixas do disco, o que achamos bem interessante é que o VITRAL consegue neste CD desenvolver uma linguagem própria e bem característica, e isto achamos fundamental no cenário progressivo atual. Ter as referências sim, mas trilhar novos caminhos. O fato do CD ser todo instrumental e com uma suíte longa exige uma atenção e cumplicidade dos ouvintes, mas estamos apostando nisto. Outro ponto que gostaríamos de ressaltar é que, apesar de ser um trabalho instrumental, as músicas do ENTRE AS ESTRELAS não seguem o formato de base e improviso. Consideramos que a concepção sinfônica esteja muito presente no trabalho, pois os temas apresentados pelos diferentes instrumentos se interconectam harmonicamente alternando climas muito contrastantes e isto permite que o ouvinte “viaje” ao longo das faixas. Prezamos muito a escolha de timbres para permitir que a música flua sem cansar o ouvinte. E somos extremamente comedidos quanto a virtuosismos desnecessários.

 

Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva tudo isso?

Luiz Zamith – O Eduardo foi muito competente em persuadir todos os integrantes para embarcar neste projeto (muitos risos!). 

 

Se tiverem algum ponto específico não abordado nas perguntas, fiquem à vontade para falarem o que quiserem.

Luiz Zamith – Gostaria de destacar o espírito de equipe que existe no VITRAL, o companheirismo e a cumplicidade entre todos nós músicos, produtor ( Vértice Cultural), gravadoras (Masque Records e BeProg), e todos os apoiadores que estão sendo fundamental para que o tudo esteja dando certo neste início de carreira e retomada do VITRAL.

 

Formação de 1984

 

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.