12 de setembro de 2024
Música

Música alternativa, define muito bem o novo disco da banda Folk Como Ocê Gosta [ENTREVISTA]

 

Entre várias situações surgiu o álbum COLHEITA OU SORTE SINGULAR, que aborda vários estilos musicais, como o rock rural, e também com influências de Raul Seixas, Legião Urbana, Mutantes, entre tantos outros.

O álbum, que na verdade, era pra ser um EP inicialmente, acabou virando uma coletânea com 11 canções originais compostas entre saraus e conversas por telefone, outras resgatadas, por não resistirem ao rascunho.

 

Veja abaixo, uma entrevista especial que fizemos com os integrantes da banda:

 

 

Me parece que o processo criativo do álbum foi bem interessante…

PAULO: Foi um momento de fixar além da nossa amizade um verdadeiro laço de família. O folk como ocê gosta simboliza tudo o que há de bom entre nós quatro. Temos nossas diferenças, e no processo de gravação até essas diferenças se mostraram importantes para definir com precisão nossa identidade.

GLAUCIO: Algumas faixas já tinham história, o Paulo Garciia gravou ONTEM, COLHEITA e PEÇO AO MAR em discos que ele lançou no passado. O Rodrigo compôs CASAL DE IDOSOS para um trabalho solo, mas a música acabou indo pro disco da banda, a gente já tocava ela nos shows. Outras canções foram compostas para o sarau onde a gente se encontrava semanalmente. Que era o intuito desses encontros, apresentar músicas autorais, e isso estimulou muito as criações – foi o começo de tudo! Inicialmente fazíamos apresentações individuais, cada um com seu repertório, aos poucos um começou a acompanhar e participar do set do outro e a coisa tomou forma e virou banda.

Tem músicas que se transformaram no estúdio, chegaram de um jeito que funcionava quando foram compostas mas não conversavam com o disco, e no processo de produção ficaram com outra cara.

 

Vários encontros: isso mostra muito sobre o disco, não é?

PAULO: Sim, e fica fácil de explicar algumas composições como AQUELA CONVERSA, Ô DE CASA e VIVER É SIMPLES, músicas que falam exatamente de nossos encontros e conversas sobre onde chegar com nossa música, com nossas ideias.

ROBERT: O Folk Como Ocê Gosta surgiu de parcerias e de encontros de compositores, aconteceu essa conexão e as músicas foram surgindo. As experiências que tivemos, a cumplicidade e vivências foram a base para as criações e posteriormente o disco.

GLAUCIO: O álbum abre com a faixa AQUELA CONVERSA que retrata bem o início de tudo. Certa vez o Paulo encontrou o Rodrigo e combinaram uma ida ao estúdio pra tomar um café e falar da vida. Daí muita coisa aconteceu.

Diferente de bandas que se formaram entre amigos de escola, de infância, vizinhos de rua, a gente acabou se encontrando já em uma época madura da vida, todos já tínhamos envolvimento com a música, o Paulo Garciia já está há mais de 20 anos na profissão, o Robert Sinclair e o Rodrigo Oliveira vieram de outras bandas, eu venho da comunicação mas sempre estive envolvido no meio musical. Acabou que nos tornamos banda sem querer.

A participações também vieram de encontros, o Ivan Marcio, um cara que é referência nacional na gaita, tivemos o imenso prazer de conhecê-lo, dividir o palco com ele e o luxo de tê-lo como participação no disco, assim como o Tatá Aeroplano de quem eu sou fã há tantos anos, nos tornamos amigos e ele gravou PEÇO AO MAR com a gente, e o Hugo Alves que de admiradores viramos parceiros de estrada.

 

O que quer dizer o nome do álbum COLHEITA OU SORTE SINGULAR?

GLAUCIO: Toda colheita é resultado de aposta, zelo, dedicação. A gente colocou toda nossa verdade nesse disco e quando ficou pronto percebemos que estávamos colhendo o fruto de muito trabalho e cuidado. E a música COLHEITA, que era do repertório do Paulo Garciia, tornou-se muito representativa nos nossos shows, foi nosso primeiro web clipe também.

SORTE SINGULAR do Rodrigo Oliveira, foi a primeira música feita exclusivamente pra entrar no álbum. E pensando no significado da palavra, “sorte” é algo que acontece pelo acaso, um dom, diferente de “colheita”.

Eu sempre gostei de discos com dois nomes, TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENCIS, ANDO MEIO DESLIGADO OU A DIVINA COMÉDIA dos Mutantes, A TEMPESTADE OU O LIVRO DOS DIAS da Legião Urbana, dei a ideia e os caras curtiram, COLHEITA OU SORTE SINGULAR é charmoso, é um nome forte e fez sentido para o disco.

ROBERT: As duas canções COLHEITA e SORTE SINGULAR refletem muito tudo que aconteceu com a banda até agora. Só colhemos algo bom se plantarmos com carinho e dedicação, e tudo que fizemos até o momento fizemos com amor e verdade. Tivemos a sorte de ter tantas pessoas que de alguma forma apoiam o FCOG, cantam nossas músicas… e isso é resultado desse sentimento bom que estamos plantamos nas pessoas.

PAULO: Ironicamente o nome do álbum também retrata um pouco do cenário atual da música comercial, COLHEITA através de investimentos pesados em mídias ou SORTE SINGULAR que seriam resultados espontâneos.

 

Por que vocês dizem que o álbum não foi feito com pretensões?

ROBERT: Dizemos pelo fato que no FCOG nada foi planejado, foi algo que nasceu naturalmente, sem pretensão alguma, só queríamos que nossas músicas fossem ouvidas.

PAULO: Ele não foi “estratejado”, as criações, os arranjos e as composições foram aparecendo de forma muito natural. Uma das maiores curiosidades sobre o FCOG é que nem a banda era intenção nossa. Tínhamos um grupo de amigos que se reunia uma vez por semana para se apresentar em um bar, nesses encontros começamos a fazer uma espécie de batalha para trazer novas composições todas as semanas. Quando a gente percebeu já estávamos tocando juntos e já sabíamos as músicas um do outro.

GLAUCIO: Na verdade temos muitas pretensões com esse trabalho…rs. A gente quer que ele chegue ao maior número de pessoas possível, que seja ouvido e entendido com toda a verdade que tá impressa ali.

Nosso encontro foi um mero acaso, mas em meio a isso as canções pediam pra ser ouvidas, as composições vinham e pediam pra ser externadas pro mundo. Levamos mais de um ano gravando o disco, a falta de pretensão tá aí. Enquanto gravávamos não tínhamos a preocupação de estar criando uma obra clássica da música brasileira, tudo fluiu de forma muito natural, mas se a gente figurar entre os 10 mais ouvidos do ano a gente vai ficar muito feliz! Rs

 

Como é o disco musicalmente?

PAULO: Tem uma forte influência de timbres e temas dos rock rurais dos anos 70, uma mão muito pesada de Secos e Molhados, Sá & Guarabira, Raul Seixas e Mutantes. Existem momentos no disco em que o rock brasileiro fala alto flertando com o Clube da Esquina, Nando Reis, e uma pitada regional de Almir Sater, Renato Teixeira e Paulo Simões.

ROBERT: O álbum é um resgate à produção orgânica, os elementos envolvidos foram gravados de forma simples e natural, “sem firulas”, para que as pessoas possam sentir a essência de cada acorde.

GLAUCIO: É um disco de rock rural mesmo, com sotaque de “porrrta, portêra”… nossa raiz é essa! Viemos do interior, gostamos do mato, temos essa vivência e essa cultura caipira no dia dia, o disco traz toda essa mistura, de Neil Young a Tião Carreiro. É muito plural, é pra cima, é pra bater o pé no chão, pra curtir na estrada.

Nossa escola principal é o rock. Esse passeio pelo folk foi despertado pelo Paulo Garciia. É um gênero que já estava inerente em cada um de nós e a gente meio que não percebia, a gente sempre foi folk, já tava tudo alí, no som que a gente fazia, nos artistas que a gente ouvia. O álbum é resultado de tudo isso.

RODRIGO: É um disco de melodias simples que remetem à roda de viola e conversa entre amigos.

 

 

E poeticamente?

PAULO: Temos quatro sonhadores dentro do FCOG, e isso basta para a poesia brotar. A cada música finalizada parecia que estávamos concluindo um trabalho pesado, de tanta satisfação. Essa é a sensação quando se deixa o coração falar e se consegue traduzir todos esses sentimentos em canção!

GLAUCIO: A maioria das composições é do Paulo Garciia e do Rodrigo Oliveira que são os poetas e que trazem essa coisa lírica pro disco. É a visão poética do dia dia, da beleza de uma flor, do calor de um abraço, de sentir a brisa e de pisar na grama, um café com os amigos. É o modo como a gente percebe a vida e isso acaba permeando nossas canções. Tem poesia até em música de protesto como em OS PUNKS VIRARAM HIPPIES.

RODRIGO: Cada um tem suas influências e sentimentos que vão da inocência de canções que falam de amor ao caos de canções que remetem à dor e à solidão, é uma grande viagem ouvi-lo do início ao fim.

 

A gravação e produção, como foram?

PAULO: Tudo aconteceu no prazo de quase 18 meses, foi entre os saraus, o coletivo e a formação da banda. As músicas naturalmente ganharam clima, corpo e intenções durante as gravações.

GLAUCIO: Inicialmente era pra ser um EP, que acabamos lançando com 3 faixas (OS PUNKS VIRARAM HIPPIES, ONTEM e COLHEITA), no meio disso também veio um single (SAMBA PRA ANA). Decidimos lançar o álbum com 8 faixas e no final saiu com 11. Tudo foi registrado no estúdio Na Casa que é do Paulo Garciia, o que nos deu certa liberdade e tempo pra deixar tudo como queríamos. Em meio aos shows e outras atividades nos encontrávamos semanalmente para gravar. Tudo na raça, produção da própria banda, gravação, mixagem e masterização do Paulo. Desse modo o disco acabou ficando exatamente como a gente queria.

Tivemos as participações especiais de Ivan Marcio abrindo o disco com sua gaita em AQUELA CONVERSA, Hugo Alves que cantou COLHEITA e Tatá Aeroplano em PEÇO AO MAR, cantando e declamando um verso do Paulo Garciia.

 

Fale mais sobre (coisas que eu não perguntei, e que você gostaria de ter dito).

GLAUCIO: COLHEITA OU SORTE SINGULAR é um álbum cheio de verdade, é um recorte desse nosso momento como pessoas, como artistas, como banda. É o registro de quatro caras que se encontraram na vida e na arte e decidiram fazer música juntos, pegar estrada juntos, dividir os perrengues, e rir muito. E tomar muito café. rs

 

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.