Luis Caldeira / Divulgação.
No exterior, talvez o Brasil seja bastante estereotipado, algo comum, na verdade, em todos os lugares do mundo para com todos as nações. Porém, um estadunidense chamado Michael Anthony Lahue encontrou no Brasil um aconchego. Um lar que se resumido se dá na música popular brasileira, a nossa querida MPB.
Ele é pianista, cantor, compositor e produtor musical, e entre vindas e idas entre o Brasil e sua terra natal, já se considera um estudioso dos ritmos e mitos do nosso país, além de um declarado apaixonado pelos costumes brasileiríssimos.
No entanto, não apenas estudioso e entusiasta, mas também um artista completo, que faz de gêneros como o samba e a bossa nova os seus alicerces nas plataformas digitais de música, local onde se encontra sua discografia.
Seu mais recente lançamento é “Amor Bamba”, single que traduz seu intenso amor pela cultura brasileira.
Essa história nos chamou a atenção, e por isso conversamos com Michael. A entrevista você confere a seguir.
Matheus luzi – O quê fez com que você se apaixonasse pelo nosso Brasil e seus ritmos?
Michael Anthony Lahue – Durante a faculdade eu fiz intercâmbio por um ano na Europa e tive a oportunidade de assistir vários shows de artistas brasileiros, inclusive no Montreux Jazz Festival na Suíça. De volta nos EUA, escutando um festival de Bossa Nova na rádio, me apaixonei pelo ritmo. Também fui atraído pela presença dos ritmos africanos na música brasileira que eu já estava integrando na minha música no piano, resultado dos meus estudos de percussão em Gana, na África Ocidental.
Matheus Luzi – A pegada rítmica dos brasileiros se diferencia, até que ponto, da música estadunidense?
Michael Anthony Lahue – Na música popular das Américas, temos a herança rítmica oriunda da África. As tradições que foram reprimidas ao longo de séculos tomaram novas formas, um pouco diferente em cada lugar devido a vários fatores culturais e demográficos. Mas este legado musical faz parte da vida de todos nós. Acho que a maior ligação entre a música popular no Brasil e a nos EUA é a presença da espiritualidade africana que hoje se manifesta através da música secular.
Matheus Luzi – No Brasil e em seu país natal, como seu trabalho brasileiríssimo tem sido recebido?
Michael Anthony Lahue – Minha produção musical sempre foi voltada ao público brasileiro. A língua portuguesa e as referências culturais nas canções requerem ouvintes que conhecem e vivenciaram a cultura brasileira. Os profissionais que já participaram nas produções respeitam o meu trabalho, sejam americanos ou brasileiros. E os brasileiros que conhecem minha música adoram o resultado, mas às vezes não acreditam que não sou brasileiro.
Matheus Luzi – Na questão musical, poética e cultural do Brasil, o que mais te atrai?
Michael Anthony Lahue – No início eu pensava que a música brasileira se resumia em determinados ritmos. Mas conforme eu fui conhecendo vários estilos de música no Brasil e estudando a MPB, eu descobri que era muito mais. A música brasileira é uma língua e cada ritmo é como se fosse um dialeto ou um sotaque regional. E para tocar o coração dos ouvintes, a música precisa ter relevância cultural e transmitir sentidos e emoções. Foi trabalhoso chegar neste ponto com minhas composições, de compreender, sentir e expressar o afeto brasileiro, que foi o aspecto cultural mais marcante pra mim.
Matheus Luzi – Ao iniciar o projeto musical destinado à música brasileira, quais desafios você encontrou?
Michael Anthony Lahue – Antes de produzir MPB eu tinha composto muitas canções em inglês, e depois em português como prática. Também me dediquei ao estudo da língua portuguesa, como eu tinha feito com outras línguas antes. É importante aprender como escrever bem em uma língua, e depois fica mais fácil aplicar as técnicas em outras. O maior desafio técnico foi aprender como cantar em português, a maneira de ligar as sílabas e as frases com a melodia.
Matheus Luzi – Como os norte-americanos enxergam a música brasileira? Acredito que haja inúmeros estereótipos. Estou certo?
Michael Anthony Lahue – Primeiro, muitos americanos acham que no Brasil se fala espanhol. Segundo, eles tendem a confundir o país de origem de cada um dos ritmos da américa latina. Mas hoje, com uma população bem diversa e muitos latinos morando nos EUA, tem mais conscientização cultural. Bossa Nova e Samba são os ritmos mais conhecidos, enquanto muitos outros estilos musicais são desconhecidos fora do Brasil.
Matheus Luzi – Resuma os seus lançamentos anteriores, nesta fase voltada à música brasileira.
Michael Anthony Lahue – Tenho mais de 50 faixas nas plataformas digitais com 2 álbuns, 4 EPs e dez singles. A MPB sempre foi minha principal linguagem musical, como é o caso do meu novo EP “Acreditar no Amor”. E recentemente comecei a produzir uma série de sambas, inclusive meu novo single “Amor Bamba”. Minhas letras tecem histórias da minha vida em cada canção, feitas com muito carinho.
Matheus Luzi – E daqui para frente, o que você prepara?
Michael Anthony Lahue – Tenho um cronograma bem amplo de novas produções musicais a serem realizadas, mas atualmente estou focado em aumentar a visibilidade dos lançamentos já existentes. Meu novo site (michaelanthony.com.br) é o local que resume minha música e vários outros projetos que estou desenvolvendo. Meu selo independente, Arabutã World Music (arabutaworldmusic.com – site a ser lançado neste mês), tem o objetivo de valorizar e levar a música brasileira para todo o mundo, impulsionando a carreira de artistas independentes.
Matheus Luzi – Você tem alguma(s) história(s) ou curiosidade(s) interessante(s) que queira destacar?
Michael Anthony Lahue – Além de ser cantautor, sou musicoterapeuta, formado no Brasil e nos EUA, e trabalho em dois hospitais psiquiátricos. Também tenho um consultório online de teleterapia, um trabalho focado no bem-estar de pessoas criativas, em que eu ajudo músicos e profissionais das artes performativas a realizarem seu potencial através de um método multimodal que inclui musicoterapia, yoga, e medicina comportamental (performerwellness.com – site a ser lançado neste mês).
Matheus Luzi – Sinta-se à vontade para falar o que quiser, em tom de despedida.
Michael Anthony Lahue – A música pra mim sempre foi um meio de cura, um refúgio e canal de expressão criativa e emocional. E assim, procuro transmitir o poder de cura da música através das minhas canções, compartilhando minha vida com o público. Esta conversa musical continua nas redes sociais e futuramente ao vivo nos palcos do Brasil. (instagram.com/michaelanthonylahue)